O trágico acidente ocorrido na madrugada do primeiro dia de maio deixou a Bairrada em choque. Dois irmãos que moravam há vários anos no Paraimo e um casal que seguia de moto e que residia no concelho de Oliveira do Bairro perderam a vida num acidente ocorrido por volta da 1h da manhã, na variante à EN 235, no Paraimo (Sangalhos). Joaquim Ramos, de 38 anos e o irmão Augusto Ramos, de 47, foram colhidos mortalmente por uma moto, quando tentavam atravessar a variante. Do acidente resultou ainda a morte dos ocupantes da moto, Telmo Silva, de 39 anos e Paula Outerelo, de 45.
Os dois irmãos tinham passado a noite juntos num café no Paraimo a conviver com os amigos. Por volta da 1h saíram e Joaquim (irmão mais novo) decidiu acompanhar o irmão a casa. Com eles seguia a cadela pastor-alemão “Rita”, companhia inseparável de Augusto.
Ambos fizeram o que é frequente outras pessoas da localidade fazerem – atravessar a variante num local vedado a peões – e que lhes foi fatal.
Os irmãos acabariam por ser colhidos por uma moto (Honda CBR 1000) que circulava no sentido Oliveira do Bairro/Anadia. O casal de namorados também não resistiu à colisão, falecendo no local.
O estrondo do acidente foi de tal forma violento que se ouviu a vários metros de distância.
Ana Matias, comandante da corporação de bombeiros anadiense, conta que foi “um choque brutal” e que os bombeiros, ao chegarem ao local, se depararam com “um cenário muito violento”. Os corpos das quatro vítimas estavam espalhados por vários metros, nas duas faixas de rodagem. O corpo de Joaquim Ramos estava pendurado no separador central da variante. Era também aí, na berma, junto ao separador, que se encontrava o corpo da cadela de raça pastor-alemão. Já o do seu irmão, Augusto, fora projetado para a faixa de rodagem contrária.
O jovem que seguia de moto, Telmo Silva, natural de Aguim, foi arrastado algumas dezenas de metros, enquanto que a namorada foi projetada para fora da estrada, encontrando-se o corpo numa zona de vegetação, junto à valeta.
A comandante Ana Matias avança que para o local foram chamadas as corporações de Anadia, Oliveira do Bairro e Águeda, a que se juntou a VMER de Aveiro. O posto territorial de Sangalhos da GNR tomou conta da ocorrência e o Núcleo de Investigação de Acidentes de Viação (NICAV) da GNR recolheu elementos para clarificar o acidente.
A circulação de trânsito só foi restabelecida perto das 6h da manhã.
Testemunhos
“Disse-me ‘Adeus, Costa’ e morreu”
Eduardo Costa reside no Paraimo e era amigo de longa data dos dois irmãos. Foi uma das primeiras pessoas a chegar ao local do acidente. É com lágrimas nos olhos e a voz embargada que fala do que viu. Tinha estado com ambos no café Estafeta, no Paraimo, “a ver a bola”. Assim que ouviu o estrondo, dirigiu-se imediatamente para o local. “Tinha combinado ficar à espera do Quim, no café. Mas quando não apareceu e ouvi o estrondo tive um mau pressentimento”, disse. “Fiquei em choque mas fui ter com o Quim. Pus-lhe a mão na cara mas não reagiu. Já estava morto. Depois, vi o Augusto. Ajoelhei-me e perguntei-lhe se estava bem. Falou-me, num tom de voz muito baixinho, e tentou dar-me a mão. Disse-me ‘Adeus, Costa’ e morreu”.
“Trabalhador, brincalhão, condutor cauteloso”
Vítor Andrade, amigo da família, recorda Telmo Silva como um jovem trabalhador, humilde, sempre com um sorriso nos lábios e muito brincalhão. “Bem disposto, amigo de toda a gente”, especialmente dos familiares, aos quais fazia questão de cuidar pessoalmente dos carros, já que esta era a sua profissão (mecânico/bate-chapas).
De igual forma, o cunhado de Telmo, Carlos Nogueira, lembra um jovem de excelente caráter, amigo de toda a gente. “Simples, brincalhão e com um enorme coração”, mas também um condutor cauteloso e experiente, que cresceu no seio de uma família muito unida. “Eram 10 irmãos e perderam os pais muito cedo. Tornaram-se muito unidos”.
Junta de Freguesia quer medidas urgentes
Dez anos depois da inauguração da variante, a povoação do Paraimo continua dividida ao meio e sem a prometida ponte pedonal sobre aquela via.
Em 2005, a Junta de Freguesia, então liderada pelo autarca Sérgio Aido, recebia a promessa das Estradas de Portugal (EP), de que a obra seria concretizada. Os anos passaram, os ofícios da JF e os abaixo-assinados a solicitar reuniões e a pressionar para a realização da obra sucederam-se, mas a verdade é que, até ao momento, tudo permanece igual.
Por diversas vezes o ex-autarca criticou o facto deste processo se encontrar parado. Agora, perante este trágico acidente, lamenta que “a povoação e famílias inteiras continuem divididas porque a EP não fez o prometido. O terreno existe. Está lá junto à cabine e à antiga churrascaria do Teófilo. Este acidente poderia ter-se evitado”, dando como exemplo a CP que, no caminho de ferro, construiu uma passagem aérea e elevadores, conforme prometido, aquando da remodelação da linha do Norte que dividiu a povoação ao meio.
Agora, o atual autarca António Floro deseja que sejam tomadas medidas urgentes para melhorar a segurança no local. Avança estar em contacto com a Câmara Municipal de Anadia no sentido de voltar a pressionar a EP para a necessidade da passagem pedonal, mas também para a rápida recolocação das redes (cortadas pelos populares que atravessam a variante naquele local), com reforço das mesmas.
Recorde-se que este troço entre Oliveira do Bairro e Sangalhos, inaugurado em julho de 2005, foi construído para afastar o tráfego rodoviário entre estas povoações.
Catarina Cerca