José Maria Ribeiro está desiludido com a política nacional e lamenta o estado a que o país chegou.
Completamente contra a Reorganização Administrativa das Freguesias que determina a fusão das freguesias de Mogofores e Arcos, reconhece não conseguir encontrar nenhuma vantagem na lei e na reforma imposta pelo Governo.
Extinção da freguesia é um absurdo. “Ser o último autarca da freguesia de Mogofores deixa-me uma mágoa. Nós, presidentes de Junta de Freguesia, não trabalhámos para isto. Sempre lutámos pelo melhor para as nossas freguesias”, avança, lamentando que também as populações não se tenham ainda apercebido das reais dimensões da reforma: “as pessoas ainda não caíram na real, não estão sensibilizadas nem conscientes do que vai acontecer”, diz, reconhecendo que a população vai perder um serviço de proximidade que muita falta faz, sobretudo aos mais idosos: “sou eu que muitas vezes faço as provas de vida e os atestados de residência e os levo a casa das pessoas, mais idosas e sem transporte. Imagine como vai ser no futuro”.
Por isso, manter-se na vida política local é ainda uma grande incógnita: “ainda não pensei nisso. Há uma grande indefinição e nem sabemos ao certo o que é que isto das freguesias vai dar”.
Uma coisa é certa, José Maria Ribeiro defende que a extinção da freguesia de Mogofores é um enorme absurdo e está convicto que estas serão as eleições autárquicas com a maior abstenção de sempre. Não só porque muita gente não irá votar por estar igualmente desiludida com a política, mas porque nas freguesias alvo de extinção os boicotes são uma possibilidade cada vez mais real: “agora anda tudo calado, mas na hora certa pode haver uma reação das populações. Não tenho dúvida”.
Por isso, vê também com bons olhos o aparecimento de Movimentos de Cidadãos, independentes e apartidários na corrida à Câmara. “As pessoas estão desiludidas com os partidos e esta é uma forma de assumirem a sua cidadania”, destaca.
Balanço muito positivo. A cumprir o seu segundo mandato, faz um balanço muito positivo da experiência autárquica.
Apesar de ter um orçamento anual muito reduzido (35 mil euros) , diz que foram oito anos de vida autárquica muito positiva, que permitiram fazer muitos melhoramentos na freguesia.
A oito meses da saída, avança também que obras a fazerem-se só com dinheiro na mão, já que não quer deixar dívidas aos seus sucessores. “Só fazemos obras que possamos acabar”. Por isso, todas as obras de maior vulto só serão possíveis com a colaboração da Câmara Municipal de Anadia, que “nunca me faltou com nada”, diz reconhecendo que, embora tenha sido eleito por uma lista do PS (maior partido da oposição), nunca se sentiu discriminado pela Câmara Municipal, da maioria PSD. “Fui sempre tratado de igual em relação aos meus colegas, presidentes de Junta”.
Algumas obras a terminar o mandato. Assim, acredita que este ano – e porque já tem a garantia do edil Litério Marques – o saneamento e o alcatroamento da Rua do Covelo e da Rua e Travessa do Rio do Olho vão ser uma realidade, por forma a permitir que a freguesia fique com cobertura total de saneamento.
Também o temporal de 19 de janeiro deixou marcas na freguesia, sobretudo no Parque de Merendas. “Estava muito bonito e arranjado. Agora está muito danificado com a queda de árvores e precisamos de intervir naquele espaço”, diz, dando conta de que, para além da queda de várias árvores, outras representam perigo para as pessoas por estarem tombadas. Contudo, também a vedação do recinto e alguns equipamentos do parque infantil ficaram danificados.
“Vai exigir muito trabalho, mas uma parte já foi limpa. Também já solicitei a avaliação a três madeireiros para as árvores que estão no chão e tombadas. Optamos pela oferta maior.”
Todavia, reconhece que só no fim da limpeza de todo o parque será possível avaliar se é ou não necessário proceder à replantação de algumas espécies: “O parque, a meu ver, até tinha árvores a mais. Agora, com o espaço mais livre, acredito que algumas espécies até vão alargar e preencher o espaço livre, pois estavam muito apertadas, umas quase em cima das outras”.
Também o mau tempo causou danos nos cedros junto do cemitério local, o que levou o executivo a determinar a retirada dos restantes cedros do local: “a maioria caiu a 19 de janeiro, mas os que ficaram vão ser retirados. Queremos preencher o espaço com mais algumas árvores e pedra, como fizemos num dos lados do acesso ao cemitério”.
Também a ponte da Várzea que serve vários agricultores da zona precisa de uma intervenção urgente. “A ponte, junto à Rotunda de Espairo, na variante das Quintas da Morteira, está com um pilar, num dos lados, podre e precisa ser substituído”. A ponte pedonal, segundo o autarca, tem os alicerces em ferro em contacto com a água e terra e encontra-se apodrecidos, pelo que terão de ser substituídos. “Faz falta às pessoas que querem passar a pé para as terras. A ponte tem que ser refeita, na totalidade”.
Ao nível das pavimentações, quer ainda alcatroar a rua do campo de futebol, uma vez que se encontra muito danificada. O pedido já foi feito à Câmara.
Embora esteja de saída, lamenta não ter conseguido nos seus mandatos construir um salão de festas coberto, previsto para um terreno doado à Junta de Freguesia, na zona do Cabeço. “Nunca tivemos dinheiro para tal. Deixa-me muita pena porque era uma mais valia para a população”, refere, dando nota de que também o centenário Cruzeiro de Mogofores teve uma vez mais de ser restaurado após mais uma colisão de uma viatura com um dos pilares que o suporta. “A localização do cruzeiro é delicada. Há quem defenda a sua mudança para outro local, para facilitar o trânsito naquela via, mas muitas pessoas são contra, por ser centenário”. Daí dizer que se aparecer uma comissão e a população aceitar a mudança, não se irá opor. “O cruzeiro não é da JF, mas sim do povo, do lugar e a Junta deve aceitar a decisão do povo”, ainda que, como cidadão da freguesia, não se oponha à eventual mudança.
Catarina Cerca