“O moinho da Póvoa do Castelo não foi projetado no papel, mas está, sim, a ser projetado a cada dia. Ao começar a obra, esta tinha de fazer sentido, de honrar a história e os tempos em que quem tinha um moinho, tinha uma riqueza”, diz Artur Salvador, presidente da Junta de Freguesia (JF) de Sangalhos.
A ideia da reconstrução do moinho, localizado em São João da Azenha, Sangalhos, surge ainda no mandato anterior, com o presidente António Floro. O processo começa com a doação de um terreno à Junta de Freguesia onde existiu, em tempos, um moinho de água, que os anteriores proprietários gostariam que fosse recuperado.
Aquela que seria uma “missão quase impossível para uma Junta de Freguesia”, concretizou-se graças ao projeto dos Orçamentos Participativos de 2019. Na altura, candidatou-se a ideia e o executivo, assim como todos os conhecedores e apaixonados pelo projeto, deram-lhe consistência, foi a votos e ganhou.
Requalificar um elemento identitário que se encontrava em ruínas “é um trabalho que requer muita paciência”, especialmente quando não há imagens antigas para conseguir preservar essa identidade. “A solução encontrada foi conversar com os residentes, com pessoas conhecedoras dos sistemas de um moinho de água, visitar outros moinhos da região e estudar procedimentos, alinhamentos e origens, nomeadamente dos cursos de água, porque um moinho de água, sem água não funciona”, afirma Artur Salvador.
Atrasos no começo das obras
Foram, contudo, precisos cinco anos para se dar início à requalificação. “De facto, cinco anos é muito tempo, mas temos de recuar ao tempo da pandemia, que nos veio atrapalhar os planos”, relembrou o autarca.
Passados dois anos de pandemia, o anterior executivo tinha como intenção avançar com a obra, com a eventual deslocação do moinho para mais próximo dos acessos da Fonte do Castelo, em vez de ficar no local de origem, mais resguardado, mas tal não aconteceu em tempo útil. “Vieram as eleições em 2021, e agora estou eu no cargo para fazer aquilo que não foi possível fazer antes. O moinho estava em plano, por isso tínhamos de o materializar”, declara Artur Salvador.
Depois de resolvida a questão de manter o moinho no local de origem e da câmara decidir executar o Orçamento Participativo, foi necessário lançar o concurso e aguardar pelo início da obra, que não podia começar em qualquer altura do ano, pelo facto de se encontrar numa zona muito húmida. A intervenção, que teria então, de ser realizada no verão, começou logo em junho.
A escolha dos materiais também atrasou um pouco o processo: “não queríamos um moinho construído de qualquer maneira, queríamos um moinho que tivesse elementos reciclados, com identidade e valor histórico”. Estão a ser arranjados, nas ruínas, adobes, madeiras e telhas, apenas material com identidade e com dezenas de anos, “até as mós são de um moinho antigo abandonado”, acrescenta.
Alguma da madeira utilizada é proveniente de uma casa centenária, património de um casal jovem que escolheu a freguesia para residir, que ardeu antes de ser inaugurada, “mas os jovens reergueram-se, não desistiram, e voltaram a construir”. “É isso que a madeira que vamos ver sobre a porta e sobre as janelas, significa. Não desistimos do moinho, nem dos nossos objetivos e da nossa história”.
O projeto (estudos, arranjos e obra) tem um custo de 50 mil euros, que não se resume apenas ao moinho de água, já que, por exemplo, apesar de existir uma vala ao lado do moinho, é preciso criar um novo curso de água, a entrar a norte do moinho, e a sair a sul para a vala existente.
Serão, também, criadas acessibilidades, como um caminho de acesso ao moinho, pontes de madeira sobre as valas de água, e será feita uma limpeza ao Parque Verde da Póvoa do Castelo, que vai ficar ligado ao lavadouro de São João de Azenha, com o apoio das Caves São João. “Assim, ficamos com um conjunto apelativo e único, que nos projeta para a história da freguesia, em contacto com a natureza”.
“A farinha da Póvoa do Castelo”
Os trabalhos começaram há três semanas e é expectável que no espaço de um mês a obra esteja concluída. “Depois, é afinar o moinho e transformar os cereais em farinha.”
De facto, espera-se que o moinho também seja um elemento de formação para os mais novos, pois poucos sabem para que serve e como funciona um moinho de água. “Queremos que esse conhecimento não se perca e é por isso que dizemos que é um moinho escola”, revela Artur Salvador.
Futuramente, as pessoas poderão moer ali farinha, quer seja por diversão, por história, ou por uma experiência impactante. Em breve, “vamos ter a Farinha da Póvoa do Castelo”.
O presidente da JF deixa ainda a dúvida no ar: “Quem sabe se no futuro, não teremos um pequeno forno ao lado do moinho, no Parque Verde, para cozer o pão produzido com a farinha que o moinho transforma”.
Estando localizado perto de um percurso dos Caminhos de Santiago, há ainda a intenção de colocar a seta dos Caminhos e trazer os imensos caminhantes, de várias partes do mundo, a conhecer o moinho, usufruir do parque verde e refrescar-se na Fonte do Castelo.