Litério Marques, presidente da Câmara Municipal de Anadia, foi a figura pública convidada para uma conferência que decorreu na passada quinta-feira, na Biblioteca Municipal de Anadia.
Promovida pela Associação dos Aposentados da Bairrada (com sede na Mealhada), esta conferência debateu a posição de Anadia face à crise económica que o país atravessa e o eventual condicionamento das suas atividades perante a comunidade local concelhia, resultante de tal realidade.
Nuno Salgado, presidente da Associação dos Aposentados da Bairrada, falou desta associação que, com 12 anos de vida, integra associados de vários concelhos: Mealhada, Anadia, Cantanhede, Oliveira do Bairro, Águeda, Penacova e Coimbra. “Há três anos criámos esta rubrica «Momentos de Saber», realizados de dois em dois meses, para a qual convidamos um conferencista que pode ser um associado ou convidado”.
Este ano, as conferências têm sido dedicadas à temática da crise económica que o país e a região atravessam, mas conhecendo também as implicações que esta tem, sobretudo nos municípios da Bairrada.
“Já ouvimos os autarcas da Mealhada e Cantanhede. Agora vamos ouvir a posição de Litério Marques”, disse no início dos trabalhos.
Animado debate. Crítico q.b., Litério Marques começou por explicar que, apesar de todos os condicionalismos, o município continua a revitalizar-se “fruto do projeto” do seu executivo. Uma equipa que considerou “coesa, dinâmica” e que, por isso mesmo, tem tido êxito.
Exemplo disso ter, em curso, cerca de 35 milhões de euros em obras, para cuja maioria conseguiu obter comparticipações e financiamentos.
“Somos um exemplo de moderação gastadora. Não abdicamos dos impostos mínimos, mas também lutamos junto do Poder Central para conseguir ganhar candidaturas e financiamentos”, explicou.
Crise e desemprego no concelho. Sobre a crise em geral, lamentou o estado a que a nação chegou, sendo os mais vulneráveis (crianças, jovens, idosos, reformados e desempregados) os que mais sofrem.
Consciente das dificuldades que as famílias do seu concelho atravessam, não escondeu que as carências são de diversa ordem: “Anadia é um concelho igual aos outros.”
“Sabemos que há muitas pessoas que viviam bem e, hoje, estão em situações difíceis”, por isso deu conta da existência do Fundo Social, criado pela autarquia, para “acudir a situações de maior carência social no concelho”, ainda que lamente a existência de muita pobreza envergonhada, à qual é difícil ajudar.
“A maioria dos nossos munícipes vive do salário mínimo ou abaixo dele”, acrescentou.
Depois, numa alusão ao desemprego, avançou que o Governo tem a sua quota de responsabilidade: “ele é mais porque eles querem”, não deixando de criticar o facto da Câmara Municipal não poder contratar mais funcionários: “nós temos pessoal a menos e não temos possibilidade de contratar, nem que seja por um ou dois anos. A cegueira é assim”.
Obras condicionadas. Embora a Câmara Municipal de Anadia “não tenha nenhuma crise financeira”, também sente as dificuldades, já que a “crise modela as formas de administrar e de gastar os dinheiros”, disse, explicando que as autarquias deixaram de poder utilizar as verbas livremente. “Hoje temos dois países: o real e o dos políticos. Acabou-se a gestão de proximidade. A nossa capacidade de decidir acabou, mas cada vez delegam-nos mais competências. Isto é dramático”, disse, lamentando que o “garrote” imposto pela tutela, não distinga o trigo do joio, ou seja, as autarquias que são boas administradoras, que gerem e governam com sentido da sustentabilidade, como é o caso de Anadia, das outras, altamente devedoras, acabando Anadia por ser penalizada.
Por isso existem limitações e constrangimentos, contudo, destacou que na próxima Assembleia Municipal de dezembro, a Câmara Municipal vai apresentar um saldo positivo de mais de cinco milhões de euros, “dinheiro em que não podemos mexer para fazer obras. Mas o Estado continua a emprestar dinheiro a Câmaras altamente devedoras”.
O edil anadiense lamentou ainda o PDM altamente penalizador para o desenvolvimento do seu concelho, mas também a Reorganização Administrativa do Território, que dita a fusão de freguesias no concelho, o esvaziamento do Tribunal de Anadia, das Unidades de Saúde, não terminando sem fazer uma referência ao tão desejado nó de acesso à A1, no seu concelho. “Era uma obra justa para Anadia e muito reivindicada pelo meu executivo. Só por incapacidade e interesses políticos, em determinada altura, não avançou”.
No final, houve ainda um animado espaço para debate, tendo ainda o grupo tido a possibilidade de visitar a Biblioteca, com explicações a cargo de Sónia Almeida, responsável por aquele espaço.
Catarina Cerca
catarina@jb.pt