Milton Maia é um jovem agricultor do concelho de Cantanhede que trocou o curso de enfermagem pela agricultura, seguindo assim as pisadas dos pais e avós.
Foi na Póvoa do Bispo que nos recebeu junto à estufa, com cerca de mil metros, onde começam a despontar os primeiros pés de pimento e maracujás.
Responsável pelas “Culturas Maia”, aos 31 anos de idade, confessa sentir-se realizado na agricultura apesar de todos os constrangimentos e dificuldades inerentes à atividade.
É no meios das plantações que se sente bem e que tem vindo a realizar o sonho de converter o legados dos seus progenitores (essencialmente familiar e para autoconsumo) numa empresa focada em culturas inovadoras e rentáveis, mas suportadas por um comportamento ecologicamente consciente e sustentável.
Há três anos que a terra virou o seu foco principal e logo de imediato seria testado por um temporal que lhe destruiu uma estrutura de cobertura de maracujás onde tinha investido 70% dos seus fundos. Um revés que o levou a arregaçar as mangas e a recomeçar.
Grandes desafios e várias dificuldades
“Esta é uma atividade de grandes desafios e onde sentimos várias dificuldades, uma delas a falta de incentivos à instalação ou captação de jovens para a agricultura, área cada vez mais envelhecida. Temos que ser muito resilientes pois há uma grande dificuldade no acesso a apoios do governo”, diz, avançando que dos investimentos realizados em março de 2022, “só recebi 1/4 do apoio em março deste ano”, o que obriga a um grande empate de capital, para além das enormes dificuldades em termos burocráticos.
Mas uma das maiores dores de cabeça prende-se com o aumento exponencial dos adubos, fertilizantes e produtos fitossanitários que encarece a produção, embora avance não conseguir aumentar os preços do que vai produzindo e vendendo. “Nós agricultores temos uma pequeníssima margem de lucro”, garante.
Hoje tem dois hectares plantados com kiwis, perto de 4 mil metros com maracujá, um hectar de hortícolas e três hectares de vinha. “Cultivo vários produtos. Geralmente opto por ver se tenho escoamento para determinado produto e depois arranjar um contrato”, que garante o escoamento, explica Milton Maia.
Ainda que não tenha certificação, revela que os maracujás estão em modo de cultura biológica, já que não levam produtos químicos. Por isso, as armadilhas para captura massiva de mosca do mediterrâneo são visíveis em vários locais da propriedade.
O maracujá é a aposta mais recente e os dois primeiros anos foram de experiência. “Agora já tenho escoamento e alguns contactos até para exportação”, adianta, avançando que “lá fora, o maracujá é muito valorizado”.
Já a produção de pimento começou há três anos mas, este será o primeiro ano que aposta na produção em modo biológico, admitindo, contudo, que para a indústria, vai continuar a fazer produção integrada normal. “O ano passado comecei a vender pimento em mercados de frescos e os contactos levam-me a continuar este ano, seja com pimento vermelho, verde, amarelo e algum roxo que ajuda a criar alguma diferenciação”.
Defensor da agricultura biológica, lamenta não conseguir ter toda a sua exploração neste modo. “O que consigo neste momento fazer no biológico é o maracujá e o pimento porque são também culturas mais rentáveis”, avança, reconhecendo os benefícios deste modo para os solos, fauna e flora.
Ao JB, Milton Maia revela que o escoamento das uvas e vinho está sempre garantido para a Adega de Cantanhede, enquanto que a produção de pimento é realizada mediante contrato com uma empresa da região (Praia de Mira).
Neste momento, está a terminar a colheita do maracujá de Inverno (estufa) mas Milton Maia diz que o futuro passa por continuar a apostar em produtos diferenciadores para nichos de mercado, portanto “indicados para alguém com pouca área como eu”. Por isso, pensa vir também, num futuro próximo, a apostar na produção de abacate em modo biológico, o que vai poder ser uma realidade daqui a três anos.
A exportação é já um caminho que começou a trilhar através de alguns clientes, convicto de que facilmente escoará o maracujá para outros países.
Quanto à questão da mão de obra, Milton Maia reconhece existir uma grande carência, sobretudo quando se trabalha em modo biológico já que este exige muito mais mão de obra e um acompanhamento permanente das áreas cultivadas. Pontualmente conta com ajuda, mas reconhece que não é fácil arranjar quem queira trabalhar no campo.
Milton Maia trabalha com distribuidores regulares mas também abastece alguns supermercados locais, assim como trabalha com uma associação que consegue ter volume de negócio para abastecer a grande distribuição. Localmente fornece ainda alguns restaurantes, clientes finais, podendo os seus produtos ser encontrados em mercados locais do concelho.