A falta de mão-de-obra qualificada continua a ser um dos principais problemas no setor da construção civil. Apesar de não se sentir essa carência ao nível de ajudantes, situação colmatada muito com a força do trabalho de imigrantes, o certo é que o capital humano escasseia muito quando o objetivo é a especialização nos trabalhos ligados à construção civil.
Com o problema da escassez de materiais a melhorar depois da pandemia, o setor continua a debater-se com os elevados preços dos mesmos, com alguns deles a custarem o dobro daquilo que era o preço médio de há dois anos atrás.
Com o mercado da construção em perfeita ebulição, nem os preços mais altos estão a afastar a procura, com empreiteiros e empresas de materiais de construção a não ter mãos a medir para construir.
Volvidos alguns dos grandes efeitos negativos da pandemia, o setor da construção está a braços com uma elevada procura, como diz Luís Neves, da BoostConstruction. No caso dos clientes particulares, a empresa está a construir projetos de raíz. “São licenças que já estavam aprovadas em 2022 e que agora reuniram condições para avançar”.
Já no caso dos investimentos imobiliários, aquele responsável sublinha que muito do trabalho que está a ser feito prende-se com a revitalização urbana em zonas e centros históricos, para além do mercado optar hoje por construções mais “rápidas e eficientes”, baseadas em estruturas metálicas .
Apontando a escassez e o preço dos materiais como os grandes desafios que se colocam ao setor, Luís Neves argumenta que há outras contrariedades, como é o caso da mão-de-obra. “O trabalho qualificado custa muito dinheiro. Há poucos profissionais e os que existem ficam caro às empresas”.
Admitindo a existência de muita procura atual no setor, aquele responsável lembra, no entanto, que “os grandes investidores estão retraídos” e “os particulares perderam poder de compra e perderam oportunidade”, já que “muitos tinham tudo pronto para avançar mas, com a revisão das taxas de esforço junto dos bancos, acabaram por passar o limite”.
Para Marcelo Marques, da empresa de construção Marques ao Quadrado, neste momento está “finalmente, a aliviar a carga do preço dos materiais”, lembrando que há cerca de dois anos havia materiais que custavam o dobro, como era o caso do vidro e do alumínio.
A melhorar parece estar também a questão da escassez de materiais. “Chegámos a fazer quase 50 mil euros de stock de materiais para não falhar com os nossos clientes, mas hoje a situação está já bastante diferente. Os preços continuam caros em alguns materiais mas não há falta de nada”, completou.
Esta empresa de Oiã, que neste momento está a remeter trabalho para o final deste ano devido ao acumular de serviço, está a dar resposta, maioritariamente, a projetos de vivendas chave na mão, situação que se intensificou há dois anos atrás, sendo hoje cerca de 65% do seu volume de trabalho nesta área, com os restantes 35% para obras de restauro e outras.
Para o empresário, a mão-de-obra é o maior problema. “Há pouca gente qualificada mas quanto a ajudantes temos a situação controlada, muito graças a trabalhadores africanos que nos ajudam nos nossos projetos”.
José Carlos, da empresa de materiais de construção DJC, refere que os preços das matérias-primas “continua a oscilar, com altos e baixos”, mas deixa nota de preços que “dispararam e nunca mais voltarão a ser como na pré-pandemia”, como é o caso das tintas.
Fornecedor de materiais de construção para particulares, com o fim de restaurar e revitalizar as suas habitações, esta empresa de Oliveira do Bairro acredita que o setor vai conhecer novo abrandamento em breve, já que “o poder de compra das pessoas está a baixar. Os impostos estão a esmagar os contribuintes”, diz José Carlos, completando que “a situação vai agravar-se mais nos meios mais pequenos e não nas grandes cidades”.