Foi com uma casa cheia que o IEC (Instituto de Educação e Cidadania) na Mamarrosa, acolheu a 9.ª edição das Conferências Professora Rosinda de Oliveira, no passado sábado, 8 de fevereiro. Estas conferências “nasceram no IEC em 2017 e, ao longo destes anos, temos tido oradores de várias universidades a abordar diversos temas, direta e indiretamente relacionados com a professora, mas sempre focados na educação”, disse Richard Marques, vice-presidente da direção do IEC, ao iniciar a tarde de conferência. Na ocasião, foram revelados também os resultados do Concurso Literário e de Ilustração Professora Rosinda de Oliveira, uma parceria com a PROMOB.
Desta vez, o tema para uma tarde de conversa e aprendizagem foi “Educação no Futuro: Desafios aos Professores, Alunos e Jovens”, dirigido pelo professor António Dias Figueiredo, da Universidade de Coimbra, que “tem sido um grande estudioso sobre a educação em Portugal”, afirmou Arsélio Pato de Carvalho, Presidente Honorário do IEC, ao introduzir o orador ao público.
António Dias Figueiredo deu início à 9.ª Conferência Professora Rosinda de Oliveira, dizendo que esteve no local “há sete anos pela mesma razão – prestar homenagem à professora Rosinda”. “Em sete anos aconteceram tantas coisas e o futuro é muito diferente daquilo que imaginávamos que seria”.
Não se imaginava que viesse uma pandemia, essa que acabou por ser “um teste à educação e não estivemos à altura”. Para além disso, existe uma “crise climática mais grave, várias guerras a acontecer no mundo e o relacionamento dos jovens com as tecnologias está cada vez mais perverso e estes estão mais vulneráveis”, pois não estão a tirar delas “o devido partido e estão expostos, ao partilharem os seus dados”, proferiu o Professor.
Outro problema verificado é a “atração dos jovens, e também dos adultos, pela simplificação, falta de rigor e desinformação”. “Nós simplificamos, mas o mundo é complexo”, acrescentou.
Para inverter este paradigma, o orador acredita que, para além das escolas adotarem uma “pedagogia explicativa”, que é mais teórica, mas, por si só “não chega para preparar os alunos”, devem seguir também “pedagogias práticas, que vão fazendo face aos desafios” e “pedagogias de socialização”, para “tirarmos partido de aprender em conjunto”.
A Inteligência Artificial (IA) foi outro tema bastante discutido, especialmente as vantagens, desvantagens e o uso que lhe é dado. O professor assume-se como um “utilizador ativo”, mas, ao mesmo tempo “preocupado, pois a IA está a ser usada de forma inversa ao que deveria ser, tal como as redes sociais”. Ambas podem ser positivas, apesar dos “defeitos” que ainda têm.
Contudo, apesar de, quando utilizada devidamente, ter bastantes vantagens, esta ferramenta pode ser prejudicial quando se lhe dá primazia ao invés das nossas capacidades mentais. “Deixamos de usar a nossa capacidade de cálculo e memória por causa das tecnologias. Temos de reforçar as nossas capacidades”, afirmou António Figueiredo Dias. “Quando delegamos nestas tecnologias essas capacidades, nós deixamos de raciocinar, pois já não temos esse exercício de raciocinação presente”, havendo, assim “um perigo muito grande na delegação cognitiva nas tecnologias”.
Com todas estas problemáticas e vantagens e desvantagens das novas tecnologias, questiona-se sobre o papel dos professores, dos alunos e das famílias nisto tudo. Na visão de António Dias Figueiredo, “os professores devem passar a usar e familiarizarem-se com estes sistemas, mas sem dar informações confidenciais”, devem utilizar uma “pedagogia de autonomia” e fazerem “o esforço de começarem, aos poucos, a discutir entre colegas sobre novos métodos de ensino”. Já os alunos, “devem habituar-se a ter autonomia e fazer um esforço para não entregarem a cognição às tecnologias”.
Quanto às famílias, ficou o apelo para pensarem no tipo de relação que têm com a escola. “Muitas vezes, as famílias olham para a escola como um serviço. Deixam os alunos na escola e querem que os filhos voltem totalmente educados e formados”, afirmou o professor, acrescentando ainda que “os pais não vão à escola para se envolver, mas sim para reclamar”. Se esta relação entre famílias e escola mudar, e os pais se envolverem mais, “a atitude das crianças será diferente”.
