A bravura e o heroísmo do soldado anadiense Manuel Ribeiro, herói militar nas campanhas de Angola em 1902, foi enaltecida na tarde do último sábado, dia 10 de janeiro, durante a homenagem que lhe foi prestada pela Câmara Municipal de Anadia, em cerimónia que teve lugar, na Biblioteca Municipal.
Num auditório repleto de descendentes de Manuel Ribeiro, amigos da família, autarcas, ex-combatentes e anadienses, foi assinado o protocolo de doação do espólio do soldado Manuel Ribeiro (1879-1936), entre o Município de Anadia e Carlos Ribeiro, neto do homenageado, assim como apresentado ao público o espólio doado que ficará agora em exposição neste espaço cultural.
Espólio em exposição permanente. Deste conjunto de bens fazem parte as insígnias do grau de cavaleiro da Ordem de Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito, com que foi condecorado pela rainha regente D. Maria Pia, pelos seus atos de heroísmo durante a campanha militar de 1902 no Bailundo, em Angola. Integrava, então, a Companhia dos Dragões de Moçâmedes que, sob o comando do capitão Joaquim Teixeira Moutinho, teve como missão suster a revolta das populações do Bailundo (atual Huambo), no planalto central angolano. Durante a campanha, destacou-se pela sua ousadia e valentia em arriscadas ações, que contribuíram para o sucesso das operações. No respetivo relatório, o capitão Moutinho destacou os feitos de três dos seus homens, propondo que lhes fosse conferido o grau de cavaleiro da Ordem de Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito, sendo Manuel Ribeiro um desses militares.
A mais alta das condecorações nacionais. A cargo do Coronel Manuel Ferreira da Silva esteve a tarefa de explicar o significado histórico da condecoração (a mais importante do país) que, na sua opinião, “tem de estar exposta num local digno, uma vez que é a mais alta condecoração nacional”.
Na ocasião, o coronel falou ainda do “batismo de fogo de Manuel Ribeiro, a 19 de agosto de 1902, durante o ataque à embala do Huambo. Da sua valentia “ao lançar-se num golpe suicida, cuja perigosidade, decerto não terá avaliado no calor da batalha, contra os Bailundos; mas também a sua valentia numa outra missão de elevado risco: “ele e alguns soldados avançam inopinadamente e despejam metralha sobre gente do Candumbo, que tomba em massa (…) salienta-se ainda na remoção de colegas abatidos durante os confrontos.
A título de curiosidade, foi revelado que, durante os mais de cinco anos de serviço militar, e apesar de ter vindo tratar-se a Lisboa, em 1903, depois de ferido com gravidade, e apesar de ter permanecido cerca de oito meses em Lisboa em tratamento, a família tinha-lhe perdido o rasto, chegando a vestir luto e chorar a sua morte, após as vagas notícias que davam conta de que tinha sido atingido. O soldado acabaria, em 1905, por regressar em definitivo a Portugal, reencontrando a família, que o recebeu como se de uma ressurreição se tratasse.
História que as gerações vindouras devem conhecer. Na ocasião, o neto Carlos Ribeiro – que tem sido ao longo dos últimos anos o rosto da persistência em ver reconhecida a importância da memória de um herói da terra – recordou a homenagem prestada em 1997 pela autarquia anadiense ao soldado Manuel Ribeiro e a exposição das insígnias da condecoração expostas no Centro Cultural do Vale Santo, mas que nos últimos anos foi retirada do local e guardada pela Câmara Municipal, por questões de segurança. Agora, após insistência da família, o espólio encontra-se novamente exposto ao público, “dando a conhecer às gerações vindouras, a coragem, a valentia e o seu reconhecido amor pela pátria”.
A edil Teresa Cardoso recordou aos presentes a preocupação da autarquia – para além de um vasto conjunto de realizações culturais – em dar ênfase e destaque a datas, pessoas e momentos marcantes, como foram as comemorações ao longo do ano de 2014 dos Forais Manuelinos, em parceria com as Juntas de Freguesia do concelho, a comemoração do centenário da morte de José Luciano de Castro, sublinhando ainda que, em 2015, Anadia tem uma agenda definida com inúmeras realizações e datas a realçar, como os 125 anos da Produção de Espumantes na Bairrada e Comemoração alusivas à 1.ª Grande Guerra Mundial. “No início de 2015 estamos a renovar a homenagem a este ilustre anadiense, soldado que combateu em Angola”, numa justa homenagem, ficando o seu espólio exposto ao público.
Recorde-se também que o nome de Manuel Ribeiro foi atribuído, pela Câmara Municipal, a uma rua e a uma praceta em Anadia, aquando da homenagem que a autarquia lhe prestou em 1997, no âmbito da qual se procedeu à trasladação, com honras militares, dos seus restos mortais para o novo cemitério da cidade, e à publicação de um estudo sobre o soldado, da autoria de Carlos Bento.
Catarina Cerca
Armando Heleno disse:
Todos estes feitos teriam caído no habitual rol do esquecimento,se não fosse o obstinada empenho do seu neto Carlos Ribeiro.Mas não só nisto,como noutras descobertas que tem trazido ao conhecimento da freguesia.Neste época tão individualista, é de saudar quem desinteressadamente dá a conhecer os feitos de gente muitas vezes humilde ou até semi-analfabeta,mas dum valor extraordinário.Parabéns a Carlos Ribeiro.
Mário Moutinho disse:
O cap.Joaquim Teixeira Moutinho,ascendente meu,natural de Sanfins doDouro,Alijó,nunca teve qualquer homenagem e está no rol dos equecidos À décadas.
Parabéns ao Sr.Carlos Ribeiro pelo seu trabalho e dedicação.
Anónimo disse:
0.5