LUSA
O arranque oficial do ano letivo está à porta e pais e diretores escolares concordam que a prioridade deve ser assegurar as condições para se ter um ano normal com alunos sempre na escola, como não acontece há dois anos.
Há um ano, os representantes dos diretores escolares antecipavam um ano letivo atípico, com regras estritas de segurança sanitária face à pandemia da covid-19. Do lado das famílias, as escolas mereciam confiança, mas sabia-se que os 10 meses seguintes seriam um desafio.
Hoje, a menos de um mês do arranque oficial de um novo ano, a situação é muito diferente. O processo de vacinação continua a todo o vapor, mais de 70% da população tem a vacinação completa e o comboio já apanhou as crianças e jovens a partir dos 12 anos.
Perante este cenário, as expectativas dos pais e diretores também são diferentes e há um ponto em que estão plenamente de acordo: devem ser implementadas as medidas necessárias para assegurar um ano letivo quase normal, sem ensino a distância e com os alunos na escola.
“Neste momento, o que temos realmente como grande desejo é que o próximo ano decorra todo em regime 100% presencial, porque os prejuízos que foram detetados do ponto de vista das aprendizagens dos alunos, com os confinamentos, foram verdadeiramente catastróficos”, disse à agência Lusa o vice-presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).
O cenário desejado por David Sousa poderá ser estranho sobretudo às crianças mais novas, uma vez que corresponde àquilo que foi a realidade dos últimos dois anos, marcados pelo encerramento de todas as escolas durante mais de dois meses devido à pandemia, e a confinamentos esporádicos nos períodos em que estiveram abertas.
É precisamente isso que os diretores escolares querem que não se repita e, por isso, numa altura em que o país dá passos em frente e alivia regras, o vice-presidente da ANDAEP defende que, se for necessário, as regras de segurança se devem manter.
“Mais do que estarmos a tentar ver onde é que podemos aliviar, devemos pensar ‘ok, temos que assegurar que as aulas se vão manter em regime presencial todo o ano para toda a gente, para isso acontecer, o que é preciso fazer?’”, disse, sublinhando que a decisão cabe às autoridades de saúde, mas o objetivo final deve ser um: evitar que as escolas fechem.
Também os pais pensam assim e, apesar de preferirem ver algumas medidas ficar para trás, como o uso de máscara em espaços exteriores, admitem que talvez seja cedo para isso.
“Compreendemos que haja esse cuidado perante alguma insegurança. Mais vale prevenir do que remediar, mas espero que se caminhe no sentido de ter segurança e garantias de acordo com os dados que a ciência nos possa dar para aliviar”, explicou o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap).
Confiante nos efeitos positivos da vacinação contra a covid-19, Jorge Ascenção espera que se possam rever algumas normas, como a realização de rastreios no início de cada período letivo ou o isolamento de turmas inteiras perante um caso positivo de infeção, mas sempre sem colocar em causa o ensino.
“Prejudicar o mínimo possível aquele que é o objetivo da escola, a socialização, as aprendizagens e o desenvolvimento. É isso que é preciso fazer, garantir todas as condições para que a escola possa funcionar, sabendo que com a vacina é mais fácil e mais seguro poder garantir isso”, referiu.
Rui Martins, da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) também antecipa um ano letivo menos atribulado do que os anteriores, esperando que decorra de maneira tão normal quanto possível, para que a comunidade educativa e o Ministério da Educação possam voltar a concentrar-se em problemas que considera terem passado para segundo plano devido à pandemia, mas que não desapareceram.
Por outro lado, problemas causados ou acentuados pela mesma pandemia, designadamente ao nível das aprendizagens e da componente socioafetiva, devem ser uma prioridade na ação das escolas no próximo ano, defende o presidente da CNIPE.
Também é essa a intenção do Governo, que definiu um plano para três anos, com o objetivo de recuperar as aprendizagens afetadas por dois anos letivos atípicos. A execução desse plano está agora do lado das escolas, e o vice-presidente da ANDAEP assegura o seu compromisso nesse sentido.
O ano letivo arranca entre os dias 14 e 17 de setembro e será o segundo ano letivo a começar em plena pandemia. O Governo está atualmente a rever o referencial das escolas do ano passado que, segundo o secretário de Estado e Adjunto da Saúde, será “ajustável a um novo tempo”, mas com o mínimo de adaptações.