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Cantanhede // Sociedade  

Covid-19: Unidade de produção de vacinas em Cantanhede vai custar 80 milhões de euros

É a primeira a surgir em Portugal e prevê a criação de 300 empregos qualificados.

Foto: Equipa da Immunethep

O compromisso já havia sido assumido mas agora estão preto no branco os termos do acordo entre a Immunethep e a Câmara Municipal de Cantanhede, no sentido desta apoiar a concretização de um projeto de investimento, que permitirá a criação de uma unidade de produção de vacinas de combate à Covid-19 no Biocant Park, a primeira em Portugal neste setor.

Datada de 2 de março, a deliberação camarária refere que a autarquia se compromete a ceder à empresa “terreno ou instalações junto ao Biocant Park, em condições a acordar entre as partes”, para permitir “a expansão das suas instalações em Cantanhede”, tendo em vista assegurar “as condições necessárias para ser criada uma unidade de produção de vacinas”.

No documento apresentado pela líder do executivo, Helena Teodósio, a Câmara Municipal propõe-se ainda “sensibilizar as entidades competentes, designadamente o Ministério da Saúde, o Ministério da Coesão Territorial, o Ministério da Economia e da Transição Digital, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) e a Comunidade Intermunicipal Região de Coimbra (CIM), no sentido de a Immunethep conseguir apoio financeiro ao investimento que tem projetado para o imediato, no montante de vinte milhões de euros e destinado aos ensaios clínicos da vacina de combate à Covid-19 que a empresa está a desenvolver.

O investimento global, a 3 anos, ascende a cerca de 80 milhões de euros, para a edificação da unidade industrial de produção de vacinas”, prevendo-se “a criação de três centenas de empregos qualificados”.

Tendo em conta a fase em que estão os ensaios, a vacina contra a Covid-19 que está a ser desenvolvida pela biotecnológica de Cantanhede poderá estar pronta para entrar no mercado em 2022, considerando-se indispensável o apoio estatal ao projeto.

Durante o ano de 2021, serão iniciados os ensaios clínicos – depois dos ensaios pré-clínicos que estão ainda a decorrer –, para posteriormente os resultados serem submetidos a análise tendo em vista a obtenção de autorização de entrada no mercado com o estatuto de emergência. Ou seja, prevê-se que a vacina possa estar pronta para distribuição no final do primeiro semestre de 2022, havendo já várias empresas interessadas em investir no seu desenvolvimento, além de que, entretanto, a Immunethep já acordou a produção com um parceiro canadiano, especialista na área.  No futuro, a unidade de produção que a Immunethep pretende criar pode suprir esta necessidade do país.

Reorientação perante a pandemia

A Immunethep, biotecnológica sediada no Biocant Park, em Cantanhede, cujo core business é a investigação e desenvolvimento de vacinas contra as infeções por superbactérias (resistentes aos antibióticos), decidiu, em abril do ano passado, orientar a sua atividade para a pesquisa de novas soluções tendentes a evitar o alastramento da pandemia de Covid-19, tendo alocado os seus recursos e know-how ao processo.

Desde essa altura, a empresa está a tirar partido da vasta experiência e conhecimento adquirido no desenvolvimento de imunoterapias na criação de uma vacina que já está a ser testada em animais. Esta será ministrada por inalação e foi concebida de modo a ter uma dupla ação, pois além do objetivo de induzir a produção de anticorpos neutralizantes anti-SARS-CoV-2 específicos, visa aumentar também a capacidade humana para combater infeções virais.

Cerca de 50% dos casos fatais associados ao novo coronavírus são devidos a infeções oportunistas causadas por bactérias multirresistentes, pelo que, considerando que a vacinação desses pacientes não produziria uma resposta eficaz em tempo útil, a Immunethep está a desenvolver um anticorpo monoclonal para tratar também essas infeções bacterianas oportunistas.

Vacina mais abrangente perante variantes do novo coronavírus

Ao contrário das vacinas da Moderna e da Pfizer, que identificam apenas uma parte importante do vírus, a da Immunethep usa “o vírus como um todo”, o que a torna mais abrangente perante variantes do novo coronavírus. A empresa recorre à técnica tradicional do vírus inativado, através da qual o SARS-CoV-2 é sujeito a um composto químico fixante (b-propiolactona). Concluído este processo, o vírus é inoculado na pessoa, estimulando-lhe o sistema imunitário sem desenvolver a doença.

Por outro lado, como se trata de vacina que será administrada por inalação, permite uma “maior proteção dos pulmões, a via primordial de entrada do vírus”. Estima-se que esta vacina tenha um processo de distribuição e administração mais facilitado, por não exigir “nem temperaturas negativas para o seu armazenamento nem um profissional de saúde que a saiba administrar por via intramuscular”.