O ex-ministro da Economia de António Guterres, Augusto Mateus (março de 1996 a novembro de 1997), foi investido confrade honorário, na noite do último sábado, pela Confraria dos Enófilos da Bairrada, durante o 34.º Grande Capítulo daquela Confraria.
À semelhança de todas as outras edições, o evento decorreu no Palace do Buçaco, local onde foram ainda entronizados sete confrades efetivos e cinco confrades de mérito (brasileiros).
É preciso produzir mais, melhor e com qualidade. O economista e professor catedrático, Augusto Mateus referiu ter aceite o convite “para ajudar a desenvolver a região”. Na sua perspetiva, “a região pode confiar no futuro, pois é um exemplo do que o país pode fazer para ultrapassar problemas e dificuldades”. Embora a situação económica do país seja difícil, o país tem de apostar nos contactos com os países emergentes (Índia, China, Brasil, Rússia e África do Sul).
E, em matéria de vinhos, afirmou que é preciso produzir bom, fazer um produto com valor, fácil de comercializar, ao gosto do consumidor: “é preciso acrescentar cultura e diferenciação neste mundo global em que vivemos”. Daí, que o futuro passe pela criação de valor de forma inteligente, capaz de ultrapassar problemas de competitividade. “A Bairrada sozinha não vai a lado nenhum”, avançou, mas deve ter em conta, por exemplo, a contribuição que pode ser dada pelos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que podem funcionar como uma plataforma para Portugal se afirmar no mundo.
Por outro lado, defendeu que a experiência, conhecimentos e sabedoria dos reformados não pode ser desperdiçada: “são muitos homens e mulheres que podem ajudar a tomar decisões com menos risco”. Por isso, defende a reforma do modelo social, “este é insustentável”, até porque é obrigação do poder político decidir, mas nunca contra a sociedade ou contra a economia. “É preciso investir mais e consumir menos”, disse.
Em nome dos sete novos confrades efetivos, caberia a Pedro Soares, presidente da CVB, destacar que a “Confraria é um grupo de amigos, com interesses comuns, neste caso, elevar os vinhos da região da Bairrada ao patamar da excelência”, não deixando também de salientar que a Confraria dos Enófilos da Bairrada “tem sido determinante no delimitar da região vitivinícola Bairradina”.
Confrades “embaixadores” no Brasil. Já pelos seis confrades de mérito (todos eles brasileiros), o médico pediatra Mário Teles diria estar, como os seus pares, “honradíssimo por passar a fazer parte desta Confraria, podendo estar certa a direção da Confraria e todos os confrades que terão em cada um de nós um embaixador do vinho da Bairrada no Brasil”.
Sentida homenagem a Luiz Costa, “pai” da Confraria. Como manda a tradição, pelos velhos confrades, António Celestino de Almeida fez uma resenha histórica das potencialidades e riquezas da região da Bairrada: terreno fértil para a agricultura, para a criação de gado, para o desenvolvimento das indústrias da cerâmica, madeira, metalurgia e das duas rodas.
Mas foi sobre o desenvolvimento do setor vitivinícola que se debruçou, falando da enorme qualidade que tanto os vinhos brancos como tintos conseguem atingir, resultando a casta Baga (casta mais emblemática da Bairrada) em vinhos de excelência. Uma terra de ilustres (políticos, escritores, poetas, pintores) mas também de Luiz Costa, autor e mentor da Confraria (recentemente falecido, aos 84 anos) homenageado aqui pelos seus pares confrades de duas formas distintas: a capa que ilustra, anualmente, a brochura do Grande Capítulo, este ano foi ilustrada com um excerto de uma sua carta, escrita a 23 de setembro, poucos dias antes do seu falecimento. Um excerto delicioso que evidencia a sua lucidez e boa disposição.
Ainda nesta brochura, António Dias Cardoso assina um texto dedicado a Luiz Costa, impulsionador da demarcação da região da Bairrada e mentor da Confraria, que sempre recusou as luzes da ribalta “mantendo-se no seu posto predileto: o da formiga laboriosa”. Por isso, refere, as mais marcantes realizações da Confraria “levam a sua marca inconfundível de requinte e bom gosto”. “Um homem afável, culto, conversador inato, de quem, facilmente, se ficava amigo e admirador”, refere Dias Cardoso.
De igual forma, também Fernando Castro, presidente da direção da Confraria, se referiu ao falecimento de Luiz Costa (4 de outubro) a quem muito a Confraria fica a dever. “A Confraria era como uma sua filha muito querida e na qual tinha muito orgulho, tal era o carinho com que sempre a tratou e como a acompanhava, o tempo que lhe dispensou, as ideias e conselhos que lhe deu, as marcas que nela deixou, as cartas que lhe escreveu”.
Região para produção de espumantes de excelência. Fernando Castro não deixou de realçar que esta é uma região capaz de produzir espumantes de excelência. No âmbito dos 125 anos da Estação Vitivinícola da Bairrada, reconheceu que este produto “veio revolucionar a região. Não imagino a Bairrada, de hoje, se não tivesse havido ideia (há 125 anos) de aqui o produzir”. Por isso, sublinhou que o espumante deu um incremento económico à região e que a Bairrada tem aqui argumentos muito fortes para se afirmar. “Existe o empenhamento da Comissão Vitivinícola da Bairrada para sensibilizar os agentes para a produção de espumantes de qualidade. Esse é o nosso potencial e caminho a seguir”, concluiria.
Catarina Cerca
catarina@jb.pt