Começou pela madrugada (27 de julho), foi extinto, 60 horas depois. Alegadamente de origem criminosa, segundo o relatório elaborado pelo comando operacional, o incêndio de Vagos ocorreu em 1987. Combatido por centenas de bombeiros e soldados do Batalhão de Infantaria de Aveiro (BIA), deixou na região um rasto de cinzas e um rol de promessas por cumprir.
Há 25 anos, um telefonema dos bombeiros de Mira para o quartel de Vagos, pelas 2h40, dava o alerta, indicando a natureza da ocorrência: um foco de incêndio florestal, localizado no limite do concelho de Vagos, mais propriamente na Gafanha do Areão ou Poço da Cruz, junto às dunas de Vagos.
Cinco minutos mais tarde, eram acionados os meios terrestres do corpo de voluntários de Vagos (13 homens, 2 viaturas), que combateram o fogo com os operacionais de Mira. Estes, recorde-se, tinham sido os primeiros a chegar ao local da tragédia, na sequência do alerta, dado pelo posto de vigia.
Segundo relatos da época, o sinistro terá apanhado de surpresa os “soldados da paz”. Que, diga-se, desconheciam a dimensão do incêndio e as condições desfavoráveis da zona, classificada mais tarde, pelo comando de Vagos, como “densamente florestada”.
Tal facto, aliado à configuração do terreno, arenoso e de acesso limitado, e ainda à falta de água no local, obrigaram inicialmente ao recurso a batedores, em detrimento dos clássicos pronto-socorro médio e pesado todo o terreno, adequados para se mover em terreno solto.
Meios que a corporação vaguense não tinha na altura, o que tornou “extremamente cansativo e infrutífero” o trabalho no terreno. “Entrámos na floresta a apagar o fogo com pás e enxadas, e só pela manhã alguém se lembrou de subir a um pinheiro para verificar a verdadeira dimensão do incêndio”, recordaria, anos mais tarde, o atual comandante dos bombeiros de Ílhavo, Carlos Mouro.
Prejudicadas pelo vento, que soprou com grande intensidade até ao raiar do dia, e nos dias subsequentes, as operações envolveram 18 corporações de Aveiro e Coimbra.
Um total de 200 homens e 38 viaturas, para além das máquinas dos serviços florestais, da câmara de Vagos e de alguns particulares. Meios aéreos sediados na Lousã, foram ainda deslocados para a zona, onde acorreram também helicópteros da Força Aérea.
Para além do inspetor regional dos bombeiros do Centro e do então presidente da câmara de Vagos, João Rocha, também o governador civil de Aveiro se deslocou ao teatro das operações. Sebastião Dias Marques queria inteirar-se da progressão do incêndio e dos meios existentes no terreno para o combater. Seria, aliás, na sequência desta visita que foram enviados para a frente de fogo 25 soldados do BIA, que ali se mantiveram durante dois dias.
Protagonistas. No topo da ribalta política, João Rocha considerou, na altura, que a construção do estradão da Lomba, por parte da autarquia, terá “salvo por assim dizer a floresta”. Muito crítico em relação aos serviços florestais, o autarca de Vagos viria denunciar, mais tarde, que por falta de verba, aqueles serviços tinham procedido à limpeza da área ardida, sem contudo retirar minimamente a lenha. “É inconcebível”, comentou, depois de ter anunciado que o processo de reflorestamento poderia vir a ser liderado pela câmara.
Preocupado com a falta de meios, o comandante António Castro reconheceu, em declarações à imprensa que os bombeiros de Vagos não se encontravam “minimamente preparados para atuar em fogos florestais”. Confirmando não ser previsível, para já, que a corporação de Vagos viesse a ficar servida em termos de operacionalidade, aquele comandante considerou que o incêndio teve a combatê-lo apenas três viaturas todo o terreno, duas de Águeda e uma dos bombeiros Novos.
Em comunicado, a direção dos bombeiros de Vagos fez questão de agradecer à população o apoio prestado e deu conta dos prejuízos materiais causados – uma ambulância destruída, devido a acidente, e diverso material consumido pelo fogo. “A hora é de tristeza, mas também, e acima de tudo, de confiança no futuro”, referia o comunicado, reiterando vontade firme de continuar a servir, com “dedicação e altruísmo”, o concelho no seu todo.
Eduardo Jaques
Colaborador