Durante 13 dias (de 12 a 24 de julho) as aldeias de Canelas, Mata, Póvoa do Gago e Figueira de Boialvo estiveram praticamente sem água da rede pública. Devido ao escasso caudal que chegava às torneiras, naqueles dias, a população destas aldeias serranas, mal tinha água para banhos. “Era impensável lavar louça ou roupa nas máquinas”, confirmaram a JB moradores de Canelas, dando conta de que havia pessoas que nem água tinham para tomar banho, sobretudo nas zonas mais altas da localidade que, por ser serrana, é bastante acidentada. “Quem está em zonas mais baixas não sentiu tanto”, disseram, assim como quem tem furos, também não terá sentido com tanta intensidade este problema.
Contudo, esta não é uma situação inédita, já que todos os anos, no verão, a pressão nas torneiras baixa muito. Há mesmo quem esteja farto e responsabilize a Câmara Municipal de Anadia por ter deixado estas localidades serranas ao abandono. “Só se lembram do povo nas eleições. Às vezes a pressão da água é tão baixa que nem dá para acender os esquentadores”, disseram-nos.
Camiões de água. Assim, a Câmara Municipal foi obrigada a tomar medidas extremas: durante estes dias, mas também nas semanas que se seguiram, camiões cisterna da Câmara Municipal de Anadia e dos Bombeiros Voluntários de Anadia, andaram noite e dia, num corrupio, serra a cima, a transportar água para o reservatório da Mata que abastece aqueles lugares serranos.
A situação já foi normalizada, muito embora o edil anadiense, Litério Marques, reconheça que ainda está a ser transportada água para aquele reservatório por forma a evitar que os níveis no reservatório cheguem aos valores mínimos registados em julho.
Para Litério Marques tratou-se de uma situação completamente anormal e inédita, relacionada com o consumo excessivo de água, numa semana de extremo calor no país, associado a um elevado número de ruturas que levou a que este reservatório não conseguisse dar resposta às necessidades das populações.
“Em descendo, os níveis no reservatório não são fáceis de recuperar. Foi o que aconteceu nesta situação”, disse e contrariando o rumor de que teria existido uma avaria grave numa das bombas do reservatório, acrescentou: “As pessoas falam do que não sabem. Aquela zona é abastecida pela Fonte da Azenha, localizada em Anadia. No entanto, como a rede é muito extensa e antiga, alguma água perde-se no caminho, na medida em que também a adutora faz várias distribuições pelo caminho até lá chegar, ou seja, a água acaba por faltar nas pontas da rede, como foi o caso”.
Prospeção e água em Ferreirinhos. A falta de água durante os meses de verão era uma situação que segundo o autarca também acontecia em Vila Nova de Monsarros e em Aguim, entretanto já resolvida. “Agora é Avelãs de Cima que precisa de um trabalho profundo a este nível”, disse, avançando que a autarquia vai procurar alternativas e fazer prospeção nesta freguesia, já que o ideal seria ter uma fonte de abastecimento em Avelãs de Cima. Um trabalho que será realizado no inverno, sendo certo que, enquanto decorrerem trabalhos de renovação de circuitos da rede mais antigos e degradados, a autarquia está determinada em avançar com um furo naquela zona serrana: “O que custa é encontrar o local certo, com água de qualidade e com o caudal necessário para fazer as ligações à rede”, acrescentou.
A JB confirmou ainda que também na povoação de Ferreirinhos (que ainda não tem água da rede) serão colocados em marcha, nos próximos meses de inverno, os trabalhos que vão permitir levar água da rede pública a esta aldeia. A obra será feita durante o inverno porque a Câmara tem mais pessoal disponível. Quanto ao reservatório da Mata de Cima, “por uma questão de precaução, continuaremos a levar água para lá e estar atento aos níveis mínimos no reservatório”, avançou, dando conta de que cada camião transporta cerca de 75 mil litros e que durante os dias mais críticos foram feitas várias viagens.
O autarca, que espera no próximo ano ter este problema resolvido em Avelãs de Cima, adiantou que, para já, a prioridade é continuar a prestar assistência o mais prontamente possível a estes lugares e a estas ruturas, por forma a não haver tantas perdas de água.
Consciente de que existem, no concelho, vários troços de rede a precisarem de urgente substituição, reconheceu que as freguesias de Avelãs de Cima e Sangalhos são das mais preocupantes, tal a quantidade de ruturas.
“Andámos 15 dias a correr para Sangalhos para localizar ruturas. Temos em alguns pontos da rede que substitui tubagens porque já lá não vamos com remendos. É dramático”, admitiu.
Todavia, também reconheceu ser necessário desenvolver todo um trabalho de sensibilização e fiscalização, por forma a fazer com que a população compreenda que a rega de jardins e quintais não é tão prioritária quanto terem água para consumo humano.
Junta de Freguesia defende resolução do problema. A Junta de Freguesia, liderada pelo autarca Manuel Veiga, defende a resolução destes problemas. Por isso, congratula-se com o facto do caso de Ferreirinhos estar em fase de resolução, assim como não deixa de elogiar o facto da Câmara Municipal estar empenhada em encontrar uma solução definitiva para estas localidades serranas da freguesia.
Catarina Cerca
catarina@jb.pt