Toda a gente sabe que o futebol desperta paixões, produz em nós uma adrenalina invulgar e, por vezes, faz-nos dizer e fazer coisas que noutra situação nos fariam corar de vergonha. Os árbitros fazem parte do espetáculo do desporto-rei e é impensável imaginar um jogo sem esta equipa. O problema é quando o árbitro se torna o protagonista do encontro, quando passamos mais tempo a chamar-lhe nomes e a criticar as suas decisões do que a ver o próprio jogo e, mesmo depois dos 90 minutos, continuamos a discutir a forma como ajuizou este e aquele lance e como isso supostamente mudou o rumo do jogo e influenciou o resultado. A culpa raramente é dos jogadores, o treinador pouco mais podia fazer, por isso condene-se o árbitro.
Esta época, já foram agredidos 36 árbitros. Doze deles, menores de idade e, em 11 situações, em jogos dos escalões de formação.
No último domingo, o árbitro Luís Fonseca, da AF Viseu, foi agredido com violência, no exterior do estádio onde estivera a arbitrar o jogo entre o Vila Chã de Sá e o Moledos. Aqui bem perto de nós, no passado dia 26 de fevereiro, no jogo Romariz-Paivense, para a Taça Distrito de Aveiro, um jogador do Romariz agrediu o árbitro e o jogo ficou-se por ali.
Temos assistido a tudo nos últimos tempos: desde paredes pintadas em estabelecimentos comerciais dos próprios ou de familiares, a perseguições na estrada, habitações e veículos danificados, para além das muitas ameaças verbais, quer cara a cara, quer para o telemóvel ou através das redes sociais.
Ser árbitro é cada vez mais uma profissão de risco. Não digo que não haja um ou outro que “se ponha a jeito”, mas a maior parte limita-se a tentar fazer o melhor que pode. Sou a favor, nos grandes jogos, nomeadamente internacionais e mesmo dérbis nacionais, do vídeo-árbitro, desde que essa ajuda demore apenas uns segundos e não uns minutos, com a natural quebra de jogo que provocaria.
Gostava que os pais que vão assistir aos jogos de futebol dos seus filhos menores dessem o exemplo e fossem comedidos na linguagem verbal e na agressão física. Não vemos estas situações acontecerem noutras modalidades, pelo menos não com esta violência. Nas situações mais flagrantes, de claro benefício de uma equipa em detrimento de outra, deixemos o Tribunal Arbitral do Desporto ajuizar e agir em conformidade. Noutras situações, como um fora de jogo de milímetros ou uma falta difícil de discernir do local onde o árbitro se encontra, deixemos o jogo prosseguir, porque afinal, perder ou ganhar, tudo é desporto.
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