No passado dia 11, o Cineteatro de Anadia serviu de palco à sessão de encerramento do projeto “Escutar os Silêncios”, que teve como missão formar os profissionais de saúde e outros para intervir na problemática da violência doméstica e criar mecanismos de intervenção comunitária que permitam desencadear ações de prevenção e, simultaneamente, atuar precoce e articuladamente em situações desta natureza.
Um projeto que não só procurou sensibilizar, como também formar, envolver e desenvolver competências nos vários parceiros para que possam agir em rede, no sentido de combater esta problemática, que é já considerada uma questão de saúde pública.
O projeto traduziu-se num ciclo de trabalho que assentou, sobretudo, na cooperação interinstitucional e multissetorial, envolvendo parceiros tão vastos como ARS Centro, ACES Baixo Vouga, autarquias de Águeda, Anadia, Oliveira do Bairro e Sever do Vouga, Centros de Saúde, Departamento de Investigação e Ação Penal, Comissões de Protecção de Crianças e Jovens, Segurança Social e GNR (NIAVE – Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas).
“Escutar os Silêncios” surgiu no âmbito de uma candidatura ao POPH, teve como entidade promotora a ARSCentro, e abrangeu os concelhos de Águeda, Anadia, Oliveira do Bairro e Sever do Vouga do ACES Baixo Vouga.
Ao longo do ano tiveram lugar ações de sensibilização, mas também ações de formação, com o objetivo de sensibilizar e dar formação aos profissionais de saúde sobre a problemática da violência doméstica.
O balanço não poderia ser melhor, mas os números são alarmantes, sendo portanto necessário intervir. Por isso, é considerado urgente criar mecanismos que permitam desencadear ações de prevenção e atuar precocemente e em articulação nestas situações.
João Pedro Pimentel, da ARS Centro, na ocasião, considerou relevante o conjunto de parceiros que trabalharam em rede ao longo deste ano, sendo esta apresentação final de resultados prova de “uma cultura de rigor para dar conta do trabalho realizado”.
Já Teresa Neves, psicóloga, (Centro de Saúde de Águeda, traçou a história do projeto, enquanto que a enfermeira Silvana Marques, Coordenadora da UCC, Centro de Saúde de Anadia falou aos presentes dos resultados do projeto, que contou com o envolvimento de 269 profissionais de saúde que, na opinião daquela responsável, “se devem manter sempre em alerta”.
“A rede local surge da necessidade de dar resposta aos colegas que contactam com estas vítimas. Agora sabem a quem recorrer, o que fazer e como agir, no sentido de encontrar soluções para as vítimas”. Todavia, Silvana Marques alertou para o facto de “não se poder tomar partido”, porque “o agressor tem também um problema. Também ele precisa de ajuda e não só as vítimas”, considerando fundamental o envolvimento do agressor na terapêutica.
Ana Simões, procuradora Adjunta do DIAP de Anadia, alertou para o facto de ser necessário, nos casos de violência doméstica, “ter sensibilidade para entrar na pele da vítima e do agressor”. Violência doméstica que é essencialmente sobre a mulher, a criança ou até sobre familiares idosos, e que atravessa todas as classes sociais, regiões, habilitações literárias ou religiões, não escolhendo ninguém, uma vez que acaba por atingir todos no seio familiar.
Um crime público (pode configurar uma agressão física, psicológica ou sexual) que é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos, mas que continua a ter uma grande barreira: “a vítima, muitas vezes, opta por não falar, o que dificulta o avançar do processo, ou seja, levar o agressor a tribunal”.
“Se a vítima não relata os factos não há maneira de fazer prova dos mesmos, mas temos de respeitar a vontade da vítima, por isso muitos processos são arquivados”, disse, deixando ainda a indicação de que “o agressor pode ser condenado com base apenas no depoimento da vítima, pois a palavra desta pode ser o bastante”.
Participaram ainda nesta sessão Hélio Ferreira, presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Oliveira do Bairro; Ilda Martins, técnica superior de Serviço Social da Câmara Municipal de Sever do Vouga e Rui Silva, Comandante do Destacamento Territorial de Anadia.
Os participantes assistiram ainda a um belo momento de bailado intitulado “Duetos para os Silêncios”, trazido a palco pelo QUORUM BALLET.
Catarina Cerca
catarina@jb.pt