Seguiu-se à palestra uma intervenção do presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, Duarte Novo, que agradeceu a todos os que se dedicaram a participar neste concurso, enunciando a “necessidade de termos estes projetos na sociedade”, pois, “se não forem estas iniciativas a incentivar à escrita e ilustração, vamos perdendo as nossas capacidades cognitivas”, como proferiu o professor António Figueiredo Dias na Conferência. Enalteceu o legado deixado pela Professora Rosinda de Oliveira, não esquecendo que “agora temos de continuar a cultivá-lo e a transmiti-lo”. “Se fizermos este trabalho, acredito que aos poucos vamos mudando o paradigma da nossa estrutura”, concluiu.
No final da cerimónia, Sónia Ferreira, Presidente da Direção do IEC, e Ricardo Regalado, Presidente da Direção da PROMOB, entregaram uma pequena lembrança ao orador da Conferência e aos membros dos júris do Concurso. Para concluir, os presentes visitaram a exposição “Rosinda de Oliveira: Seis Décadas de Atividade Literária”, que está patente no IEC até ao final de fevereiro.
Resultados do Concurso Literário e Ilustrativo
Este foi também o momento de saber os resultados do Concurso Literário e do Concurso Ilustrativo Professora Rosinda de Oliveira. Este ano, a vertente literária bateu o recorde de participações, com 144 textos apresentados a concurso, sendo que o ano passado foram cerca de 30. “Este ano foi um desafio, tanto pela quantidade como pela qualidade”, afirmou Filomena Martins, Presidente do Júri da vertente literária do Concurso.
Por sua vez, Olga Santos, Presidente do Júri da vertente ilustrativa, enalteceu a arte como tendo um “papel fundamental na formação e educação” e que este concurso “é a valorização da Professora Rosinda, que achava importante a poesia, a arte e a natureza” para evoluirmos como seres humanos. Esta vertente, contou com 11 trabalhos a concurso.
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Vertente Literária
• Primeiro escalão (alunos do 4.º ao 6.º ano de escolaridade)
1.º Prémio: João Pedro Gomes – “Uma Aventura no Campo”
2.º Prémio: Miguel Tiago Osório – “Em Busca de Um Animal Desaparecido”
• Segundo escalão (alunos do 7.º ao 12.º ano de escolaridade)
1.º Prémio: Pedro Miguel Almeida – “O Casulo”
2.º Prémio: Maria do Mar Magalhães – “Estrela, Eu Quero Sorrir Outra Vez”
3.º Prémio: Mariana Perez – “Uma Verdadeira História”
Menção Honrosa (M.H.): Filipe Branco – “O Futebol é Uma Paixão Global”
• Terceiro Escalão
1.º Prémio: Mafalda Correia – “Tempo de Plantar Abóboras”
2.º Prémio: Ana Isabel Fonseca – “O Maluco da Amarela”
3.º Prémio (ex aequo): Luísa Lima – “Pétalas da Memória”
3.º Prémio (ex aequo): Sofia Barros – “A Dieta da Censura”
M.H.: Rafael Vieira – “História da Frustração”
Vertente ilustrativa
• Primeiro escalão
1.º Prémio: Mateus Garutti – “O Assalto na Escola Assombrada”
2.º Prémio: Vasco Ferreira – “O Melhor Natal de Sempre”
3.º Prémio: Maria Limas – “Oficina do Pai Natal”
M.H.: Gonçalo Santos – “O Melhor Natal de Sempre”
• Segundo escalão
1.º Prémio: Joana Santos – “Basta um Fósforo”
• Terceiro escalão
1.º Prémio: Eduardo Rodrigues – “Basta Um Fósforo”
2.º Prémio (ex aequo): Sara Oliveira – “À Luz da Esperança”
2.º Prémio (ex aequo): Simone dos Prazeres – “A Vitória dos Tremoços”
M.H.: Idalina Ribeiro – “Amizade em Tempos de Guerra”; Marta Pinto – “Rosa do Mar”; e Tânia Lopes – “Amizade em Tempos de Guerra”