Ela é a única mulher a fazer stand up em Brasília, e assegura que será mesmo a única portuguesa a fazer este peculiar espetáculo de humor no estrangeiro. Catarina Matos, 34 anos, viveu metade da sua vida na Mealhada mas foi no concelho vizinho de Anadia que concluiu o básico e o secundário – no Colégio N.ª Sra. da Assunção, em Famalicão, até ao 9.º ano e no Liceu de Anadia, até ao 12.º.
Conheceu o marido em Lisboa e foi com ele que, em janeiro do ano passado, atravessou o Atlântico para iniciar uma nova aventura no Brasil. A primeira paragem foi em São Paulo mas apenas durante meio ano. Desde então, mora na capital, onde cumpre um sonho antigo: ser humorista.
Nem historiadora nem psicóloga
Catarina Matos estava longe de saber o que a vida lhe reservava, quando entrou na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, para tirar o curso de História. Mas a sua paixão académica não era aquela. Foi então estudar Psicologia no ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada, mas, como a própria firma, “sempre fui psicóloga não-praticante”.
Terminou o curso e uma agência de publicidade, a BBDO, ansiosa por sangue-novo, lançou a rede a 600 e muitos alunos para apenas nove lugares. Um deles foi para Catarina Matos. “Assim começou minha a odisseia de dez anos como criativa, que passou por agências como DDB Lisboa, McCann Erickson Portugal, Grand Union e, como sou bilingue, também trabalhei como copywriter externa da BBH Londres”, recorda a jovem mealhadense.
Em janeiro de 2013, Catarina Matos deixa Portugal e a publicidade para perseguir o sonho de fazer humor.
Loucura
Foi em São Paulo, uma das melhores escolas de humor, que tudo começou. “Passados apenas cinco dias de viver nesta cidade gigante, subi ao palco do Teatro Folha, sem nunca antes o ter feito e agora, olhando para trás, foi um misto de loucura, coragem e vontade reprimida a querer rebentar”, conta a humorista. Ao lado de nomes como Maurício Meirelles (CQC), Marcela Leal, Mhel Marrer, Ben Ludmer “e o meu querido Padrinho, Daniel Duncan, eu parecia que tinha voltado a nascer”. E foi ao pé dos grandes que soube “que era isto mesmo que eu queria ser quando fosse grande”.
Inscreveu-se em cursos com grandes humoristas “que até aí só tinha visto no youtube” e de repente era aluna de stand up “da brilhante Carol Zoccoli”. Depois, no curso de Teatro de Improviso, “fui aluna do Marcio Ballas, de quem fiquei amiga para sempre.”
Partilhando o palco com os melhores
Foi nestas noites de quarta-feira que, no fim do espetáculo, “jantei com pessoas incríveis como o Rafinha Bastos, Gregório Duvivier da Porta dos Fundos, tive o prazer de dividir o palco com nomes que já admirava desde Lisboa: Rogério Vilela (Mundo Canibal), Nando Viana, etc..”
Por motivos pessoais, teve de se mudar para Brasília, onde teve como Padrinho o pioneiro do stand up nesta cidade, Edson Duavy. “Atuei num Teatro lotado, dividindo os aplausos com Ricardo Pipo (Melhores do Mundo), Daniel Duncan – sim, foi um encontro de padrinhos! – e Vitor Sarro (Globo)”. Mais uns dias e estava a subir aos palcos com a Companhia Setebelos, um grupo muito aclamado em Brasília, onde atuou com Fabiano Cambota (Pedra Letícia).
Ao mesmo tempo que continuou com a comédia, frequentou oficinas de Teatro, onde esteve em cartaz com textos da sua autoria. Agora, estuda nos níveis avançados e escreve ainda mais peças.
Catarina Matos diz-se uma pessoa “tão feliz que nem consigo descrever”. “Apesar de ser uma profissão que dá muito trabalho, a recompensa é gigante em termos de contacto direto com o público. E as pessoas pensam que as profissões relacionadas com entretenimento não dão trabalho a quem faz, mas nos bastidores trabalha-se muito.”
Fosso Portugal-Brasil
A bairradina esteve recentemente em Portugal, onde atuou em palcos de Lisboa e do Porto; foi entrevistada em programas de televisão e até motivo de reportagem em revistas sociais. “Na noite do Villaret, nos últimos minutinhos, olhei para a sala, esgotada, e tive de engolir umas lagrimitas”, confessa.
Mas, no aspeto do humor, há um fosso gigantesco entre Portugal e Brasil. Começando pela maneira como a própria profissão é encarada. “Em Portugal, raras são as pessoas que conseguem viver 100% dela. Aqui, felizmente, consigo fazer isso.” E há, naquele país, vontade de ir ver stand up, seja a que dia da semana for. “As pessoas esgotam teatros e bares, há muitos fãs a seguir artistas e todos os dias há centenas de pessoas novas a começar a carreira.”
Catarina Matos não esconde as saudades de Portugal, e procura dar um salto ao nosso país, pelo menos de meio em meio ano. Já da Bairrada, as saudades são… “imensas!!! Falo da Bairrada aqui às pessoas que conheço e a reação é de querer conhecer!” No Brasil, não convive muito com portugueses, mas vive na mesma cidade que Francisco Gomes, “um excelente músico e que por coincidência foi meu companheiro de banda, os Meidein”.
Catarina Matos quer vir a Portugal mais vezes e pôr os conterrâneos a rir. Regressar em definitivo, para já, não está nos planos. A situação profissional do marido, Jorge Teixeira, continua em ascensão, na prestigiada agência Click Isobar, uma das melhores agências digitais do Brasil. E, quanto à situação profissional de Catarina, “basta dizer que aqui no Brasil ela é possível, e que em Portugal não”.
Oriana Pataco