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Anadia // Avelãs de Cima // Bairrada  

Avelãs de Cima: Generosidade de beneméritos devolve dignidade à capela de Nossa Senhora das Neves

Data do século XVI e é uma das capelas mais bonitas do concelho de Anadia. Classificada, em 2002, pelo Ministério da Cultura como imóvel de interesse público, este pequeno templo tem, nos últimos anos, sido alvo de profundas obras de reabilitação que, a pouco e pouco, lhe têm devolvido a beleza e a dignidade que perdera com o passar dos anos e com a falta de manutenção.
Obras possíveis graças a uma benemérita muito especial, que não sendo do concelho, já doou dezenas de milhares de euros para a sua recuperação. Aqui já foram gastos cerca de 50 mil euros nos últimos três anos, garante a JB Rosa Tomás, da comissão zeladora da capela.
A benemérita, que prefere o anonimato, professora do ensino básico aposentada, reside no norte do país e o seu apego com este templo prende-se com o facto de ser afilhada de batismo de N.ª Senhora das Neves, mas também como uma forma de homenagear o seu pai que nasceu numa pequena localidade em que a padroeira era precisamente Nossa Senhora das Neves.
Depois de passar por esta capela, há uns anos atrás, decidiu ajudar a recuperá-lo, tal o estado de degradação em que se encontrava. As obras iniciaram-se por aquilo que lhe saltou à vista quando entrou no tempo – o altar.
Uma equipa da Universidade Católica Portuguesa restaurou-o, devolvendo-lhe todo o seu esplendor. Só nesta obra foram gastos 25 mil euros, inteiramente suportados por esta benemérita, que também arcou com os custos envolvendo a colocação de oito novos vitrais, que vieram dar um colorido e luminosidade diferente ao templo. O altar e o ambão em pedra, colocados há dois anos, foram também uma oferta sua.
De lá para cá, as obras não mais pararam e todos os trabalhos coordenados por uma comissão zeladora (Rosa Tomás, Zulmira Castanheira e Jorge Ferreira), nomeada pelo Bispo de Aveiro, têm merecido o apoio incondicional e ímpar desta benemérita.
Seguiu-se a substituição de todo o telhado, em 2013, uma obra imprescindível por causa da humidade e das infiltrações no interior do tempo, também inteiramente suportados pela benemérita.
A pequena sacristia localizada na parte detrás do altar, que estava em terra batida, foi também recuperada, com colocação de pavimento oferecido por uma empresa cerêmica da Candieira e suportada pela dita senhora. Neste espaço onde se guardam alguns objetos para manutenção do templo, também Carlos Calado, da carpintaria da Cêrca, ofereceu um móvel e prateleiras.
As imagens originais do templo furtadas há muitos anos, incluindo a de N.ª Senhora das Neves, obrigou à aquisição de novas imagens, graças a outros benfeitores que se juntaram a esta causa. Um emigrante ofereceu a imagem de S. Judas Tadeu. As imagens de Santo Estêvão (2013) e de São Bento (2014) foram oferecidas pela grande benemérita da capela, que também contribuiu para a recuperação da eremida original, incluindo os azulejos do século XVII.
Mais recentemente, o casal Manuel e Dilma Tomé, radicados durante décadas nos EUA, ofereceram a pintura exterior do templo. Foram gastos 1500 euros nesta beneficiação levada a cabo no último ano. Agora, com a cara lavada, a capela vai ser toda pintada por dentro, uma vez mais graças à afilhada de N.ª Senhora das Neves. Uma beneficiação que vai implicar a substituição da instalação elétrica com colocação de um quadro independente (até agora a luz era paga por um privado). A pintura deverá estar concluída antes da Festa da Padroeira, que se celebra a 2 de agosto, mas que vai decorrer no dia 5 de agosto.

Fonte e parque de merendas recuperados

A capela de N.ª Senhora das Neves é conhecida também pelo espaço exterior que a rodeia. Único e de uma beleza natural extraordinária, o parque de merendas e fonte datada do século XVI parecem retiradas de um conto de fadas. A precisar de urgente reabilitação, todo este espaço deverá, em breve, ter um outro aspeto, mais limpo e asseado, com ajuda da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Anadia.
Mas também os melhoramentos no exterior se devem a beneméritos e à generosidade de amigos. Por exemplo, toda a tubagem que permitiu a ligação da água da rede à fonte, cujas águas eram conhecidas por serem milagrosas, mas que entretanto secou, só foi possível graças a um amigo emigrante que pagou essa beneficiação. Agora, a boa vontade de uma vizinha – Fátima Duarte – vai possibilitar fazer a ligação de água de uma nascente localizada na sua propriedade para a fonte.
Também ao nível exterior, a comissão zeladora que providenciara a colocação de rega automática para que a zona envolvente ao templo se mantenha sempre verde, está agora a proceder à colocação de uma proteção para que a água da rega não bata diretamente no imóvel.
Mas neste frondoso jardim vai também ser iniciada a construção de uma churrasqueira de apoio às várias mesas e bancos (que também serão alvo de recuperação) que embelezam o parque que liga à belíssima fonte do século XVI.
Melhoramentos que deverão estar concluídos em breve.
No exterior e porque este espaço é bastante procurado no verão para piqueniques em família, futuramente será aqui colocado um parque infantil.

Afilhada e devota tem sido a mais generosa de todos os beneméritos

Reside no norte e é afilhada de Nossa Senhora das Neves assim, como sua grande devota. Uma ligação tão forte que a impeliu a ajudar no restauro do templo. “Está lindíssima”, revela a JB, admitindo que “tive muita sorte em dar com Rosa Tomás, era ela então vereadora da Cultura na Câmara de Anadia. Uma pessoa com uma enorme sensibilidade e bom gosto”.
“Quis o destino conduzir-me até àquela capela que não conhecia e que, apesar de bastante degradada, estava muito bem inserida na paisagem. Não sabia o nome da terra, nem da capela. Entrei por uma porta lateral e fiquei encantada com a arquitetura, com os azulejos da eremida. As pinturas simples , mas de cores harmoniosas. Pensei para comigo que reconstruída, aquela capela ficaria lindíssima.”
Dali rumou à Câmara de Anadia, e numa audiência com Rosa Tomás, aconteceu o inesperado: “ela tinha uma ligação à capela, à terra e eu vontade de ajudar a recuperar o templo.” “Foi ouro sobre azul”. Uma parceria que tem dado resultados surpreendentes, pois as obras levadas a cabo são inequívocas.
A benemérita diz que o resultado é muito positivo e que está tudo feito com muito bom gosto e cuidado.
“Espero que seja um lugar de oração que possa ser usufruído por todos e que as pessoas pensem em valores morais que o mundo tanto precisa”, conclui.
Catarina Cerca