Tal como foi nos anos 30/50, a aldeia da Pedralva vem já há mais de 25 anos a recriar a matança do porco que, noutros tempos, era feita não só na localidade da Pedralva, como na região da Bairrada. Esta é uma iniciativa levada a cabo pelo Grupo Folclórico da Pedralva, na sua sede, para ser apreciada por entendidos, mas também para ser degustada por todos os que nesta festa quiseram estar.
O início da festa é antecedido por uma semana de exaustivos trabalhos, e foi pelas 8h que o “mestre” (matador) deu o sinal para se começarem os serviços, ditando desta forma: “-Está toda a gente presente… então que saia uma rodada de aguardente”! Todos molham a garganta com a mais fina aguardente, produção das suas terras, com vários anos de envelhecimento em pipos de carvalho. É neste ponto que se “agarra” a coragem necessária para matar o suíno. O “picar” do porco é o serviço mais melindroso do dia, mesmo sendo feito por um matador já experiente, assim, nunca se facilita, e procura-se sempre, que o mesmo matador venha ano após ano. A título de curiosidade, noutros tempos o “animal escolhido” seria por norma uma fêmea que tenha dado várias ninhadas de leitões, ou numa outra opção, uma fêmea “má parideira”, aquelas que pisavam os leitões, os mordia ou não deixava “mamar”.
E lá diz o provérbio que «porco sangrado… tem que ser regado», uma vez mais o pessoal beberica um pouco de aguardente ou se o matador preferir, uma fina jeropiga. Dá-se início aos trabalhos de limpeza do animal, chamuscando-o com caruma (agulhas de pinheiro) e onde o lume já não chega, limpa-se minuciosamente a carcaça com sal e telha. Na viragem do corpo do animal, as mulheres já preparam e começam a servir as “lágrimas do porco”, que consiste em sangue cozido esfarelado e temperado com alho, azeite e vinagre, acompanhando com boroa de milho. O sangue que não foi usado (e muito!) serve para se fazer o sarrabulho, que é servido em caçoilas de barro preto, juntamente com batata cozida, sumo de laranja, sal, alho, pimenta, carne de lombo e pedacinhos de fígado e de bofe. Durante a confecção do mesmo, os convidados vão provando as fêveras assadas na telha, apenas temperadas com sal, apenas para ir “abrindo o apetite”.
A segunda degustação, já no prolongar da tarde, consiste em “ossos ao vinho”, torresmos, rojões e as “papas” de abóbora menina com ciscos, assim como o vinho tinto e a boroa de milho para acompanhar. No final, o grupo ofereceu uma noite de fados de Coimbra, para o culminar desta festa.
Deve-se acrescentar que o grupo tem vindo a “apurar” esta tradição, mantendo-se sempre fiéis à tradição desta actividade. A comprovar, os apreciadores destes convívios são cada vez mais, tendo vindo a aumentar de ano para ano.
Para o Grupo Folclórico da Pedralva, a matança tem uma especial importância, pelo facto de se manter a tradição e também para divulgar a aldeia, assim como receber os amigos que o visitam. Desta forma, o grupo agradece a presença de todos, desde populares ao concelho técnico da Federação de Folclore Português, contando com estas presença e mais ainda no próximo ano.
Diana Moreira