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Autárquicas 2025 // Vagos  

Autarcas “de saída” em Vagos defendem que é preciso novos líderes

Na sequência das entrevistas sobre a limitação de mandatos, o JB conversou com os presidentes da Freguesia da Gafanha da Boa Hora e da União de Freguesias de Fonte de Angeão e Covão do Lobo, no concelho de Vagos, que fazem o balanço dos seus mandatos.

O Jornal da Bairrada continua a destacar os autarcas que, por força da limitação de mandatos, chegam ao fim do seu ciclo à frente das respetivas juntas de freguesia.

Nesta edição, os presidentes da Freguesia da Gafanha da Boa Hora e da União de Freguesias de Fonte de Angeão e Covão do Lobo, no concelho de Vagos, fazem o balanço dos seus mandatos e refletem sobre o impacto das suas lideranças, revisitando projetos concretizados, desafios superados e ambições que ficaram por cumprir. Apesar de também estar impedido de se recandidatar, o presidente da União de Freguesias de Vagos e Santo António não se mostrou disponível para participar neste trabalho.

Freguesia da Gafanha da Boa Hora

Arlindo Neves: “Estarei sempre disponível para a minha terra”

Antes de ingressar na política autárquica, Arlindo Neves já tinha um longo percurso de serviço à comunidade da Gafanha da Boa Hora. Organizara as marchas populares durante uma década, estivera à frente da irmandade local, participando na construção da capela mortuária, e assumira, a partir de 1996, a Junta de Agricultores. Como presidente daquela instituição, liderou “um dos maiores projetos da freguesia”: a construção do “Caminho do Canal” – com cerca de 9 quilómetros, estende-se ao longo da margem nascente do Canal de Mira da Ria de Aveiro –, uma obra que “garantiu a proteção dos terrenos de centenas de proprietários”.

Em 2013, quando se candidatou à junta de freguesia, muitos terão questionado como é que um agricultor assumiria um cargo autárquico. No entanto, provou que a sua experiência e dedicação seriam trunfos fundamentais. “O meu telemóvel está ligado 24 horas por dia, sete dias por semana”, afirma, dando nota do “compromisso total” que tem para com a freguesia. Apesar de inicialmente relutante quanto à sua entrada na política, a esposa veio a revelar-se o seu “maior apoio”, alertando-o para os problemas que encontra e recordando-o da sua responsabilidade para com os eleitores.

Durante três mandatos, foram construídos “cerca de 14 mil metros de passeios”, “parques de estacionamentos” e “jardins”, e realizadas “obras no centro escolar” e “no cemitério” – um muro frontal, arrumos laterais, novas campas e 42 gavetões para urnas.

Ciente do envelhecimento da população, Arlindo Neves implementou medidas de incentivo à mobilidade autónoma, nomeadamente, através da remoção – com o apoio da câmara – de obstáculos dos passeios e da colocação de nova sinalética.

Sob a sua gestão, a junta não só ultrapassou a situação de endividamento em que se encontrava, como se equipou de forma a conseguir dar resposta às exigências do dia a dia, passando a realizar obras sem com isso comprometer o futuro financeiro da freguesia. A requalificação do edifício e do armazém da Junta de Freguesia, bem com o da Casa do Povo – que agora acolhe eventos e aulas de karaté e ginástica –, e a criação da Feira dos 5 estão, igualmente, entre as suas iniciativas de maior relevo. Por concretizar ficou somente “um polidesportivo” que Arlindo Neves chegou a projetar para a freguesia.

À semelhança de outros autarcas com os quais o JB tem falado, também Arlindo Neves reconhece a importância da lei da limitação de mandatos, ainda que com reservas. “Os primeiros quatro anos são praticamente só para aprender e, quando o trabalho começa a render, somos obrigados a sair”, reflete, apelando ao aparecimento de novos líderes que surjam com “ideias inovadoras”, mas mantenham “uma gestão responsável dos dinheiros públicos”.

Ao longo destes 12 anos, foi um líder exigente e rigoroso, que procurou sempre servir todos os fregueses, independentemente da sua cor partidária. Agora, ao encerrar este ciclo, espera “que os próximos responsáveis consigam fazer ainda melhor”, projetando a Gafanha da Boa Hora para o futuro. Quanto a Arlindo Neves, continuará a ser um “cidadão ativo”. “Enquanto estiver na posse das minhas faculdades e capacidade física, estarei sempre disponível para a minha terra”, assegura.

União de Freguesias de Fonte de Angeão e Covão do Lobo

Albano Gonçalves: “É altura de sair e sair bem”

Albano Gonçalves está prestes a encerrar o seu último mandato como presidente da União de Freguesias de Fonte de Angeão e Covão do Lobo, um percurso iniciado em 2009, quando, depois de três mandatos como tesoureiro, assumiu a liderança da Junta de Fonte de Angeão. Com a agregação das freguesias, em 2013, continuou à frente do executivo, impulsionado pela “vontade de concluir projetos estruturantes” e o objetivo de “ajudar a fazer as pessoas felizes”, continuando a promover o desenvolvimento local.

De acordo com o autarca, a transição para a união de freguesias “trouxe grandes desafios”, desde logo, obrigando-o a um conhecimento mais aprofundado de Covão do Lobo, tarefa para a qual o anterior presidente daquela freguesia, Licínio Ramos, que aceitou integrar a equipa liderada por Albano Gonçalves como seu secretário, desempenhou um papel crucial. “Deixou de ser presidente para me dar o lugar e nunca pediu nada em troca”, recorda, reconhecendo a “humildade” do gesto.

Ao longo de três mandatos, Albano Gonçalves focou-se em obras essenciais como o Centro Escolar de Fonte de Angeão, os arranjos no centro de Covão do Lobo e de Rines, a valorização da Lagoa do Moitão ou a criação do Trilho da Lontra. “Não são obras de milhões, mas fazem a diferença”, explica. Por outro lado, projetos como um parque de estacionamento junto à igreja de Fonte de Angeão, um “Museu da Ruralidade” em Covão do Lobo e um pavilhão desportivo não foram concretizados.

“É aborrecido ter de andar sempre de ‘chapéu na mão’ atrás de financiamento. Sinto que os presidentes de câmara, por vezes, não reconhecem o trabalho das juntas”, lamenta. Para Albano Gonçalves, a forma como os fundos disponíveis são distribuídos penaliza as freguesias rurais, que acabam por depender quase exclusivamente da boa vontade dos municípios. “As freguesias deviam ter mais autonomia para pensar, projetar e realizar obras”, reivindica, defendendo que as verbas deviam ser atribuídas considerando fatores como o número de habitantes e a área territorial.

Albano Gonçalves concorda com a lei de limitação de mandatos: “estas funções são desgastantes, e é necessário dar espaço a novas ideias. Se pudesse recandidatar-me, teria de ponderar, mas é altura de sair e sair bem.”

Quando deixar o cargo, pretende dedicar mais tempo à família e ao trabalho, mantendo-se ligado à freguesia, mas sem assumir um papel ativo.

Afonso Ré Lau