Aveiro despediu-se de 2024, ano em que assumiu o título de primeira Capital Portuguesa da Cultura, com “o sentimento de missão cumprida”. Em entrevista ao Jornal da Bairrada, José Ribau Esteves, presidente da câmara de Aveiro, faz um primeiro balanço desta experiência, prometendo manter o setor como prioridade estratégica.
Como é que avalia a Capital Portuguesa da Cultura e o impacto que teve para Aveiro e para os aveirenses?
De forma muito positiva. Foi um ano inesquecível. Tivemos um calendário cheio, não só pela intensidade da programação, mas também por aquilo que entendemos como sucesso: a qualidade e diversidade dos eventos, a adesão dos públicos e a notoriedade que este ano deu a Aveiro – cidade, município e região. Por tudo isto, celebrámos este encerramento com o sentimento de missão cumprida, entregando o testemunho a Braga para que seja uma grande Capital Portuguesa da Cultura em 2025.
Quantas iniciativas culturais foram realizadas ao longo de 2024?
Tivemos mais de 700 projetos, sendo que cerca de 100 foram estreias absolutas. Além desta componente mais imaterial da programação, é preciso realçar duas referências que deixaram marca física no território: a peça de Rui Chaves, nas Pontes, que inaugurámos no 10 de Junho e assinala este ano de Capital Portuguesa da Cultura; e o monumento evocativo da antiga muralha medieval de Aveiro, uma obra de arte de Álvaro Siza Vieira, que inaugurámos no dia 8 de dezembro, juntamente com a requalificação do adro da Sé Catedral. Deixe-me fazer uma alusão especial à nossa Casa da Música, em Aradas, um edifício há tantos anos abandonado ao qual demos nova vida, e que, desde 1 de outubro, Dia Mundial da Música, é a casa da Orquestra Filarmonia das Beiras.
Nesta dimensão do património edificado, 2025 também trará novidades.
2025 trará muitas novidades. Vamos assistir ao lançamento do concurso e ao início da intervenção de reabilitação do Museu de Aveiro/Santa Joana, mas também da obra do Museu da Terra, em Requeixo, do Museu de Arte Cerâmica Contemporânea e de outros seis edifícios, um pouco por todo o concelho, que vão ser transformados em espaços de qualidade e conforto para a produção cultural e a vivência comunitária.
Já garantiu que a aposta no setor cultural é para manter em 2025. De que forma?
Desde o início que vemos a Cultura como um instrumento de desenvolvimento integral e a assumimos como aposta estratégica. Com a vivência deste ano, conseguimos subir mais um patamar, nomeadamente, através da capacitação da rede de agentes culturais do município. Agora há que dar-lhe sustentabilidade, mantendo investimentos altos. Isso está refletido no nosso Plano e Orçamento para 2025 – a Cultura, nas suas várias dimensões, representa 9% do orçamento municipal, isto é, cerca de 20 milhões de euros – e queremos criar condições para que esta aposta possa continuar a ser aprofundada e consolidada nos anos seguintes.
Mas preveem dar continuidade a algum projeto criado especificamente para a Capital Portuguesa da Cultura?
Há vários que queremos manter, dando-lhes maior dimensão em 2025. Destacaria, por exemplo, o “Cantar-o-Lar”, um dos projetos que concebemos para a nossa candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, que materializámos na programação de Aveiro 2024 e que, não só pelo seu sucesso, mas pela profundidade daquilo que representa em termos de coesão social, na ligação aos cidadãos mais velhos que vivem em lares, entendemos que justifica a continuidade de investimento por parte da câmara.
Depois da experiência deste ano, sente o público aveirense mais atento, exigente e interventivo?
Absolutamente! E é isso que queremos com estes processos de crescimento: que as pessoas conheçam mais, participem mais, exijam mais. Ao longo do ano, fomos recebendo testemunhos de formas muito variadas e é com alegria que verificámos que há uma maioria de perspetivas positivas. Mas também acolhemos e agradecemos o contributo daqueles que nos criticaram porque nos estimularam a fazer mais e melhor. O exercício cultural tem de ser mobilizador e incluir todos, mesmo aqueles que não gostaram disto ou daquilo porque, no seu ato de partilha, são agentes ativos e confirmam que algo de importante aconteceu.
Das finalistas a Capital Europeia da Cultura 2027 que não obtiveram o título, Aveiro foi a primeira a assumir a nova condição de Capital Portuguesa da Cultura. Seguem-se Braga e Ponta Delgada. Acha que o conceito deve continuar depois de 2027?
Acho que sim e tive oportunidade de o afirmar à ministra da Cultura quando me fez essa mesma pergunta. É desafiante para um território assumir-se como palco de toda a Cultura portuguesa, mas também é muito importante para a descentralização da Cultura. O testemunho de Aveiro enquanto primeira Capital Portuguesa da Cultura é que esta é uma aposta que faz todo o sentido, que valoriza Portugal e o território que a acolhe, que mobiliza cidadãos, associações e empresas e que vale o investimento e a energia de todos, nomeadamente, do Governo.
Um ano de memórias, um legado sem fim
Aveiro despediu-se da Capital Portuguesa da Cultura no dia 29 de dezembro com uma cerimónia protocolar, no Teatro Aveirense. Presente naquela sessão, a ministra da Cultura felicitou Aveiro pelo trabalho realizado, vincando que “a Cultura não se harmoniza com a imagem de um segmento curto, algo que tem um princípio e um fim”. “Aveiro 2024 começou, mas não terminará”, concluiu Dalila Rodrigues.
Seguiu-se um recital de música clássica com a pianista Marta Menezes e “Cenários Infinitos”, uma parada artística concebida pela companhia alemã Theater Titanick, que percorreu as ruas da cidade – da Praça Marquês de Pombal até ao Rossio – na companhia de milhares de pessoas que fizeram questão de testemunhar os últimos momentos de “um ano inesquecível”.
Afonso Ré Lau