Se roubassem um trator a Ferreira da Silva, este, possivelmente, iria atrás do ladrão com uma caçadeira, disse Belarmino Rebelo Rodrigues, testemunha abonatória de Ferreira da Silva, na última terça-feira, caraterizando, no entanto, o arguido como sendo uma pessoa muito calma.
Belarmino Rebelo Rodrigues, colega de curso de Ferreira da Silva, disse ter sido amigo de lanches e de brincadeiras. “O Ferreira era muito calmo, um homem de consensos e que se relacionava muito bem com a sua filha, esposa e neta. Diria um casal exemplar”. Aliás, “olho para ele como um homem que tem um projeto de vida que marca”.
Gerir balas. A testemunha disse nunca ter ouvido o Cláudio Rio Mendes a ameaçar o arguido, no entanto, “Ferreira da Silva andava aterrorizado com medo e receio do Cláudio. Nós tentávamos sempre acalmar”, esclareceu o tribunal.
À semelhança do arguido, Belarmino Rebelo também andou na guerra, enquanto Comando e, a pedido do advogado de defesa, Celso Cruzeiro, explicou que “aprendemos que devemos saber gerir as balas. Cada bala é uma pessoa a abater”. Pelo que, na sua opinião, “Ferreira da Silva estava descontrolado e estaria a ser comandando por outra coisa que não ele. Estava num estado de desespero”.
Depois de ter visionado o vídeo dos acontecimentos, a testemunha foi perentória a afirmar que Ferreira da Silva agiu “porque tinha medo que a vítima tivesse puxado por uma pistola”. “Admito que terá agido, porque estava preocupado”, esclareceu.
Questionado pelo Procurador da República, porque é que Ferreira da Silva, com a miúda ao colo, não fugiu ao invés de disparar, a testemunha esclareceu que, na sua opinião, “Ferreira da Silva não avançou com a miúda ao colo e defendeu-se a tiro”. “Quando ele vê o perigo iminente, avança. Quando nos sentimos ameaçados não podemos fugir. Que foge perde a guerra”, disse.
Calma. A testemunha contou ainda que “o Ferreira da Silva era uma pessoa muito calma, mais calma do que eu”, contando que “uma vez, quando me roubaram um trator, liguei à GNR a dizer que ia atrás dele com uma caçadeira. Só não fui para a cadeia, porque não encontrei o ladrão”.
Já questionado pelo advogado dos assistentes, “se roubassem o trator a Ferreira da Silva, ele era homem para fazer o mesmo”? O arguido respondeu: “Possivelmente sim.”
Questionado sobre o local indicado para matar um homem, a testemunha, à semelhança de tantas outras, indicou a cabeça. “No coração também mata. Um tiro para a parte debaixo faz buracos por todo o lado, sai e destrói tudo, mas não tem uma ação derrubante, mas pode matar. Eu atiro para a cabeça. Pode acertar no coração, mas na cabeça é melhor.”
Altruísta e bom aluno. Para José Faustino, outro colega de curso, também de Viseu, Ferreira da Silva foi um “bom aluno, distinto, com caráter. É muito altruísta”, contando que “uma vez queixei-me que tinha uma hérnia, e o Ferreira da Silva tratou de toda a minha operação”.
“O Ferreira gosta de ler, declama e tem sempre um sorriso natural. Era uma pessoa de consensos”, afirmou a testemunha, dizendo que tinha conhecido Cláudio Rio Mendes na Mamarrosa. “O Ferreira estava muito preocupado por causa do genro e pretendia arranjar um médico. Ele tinha problemas do foro psíquico. O Ferreira da Silva era muito amigo do genro, recordo-me da preocupação que tinha com ele.”