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Desporto // Futsal // Oliveira do Bairro  

 “O OBSC começa a ser uma referência” no futsal feminino

Tiago Gregório protagoniza uma história no desporto que vai para além do campo. O treinador da secção de futsal do Oliveira do Bairro Sport Clube (OBSC), entre recordações, conquistas, desafios e muita paixão pelo futsal, partilha nesta entrevista o seu percurso de dez anos numa modalidade para a qual entrou pela mão da filha.

Como é que entrou para o futsal?

A minha filha Beatriz entrou para a ADREP em 2015 e eu, como sempre estive ligado ao desporto, fui sendo aliciado para ajudar ou para ser diretor. Na ADREP, apesar de ajudar sempre por fora, mostrei-me algo reticente, mas passados dois ou três ano criou-se o projeto do Pateira, no qual, aí sim, fui parte integrante como seccionista e como alguém que no “backoffice” esteve envolvido na certificação do clube. O Pateira foi o 1.º clube de futsal a ser certificado no distrito de Aveiro.

Como é que reagiu à entrada da sua filha no futsal?

No início houve alguma reticência, porque na altura não havia muito a cultura do futsal feminino. Hoje, começa a ser normal as meninas jogarem futsal, o que é ótimo.

Que recordações guarda da experiência no Pateira?

O Clube Desportivo da Pateira foi um projeto extraordinário. Quer eu, quer o Gilberto Sarabando, que é hoje o treinador principal da equipa sénior do Oliveira do Bairro, temos muito orgulho e muito boas recordações de um projeto que, para além de ser formativo, chegou a ter sessenta atletas. Nós não promovíamos só o futsal, mas também toda uma componente social com os pais. Fazíamos as festas de Natal, os nossos magustos, levávamos as crianças ao Sporting, Benfica e Braga e, inclusivamente, chegámos a fazer duas Galas de fim de ano na Estalagem de Fermentelos.

Por que é que o projeto terminou?

Com muita pena minha, fomos sempre olhados com desconfiança por parte do Sporting de Fermentelos. Houve muita política pelo meio. Recordo que nos deparámos com um passivo muito negativo e fomos quase obrigados a “pegar” na Direção para as crianças poderem continuar a jogar futsal. Tornámos um clube que estava quase moribundo em algo muito positivo. Com pena nossa, acabou devido a “politiquices”, o que me deixou muito triste. O projeto trazia muita gente de fora a Fermentelos. Remámos contra a maré, mas, felizmente, todos continuamos no futsal com muita paixão.

Do Pateira, seguiu-se o Oliveira do Bairro…

Sim, a Beatriz foi depois convidada para o novo projeto do futsal feminino do Oliveira do Bairro. Havia uma grande carência, porque havia atletas, mas não havia um clube no sul do distrito, de futsal feminino.

Como descreve o momento atual do futsal do OBSC?

Temos atletas internacionais, temos sete representantes nas seleções distritais e todos os anos temos, no mínimo, seis atletas no Torneio Inter-Associações. Em todos os escalões, perdemos poucos jogos. Para nós, é um orgulho e prova o trabalho e a qualidade das nossas atletas.
Neste momento, temos 52 atletas, quatro escalões de formação e uma equipa sénior que foi criada este ano.

O Oliveira do Bairro começa a ser uma referência, até porque já começamos a ter atletas que vêm de clubes maiores para jogar nas juniores e nas séniores. Começa a ser um clube que as atletas procuram, porque trabalha de forma diferenciada. Temos ginásio, fazemos trabalho específico de guarda-redes e não descuramos a nutrição e o aspeto psicológico das jogadoras. Além disto, também somos um clube certificado com três estrelas e já estamos a trabalhar na renovação dessa certificação.

Acha que o clube deve continuar a apostar apenas no futsal feminino ou também deve enveredar pelo masculino?

Na região, temos vários clubes que trabalham muito bem no masculino, casos da ADREP, do Barrô e até da ARCA, mas muito sinceramente, para continuar a ser um projeto diferenciado, acho que deve continuar só no futsal feminino. Treinar meninas é algo extraordinário, primeiro pela forma dedicada como trabalham e porque andam nisto mesmo por paixão. Não é por acaso que temos atletas internacionais.

Por que é que optaram por criar esta época uma equipa sénior?

Nós, como tínhamos duas atletas que passavam a seniores, ou fazíamos um protocolo com um clube da região que as pudesse acolher ou então elas acabariam por ir para o futebol. Não era isso que queríamos que acontecesse, então, subimos algumas atletas de último ano de juniores para as seniores, fomos buscar algumas atletas ao Gafanha e formámos a equipa. Hoje, o objetivo das nossas atletas da formação é chegarem às seniores.

Para surpresa nossa, estamos em primeiro no campeonato interdistrital e, se tudo correr bem, vamos disputar a Taça Nacional e lutar por subir de divisão. Se isso acontecer, tudo muda, porque o orçamento terá de ser outro, teremos de reforçar a estrutura e o nosso compromisso para com o clube terá que ser ainda maior.

Foi no Oliveira do Bairro que decidiu tirar o curso de treinador…

No Pateira, nunca tirei o curso de treinador, era apenas alguém que ajudava nos treinos. No Oliveira do Bairro fiz uma primeira época como diretor, mas já ajudava no treino, até que fui aliciado a tirar o curso pelo Fernando Santos, o meu grande mentor e atual coordenador do futsal do OBSC. Desde os meus cinco anos, sempre fiz desporto, mas curiosamente nunca ligado ao futsal, mas sim ao ciclismo e ao atletismo. No futsal começaram-me a dizer que tinha jeito para ensinar, liderar e motivar e perguntavam-me por que não ia tirar o curso. E tirei. É mais uma ferramenta para liderar pessoas e de ajuda em atingir objetivos.

Quais são os seus objetivos futuros enquanto treinador?

Eu tenho o Nível 1, mas a minha ambição não passa por tirar o Nível 2, porque, devido a razões profissionais, não tenho tempo para o fazer. Neste momento, estou dedicado à parte física e não tanto ao trabalho de campo, por isso, equaciono a possibilidade de tirar cursos de nutrição e dessa componente física.

Tem feito um percurso sempre ao lado da sua filha. Imagina-se um dia no futsal sem a Beatriz?

A minha ambição é continuar no Oliveira do Bairro, porque é onde me sinto bem, independentemente do caminho que a Beatriz seguirá daqui a três anos, quando já for maior de idade. Ela terá de trilhar o seu caminho.

Pedro Neves