Emanuel Santos é natural de Vila Nova de Gaia, tem 41 anos e há cerca de um ano sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Lutou pela sua recuperação e agora abraçou uma missão que o vai fazer percorrer o país, de bicicleta, a espalhar a esperança a doentes hospitalizados que, tal como ele, sofreram um AVC.
Na última quinta-feira chegou à Bairrada (Sangalhos), de onde já partiu rumo a Coimbra, mas onde deixou novos amigos que, tal como tantos outros, espalhados por esse país, o apoiam e incentivam na sua arrojada aventura. “Tinha colesterol alto, era hipertenso, pesava mais 35 quilos (pesa agora 80) e fumava dois maços de tabaco por dia”, um cocktail perigoso que lhe ia sendo fatal. No dia 6 de Novembro de 2009, sofreu um AVC que lhe virou a vida do avesso.
Foi, agora, em Sangalhos, na pastelaria Doce Café e junto de Luís Aidos, um dos muitos amigos que tem feito através da rede social Facebook, que falou do seu projecto de vida.
Nova vida. Emanuel Santos estava em casa a dormir quando teve o AVC. Ciente de que o socorro nas primeiras horas era determinante para minorar sequelas, acabaria por esperar e desesperar por ajuda. Sozinho e sem ter como pedir apoio, foi o irmão, 10 horas mais tarde, que o encontrou, na cama, paralisado do lado direito do corpo e sem fala. Sempre consciente, logo se apercebeu do que se estava a passar com o seu corpo. “Quando dei entrada no hospital de Gaia, o diagnóstico era desanimador e diziam que ia ficar acamado”, relembra. Inconformado diz que “é preciso uma grande força de vontade para superar tamanha rasteira da vida”. Depois de meses de recuperação, de muita fisioterapia, terapia da fala e terapia ocupacional decidiu, agora, percorrer Portugal continental, a Madeira e os Açores, levando uma palavra de esperança e alento a outros doentes.
“Em Gaia e Espinho, iniciei a minha recuperação, mas a maior terapia está a ser feita por mim. Nunca desisti”, avança. Agora, dedicado a uma causa, é graças a alguns apoios, amigos e desconhecidos que tem conseguido levar para a frente esta sua missão, que só termina a 29 de Outubro de 2011.
A JB, revela que “todos me acarinham, apoiam e incentivam. Não imagina a generosidade que encontro, a solidariedade das pessoas anónimas que já me viram na televisão, nos jornais, nas rádios ou nas redes sociais e, ao reconhecerem-me, acabam por me ajudar, na alimentação, por exemplo”.
Emanuel Santos saiu, no dia 29 de Outubro, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, no Porto. Ao longo de 12 meses irá pedalar de norte a sul do país, passando pelas ilhas. “Irei a todos os Hospitais com unidades de AVC. Já passei por Gaia, Santa Maria da Feira, Aveiro e agora rumo a Coimbra e à Figueira da Foz”, diz-nos revelando que, faz cerca de 30 a 40 quilómetros por dia, tarefa árdua já que a sua bicicleta pesa aproximadamente 70 quilos: “ando com a casa às costas, mas faço questão de entrar nos hospitais vestido de ciclista”.
“Gosto de ir aos hospitais e conversar com as pessoas, dar-lhes esperança e conforto, pois senti essa necessidade quando sofri o AVC”. Para além de hospitais, Emanuel Santos fala aos jovens estudantes, sensibilizando-os e fazendo campanhas de prevenção pelas escolas por onde passa.
Nesta sua breve estada pela Bairrada, só encontrou generosidade e muito calor humano. Geralmente, pernoita nas corporações de Bombeiros Voluntários. Em Anadia, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários conseguiu que ficasse a pernoitar no Colégio N.ª S.ª da Assunção, em Famalicão. Durante o final de semana, aproveitou para descansar, visitar a região, tendo ficado admirado com o Velódromo Nacional. Amante das bicicletas e do BTT, foi na companhia dos betetistas “Rijos de Sangalhos” que passou parte do seu tempo livre.
“Foi através do facebook que o Luís Aidos me disse que, se passasse por Sangalhos, para parar na Doce. Aceitei e aqui estou”, revelou, acrescentando que, apesar de não beber bebidas alcoólicas, não resistiu a provar uma sandes de leitão, mas com consentimento médico. O seu derradeiro objectivo é despertar consciências e criar uma Fundação “para ajudar outros doentes. O AVC mudou a minha vida”, diz, “agora quero ser um exemplo e mostrar que apesar do sofrimento é possível recuperar”.
Catarina Cerca