Paulo Caiado não tinha intenções de morar no estrangeiro. Contudo, em 1996, um ano antes de concluir o curso de Engenharia Informática em Coimbra, teve “a sorte” de fazer Erasmus em Londres “e isso efetivamente mudou a minha vida”.
Natural da Mamarrosa, concelho de Oliveira do Bairro, onde reside a família mais próxima, Paulo Caiado é hoje um português perfeitamente adaptado à forma de estar e de trabalhar dos ingleses. Admite ter saudades da família – que visita, em média, uma vez por mês – do clima – “do céu sem nuvens” – e da nossa comida – “apesar de haver uns restaurantes portugueses muito bons em Stockwell!”.
Saiu de Portugal já lá vão 13 anos. Entre 2000 e 2005, residiu em Nice (França), mas metade desse tempo esteve deslocado em Londres, capital para onde acabaria por se mudar definitivamente.
Logo após terminar o curso, trabalhou na SIBS (sociedade que gere a rede multibanco portuguesa). O facto de estar já nos quadros da empresa, como Engenheiro de Software, não foi, todavia, suficiente para o “segurar em Portugal”. “Tinha vontade de aprender e conhecer coisas novas. Na altura em que decidi sair estávamos em plena bolha dot.com (bolha tecnológica do fim dos anos 90). Havia muitas coisas a acontecer cá fora e eu tinha uma enorme vontade de fazer parte do que estava a acontecer em países mais avançados do que Portugal”, destaca o jovem de 38 anos, natural da Mamarrosa.
Assim, no fim do ano 2000, partia para Nice, para trabalhar na Accenture (consultora na área de Tecnologias de Informação). “Como consultor desta empresa, nunca estive em projetos em França, estive sempre deslocado, metade do tempo em Inglaterra – quase sempre em Londres – e também na Holanda, Suécia e Irlanda”, conta Paulo Caiado. Em 2005, transferiu-se para os escritórios da Accenture em Inglaterra. Entre 2006 e 2008, fez o MBA (Master of Business Administration) na London Business School, em Londres.
Trabalha, desde 2008, na Fidelity (segunda maior empresa mundial na gestão de fundos de investimento), onde é responsável pela análise de fundos de investimento, em estratégias alternativas (como sejam estratégias de Hedge Funds, Infraestrutura (PPP), Energias Alternativas, resseguros, matérias primas, etc.).
Mais profissionalismo e informalidade
Não tem dúvidas de que as diferenças na forma de trabalhar em Portugal e em Inglaterra são significativas. “Aqui, há bastante mais profissionalismo e o ambiente de trabalho é claramente mais informal.” Não que tudo seja perfeito, frisa, “mas há muito mais meritocracia e mais responsabilidade face a compromissos assumidos, por exemplo, numa coisa tão simples como as reuniões começarem a horas!” No trabalho, não existe a formalidade de se tratar ninguém pelo título (Dr. ou Eng.): “somos todos colegas, o que acho ótimo, é uma formalidade completamente desnecessária que ainda existe em Portugal.” Por isso, Paulo Caiado tem a consciência que, “quando voltar a Portugal, vou ter um choque com a forma de se trabalhar”.
Salienta ainda que as leis de trabalho são “bastante mais flexíveis”, o que permite que “as pessoas interiorizem que as únicas coisas que lhes garantem subsistência no futuro é o trabalho que produzem e os conhecimentos que têm para o executar, não a lei ou um bocado de papel (contrato de trabalho).”
Paulo Caiado considera que Portugal “está a pagar pelo acumular de erros cometidos nos últimos 25 anos”. A culpa… “é de todos nós, da nossa forma de fazer as coisas e de como lidamos com os outros e com a coisa pública”.
A Inglaterra chegam cada vez mais recém-licenciados, à procura de um caminho que não encontram no seu país. Paulo Caiado aplaude a decisão, já que “é uma oportunidade excelente para aprender imenso e abrir novos horizontes”.
Não está nos seus planos regressar tão cedo a Portugal. “Embora o meu coração seja 100% Português, em termos profissionais sinto-me 100% Europeu. Portugal está apenas a 2 horas de avião e os voos são baratos!”
Oriana Pataco
oriana@jb.pt