As obras de requalificação do Lar de São Martinho, uma das duas ERPI – estruturas residenciais para idosos – do Centro Social e Bem-Estar de Ouca, no concelho de Vagos, estão “em pleno andamento”. Uma intervenção “profunda e complexa” que, depois de terminada, proporcionará aos utentes “um ambiente mais seguro, confortável e ainda mais adaptado às suas necessidades”, avança Jorge Abrantes, presidente da direção daquela IPSS. Apesar dos “contratempos” que têm vindo a “condicionar a empreitada”, o dirigente acredita que a mesma estará concluída “antes do final de 2025”.
Quando este projeto de remodelação começou a ser desenhado, em 2018, já o Lar de São Martinho – construído há mais de quarenta anos – se encontrava “bastante degradado e desatualizado”. “Era inevitável avançar com as obras! Além de [aquelas instalações, no estado em se encontravam,] não corresponderem ao padrão de atendimento que procuramos seguir na nossa instituição, já não era humanamente viável acolher as pessoas naquelas condições”, reconhece Jorge Abrantes.
Por se tratar de uma construção com várias décadas, há muito que aquela estrutura se encontrava desfasada da atual realidade das ERPI, bem como das necessidades dos utentes que hoje procuram esta resposta. “Antigamente, a maior parte das pessoas chegava ao lar com mobilidade, independência e em posse das suas capacidades. Hoje, muitas chegam em idade mais avançada, em cadeiras de rodas ou acamadas e, por vezes, com demência. Exigem-nos cuidados mais personalizados”, partilha Jorge Abrantes.
Alteração do projeto e sustentação financeira
Inicialmente, a obra estava orçada em cerca de 700 mil euros, estando prevista uma comparticipação de 75% desse valor por parte do PARES 3.0 – Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (terceira geração) –, destinado ao financiamento de obras de construção e remodelação em equipamentos para a infância, idosos e pessoas com deficiência. No entanto, de forma a colmatar lacunas que, a princípio, não haviam sido identificadas, e a resolver problemas que, entretanto, tinham surgido, a instituição viu-se obrigada a alterar o projeto.
“O projeto que está a ser concretizado é uma reformulação do projeto inicial”, esclarece o dirigente, apontando “o alargamento das entradas”, “a eliminação de varandas internas e das lareiras”, “a requalificação do refeitório do pessoal” e a “completa renovação do sistema de canalização, da instalação elétrica e da caixilharia” como exemplos de intervenções que não constavam do plano inicial e que estão, neste momento, a ser implementadas.
Asseguradas estas melhorias, o custo da obra escalou, tendo sido adjudicada por cerca de 1 milhão e sessenta mil euros. Face a este aumento, a percentagem de financiamento diminuiu para pouco mais do que 52%.
Assim, para além da sustentação financeira do programa PARES 3.0, a instituição ainda precisa de assegurar uma verba significativa, propósito para o qual espera poder vir a contar com o apoio do município – na semana passada, de visita à IPSS, Pedro Bento, vice-presidente da Câmara de Vagos, mostrou-se sensível a este apelo e garantiu a “disponibilidade da autarquia para ajudar [a instituição] a concretizar os seus objetivos, nomeadamente, através da atribuição de apoios financeiros”, conta Jorge Abrantes.
Além do município, também a comunidade pode dar o seu contributo, principalmente, para a recuperação de alguns espaços que não foram considerados na obra. “Temos um espaço exterior que precisa de ser requalificado para que os utentes possam conviver, receber as suas famílias, partilhar um lanche ou praticar exercício”, descreve o dirigente. “Seria uma boa oportunidade para a comunidade nos ajudar”, indica.
Foi, aliás, com isso em mente que o Centro constituiu uma equipa interna para se dedicar à organização de eventos solidários e outras iniciativas de angariação de fundos. “Queremos que os nossos utentes e colaboradores – são, ao todo, 75 funcionários – sintam esta instituição como sua e se empenhem na concretização dos seus objetivos”, anseia Jorge Abrantes, convicto que o cumprimento desse desiderato transmita à comunidade um “sinal de vitalidade e dinamismo”.
Antes do início desta empreitada, o Lar de São Martinho tinha capacidade para 33 utentes. Depois de concluída a empreitada, “o objetivo é que ambas as ERPI – o Lar e o Centro Comunitário – fiquem aptas para acolher 40 pessoas”.
Futuramente, esta valência poderá também alargar-se à casa paroquial – contígua ao Lar de São Martinho, é uma moradia há vários anos desabitada –, caso esta passe para a gestão do Centro Social e Bem-Estar de Ouca, bem como à “antiga casa das freiras”, um edifício, localizado nas traseiras do Centro Comunitário, com capacidade para acolher até 13 pessoas, seja como ERPI ou “no âmbito de outra resposta social, por exemplo, na área da demência ou do apoio à família”, imagina Jorge Abrantes.
Atualmente, além das ERPI, o Centro Social e Bem-Estar de Ouca dispõe de uma creche e respostas nas áreas de SAD – Serviço de Apoio Domiciliário –, AAAF – Atividades de Animação e Apoio à Família – e SAF – Serviço de Apoio à Família.
Planos de crescimento e sustentabilidade
Natural de Aguada de Cima, em Águeda, e a residir em Oliveira do Bairro, Jorge Pereira de Abrantes – diácono permanente da diocese de Aveiro – assumiu a direção do Centro Social e Bem-Estar de Ouca, em setembro de 2020, por nomeação de D. António Moiteiro. Nessa altura, “esta casa atravessava um período de difícil gestão”, mas a experiência profissional como técnico oficial de contas e a memória dos anos em que fora provedor da Santa Casa da Misericórdia de Oliveira do Bairro davam-lhe a confiança necessária para abraçar aquela missão. “Estava disponível para servir a Igreja e aqueles que mais precisam, e acreditava que o meu histórico me ia permitir ajudar a instituição”, recorda.
Quatro anos depois, acaba de ser reconduzido para novo mandato, tendo tomado posse no passado dia 11 de novembro. Nos próximos anos, uma das principais metas da instituição vai passar pelo “aumento da capacidade do Centro Comunitário de 37 para 47 utentes”, revela o presidente. “Esta expansão não só vai fazer com que mais pessoas possam beneficiar do acolhimento e dos cuidados que proporcionamos, como vai permitir-nos ter uma resposta financeiramente mais sustentável”, explica.
No arranque deste mandato, são, igualmente, objetivos da instituição “estabelecer um protocolo com a Segurança Social que traga sustentabilidade financeira ao SAF”, “assegurar uma maior eficiência energética” dos seus edifícios – nomeadamente, através da instalação de painéis fotovoltaicos –, realizar “obras de reparação na zona adjacente ao parque de estacionamento” – um terreno “muito degradado” e que “alaga facilmente” –, “vedar a zona norte da instituição”, “substituir o sistema de videovigilância” e criar condições para a criação de “uma espécie de quinta pedagógica” onde os mais novos possam “ter contacto com os animais e a terra”.
Afonso Ré Lau