O auditório da Biblioteca Municipal de Anadia foi pequeno para acolher, na tarde do último sábado, familiares, amigos, autarcas e muitos anadienses que fizeram questão de não faltar à apresentação da obra “José Luciano de Castro – Um homem de Estado (1834-1914)”, da autoria do anadiense Manuel Cardoso Leal.
Manuel Maria Cardoso Leal é líder da bancada do PS, na Assembleia Municipal de Anadia. Por isso, a classe política esteve em peso no evento, que serviu ainda de pano de fundo à inauguração da exposição sobre a vida e obra de José Luciano de Castro. Uma mostra que irá estar patente ao público, na Biblioteca Municipal de Anadia até ao dia 6 de abril, altura em se tornará itinerante, para passar pelas bibliotecas dos 11 municípios que integram a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA).
A obra agora apresentada marca o início do conjunto de iniciativas que vão assinalar o primeiro centenário de José Luciano de Castro. Ações que vão dar o mote para um ano de homenagem ao chefe progressista e presidente do conselho de ministros, que adotou Anadia como sua terra, completando-se a 9 de março de 2014 o primeiro centenário da sua morte.
Na ocasião, a vereadora da Cultura, Rosa Tomás, referiu-se ao dia como sendo de “festa”, “pela pessoa muito especial retratada na obra, mas também pelo autor, nosso conterrâneo”. Um dia especial porque naquele sábado, dia 9 de março, se completaram 99 anos, sobre o desaparecimento de José Luciano de Castro.
Obra. Foi a tese de mestrado em História Contemporânea, concluído em 2011, por Manuel Maria Cardoso Leal que serviu de base a esta obra. A apresentação da mesma esteve a cargo do Professor Doutor Luís Reis Torgal, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O livro acompanha o percurso pessoal de José Luciano de Castro, analisa as suas intervenções nas principais questões e traça o seu perfil político, donde resulta uma perspetiva própria do seu tempo histórico.
De uma forma simples e informal, referiu-se ao autor como um “aluno brilhante” já que fora seu professor em Anadia, no Colégio Nacional, nos anos de 1965/66. Por isso, “esta é para mim uma tarefa espinhosa”, não só porque fora incumbido de fazer a sua apresentação, mas porque ainda não a lera (chegara-lhe à mão, momentos antes do evento). “Irei lê-la muito atentamente”, disse, e referindo-se a Cardoso Leal como o “biógrafo de José Luciano de Castro”, defendeu que esse é um papel extremamente difícil. Porquê? “Porque se fica profundamente ligado aos biografados. Podemos não ter qualquer aproximação ideológica, mas há simpatia pelo biografado”, destacou.
Socorrendo-se de algumas páginas do livro (enviadas previamente pelo autor), sublinharia que “ Cardoso Leal fez uma análise objetiva” dos factos. Por isso, “tenho de elogiar o seu trabalho feito pela objetividade do historiador”.
Mas, sobre José Luciano de Castro, diria ter sido o que hoje se apelida de um “jota”, “que nunca fez nada e entrou logo para a política, ainda muito jovem”. “Aos 20 anos já era um parlamentar. Era um jota, sem ter a experiência de vida”, referiu, ainda que admitindo ser “a política a sua vocação”. Uma vocação natural que lhe valeu tornar-se no parlamentar português mais precoce e o de maior longevidade de sempre mas que, a seu ver, acabou por ser derrotado: “viveu a vitória política mas também a derrota”.
Homem de talentos. Cardoso Leal discordou da interpretação de “derrotado”, até porque, na sua opinião, José Luciano de Castro foi um “chefe carismático do Partido Progressista, da esquerda do regime monárquico, que presidiu a vários governos, num total de nove anos”, tendo também praticado, “valores essenciais das atuais democracias: parlamento, eleições, partidos, liberdade de imprensa”, diria.
À plateia revelou que “José Luciano de Castro teria outros talentos, para além da política.” Foi fundador de um jornal, no Porto, exerceu advocacia, foi jornalista, fundou a revista “O Direito” que se mantém há 150 anos e foi um dos melhores jurisconsultos da sua época”. Por isso, diz que o homenageado “poderia ter sido brilhante noutras áreas”.
O autarca Litério Marques, que naquele dia completou 72 anos (com direito a bolo e a parabéns a você) dirigiu-se a Cardoso Leal como “um adversário político, mas um amigo na vida”, que tem feito “um trabalho brilhante”, pelo que o desafiou a continuar a escrever sobre Anadia e sobre as suas inúmeras figuras públicas. “Anadia tem necessidade deste tipo de obras”, disse, dando conta de que a posição da autarquia em termos de desenvolvimento cultural é de apoiar trabalhos válidos, que após análise pelos técnicos da Câmara, poderão merecer edição, como foi este caso.
O autor. Cardoso Leal licenciou-se em Economia, com pós-graduação em Integração Europeia. Desenvolveu a carreira profissional nos setores da Pesca e Agricultura. Mestre em História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, atualmente integra diversos projetos de investigação e prepara o Doutoramento na mesma Faculdade. Foi secretário de Estado da Produção Agro-Alimentar.
Catarina Cerca