São quase mil, os idosos que, no concelho de Anadia, aguardam por uma vaga na valência de Lar.
Foi durante o último plenário do Conselho Local de Ação Social de Anadia (CLASA) da Rede Social de Anadia, realizado na manhã da última quinta-feira, que este número (989) foi revelado, assim como foi igualmente dado a conhecer que Anadia tem o mais alto índice de envelhecimento do Baixo Vouga (190,2), sendo inclusive mais elevado do que o de Portugal (129,4).
O diagnóstico social de Anadia, feito em 2012, faz uma alusão a essa insuficiência de equipamentos sociais que se traduz em quase mil idosos à espera de vaga para entrar na valência de Lar.
Atualizar estudo. Face a este panorama, que é preocupante, a autarca Teresa Cardoso explica que “o levantamento foi realizado no âmbito da Rede Social de Anadia, em estreita articulação com as IPSS” e que desse trabalho resultou “um cruzamento de dados com vista à obtenção de uma lista final nominal, sem duplicação de inscrições, dado que, por vezes, o mesmo utente se encontra pré-inscrito em várias instituições em simultâneo.”
Mas como os dados são de 2012, números que podem estar alterados, avança que “será realizada uma atualização do estudo durante o corrente ano, e, paralelamente, far-se-á o levantamento do número de inscrições de idosos”. Contudo, admite que, “se, por um lado, podemos equacionar um aumento da lista de espera, por outro, e face à situação económica do país, é possível que o número de idosos em espera tenha diminuído, uma vez que as famílias têm menos capacidade para suportar os custos da integração de um idoso no Lar.”
Teresa Cardoso diz ainda que “a leitura do número total desta lista de espera (989) permite concluir que existe, de facto, uma grande procura deste tipo de resposta social”, mostrando-se igualmente preocupada com as reais condições de vida destas pessoas. “Em que situação se encontram; se residem no concelho e se necessitam deste tipo de resposta e não têm acesso à mesma, principalmente nos casos em que as famílias não têm capacidade de prestar qualquer tipo de apoio”.
Respostas para casos graves. Todavia, a autarca, garante que no concelho, em situações extremas, são sempre acionados serviços de apoio e de retaguarda, como, por exemplo, o serviço de apoio domiciliário e que “sempre que a situação é de extrema gravidade, os serviços da Segurança Social têm, em reserva, vagas específicas para a integração dessas pessoas.”
Embora reconheça que uma das soluções passa pelo alargamento da resposta Lar, não deixa de sublinhar que estes dependem da autorização da Segurança Social. E destaca: “a tutela tem permitido, nalgumas situações, o alargamento dos acordos, mas sem a decorrente contrapartida financeira. Esta situação permite às IPSS aumentar efetivamente o seu número de camas, mas, como não existe comparticipação do Estado, as instituições veem agravada a sua situação financeira, já de si complicada pelo facto de muitas famílias não lhes conseguirem efetuar os respetivos pagamentos.”
Outro tipo de resposta, diz, poderá passar pela procura de Lares privados, sempre que o idoso e as famílias possam suportar esses custos.
Teresa Cardoso revela também que à Câmara Municipal cabe a tarefa de sensibilizar as entidades para a necessidade de reverem os acordos em vigor e, dentro do possível, de criarem o respetivo suporte financeiro. “A Segurança Social tem conhecimento da realidade concelhia através das reuniões realizadas no âmbito da Plataforma Supraconcelhia do Baixo Vouga e dos documentos produzidos pela Rede Social, como é o caso do Diagnóstico Social”, garante.
Câmara ativa no apoio à terceira idade. Por outro lado, a Câmara Municipal de Anadia tem desempenhado um papel mais ativo ao nível da intervenção direta, nomeadamente quando os idosos vivem mais isolados e em condições precárias, sem intenção de abandonarem as suas habitações a fim de integrarem a resposta Lar de Idosos. Nestas situações, a Câmara dispõe de um regulamento que define os termos em que ocorre apoio aos estratos sociais mais desfavorecidos, podendo a intervenção ocorrer em matéria de melhoria das condições habitacionais ou de acesso a algumas infraestruturas. Assim, como os idosos que se mantêm nas suas habitações ou noutra qualquer situação de maior isolamento são acompanhados através de programas estabelecidos em parceria e num trabalho articulado em rede, de que é exemplo o projeto “Viver só mais protegido!”.
Índice de envelhecimento preocupante. Relativamente ao índice de envelhecimento, este mostra a relação existente entre o número de idosos e a população jovem. No concelho, confirma-se que o nível médio de esperança de vida aumentou, contrariamente à tendência verificada nas taxas de natalidade, onde se tem registado um decréscimo acentuado.
“Anadia é um concelho que, no passado, se confrontou com um forte fluxo emigratório. No entanto, uma grande parte desses emigrantes regressou e, com eles, os seus filhos. Hoje, muitos destes jovens e outros munícipes em idade mais adulta são também forçados a emigrar em virtude da atual situação económica do país, com reflexos diretos no envelhecimento da população do concelho e na quebra das contribuições para a Segurança Social”, diz Teresa Cardoso, ciente ainda de que muitos jovens que acabam a sua formação procuram conseguir um posto de trabalho no âmbito das suas habilitações, o que pode implicar a sua mobilidade para outro ponto do país, ou mesmo para o estrangeiro.
“Para contrariar esta tendência, será importante compreender que tipo de formação e de profissionais são necessários às empresas sediadas no município, e, consequentemente, implementar uma plataforma vocacional e de orientação profissional que permita uma estreita articulação das respostas dadas pelos nossos estabelecimentos de ensino com as necessidades do mercado de trabalho, se possível dentro do concelho”, adianta, acrescentando que “o município tem vindo a desenvolver um conjunto de condições e a promover iniciativas para atrair e fixar os jovens, possibilitando o início da sua vida profissional e familiar no concelho.”
Aprovado o aumento de mais 10 camas no Lar da Poutena
Um dos pontos analisados no plenário estava relacionado com a emissão de um parecer favorável à criação de mais 10 camas no Lar da Poutena. Todos os parceiros foram sensíveis a esta necessidade e aprovaram o pedido.
Embora o Centro Social da Poutena date de 1981, foi no ano de 2009 que abriu o Lar de Idosos “Nossa Senhora da Piedade”. Uma valência que veio trazer grandes mudanças, não só porque criou vários postos de trabalho, mas porque fez crescer o número de clientes, tendo ainda quadruplicado o apoio às famílias.
O Lar, com capacidade para 30 idosos, rapidamente ficou lotado, obrigando a direção a equacionar o aumento do número de camas para poder dar resposta a mais alguns pedidos. Um alargamento que não obriga a instituição a proceder a obras de fundo, como foi revelado no plenário.
O Lar veio, segundo Vera Neto, diretora técnica do Centro Social da Poutena, dar resposta ao envelhecimento da população, associado à evolução da vida em sociedade que tem como consequência o aumento da procura de equipamentos sociais para a terceira idade.
De resto, a instituição é diariamente confrontada com esta questão e muitas são as famílias sem capacidade de poder tratar dos seu idosos em casa.
O alargamento do Lar para 40 camas só obrigará a pequenas adaptações e remodelações do já existente, sendo certo que irá também contribuir para o aumento do número de utentes e de postos de trabalho. Refira-se ainda que este Centro Social apoia 50 utentes em Centro de Dia, 35 utentes em SAD (5 dias por semana) e 15 utentes (7 dias por semana), 30 utentes em Lar e, na Infância, 20 crianças em ATL/CAF e 25 crianças em Creche.
A instituição possui também várias secções, nomeadamente Supercross, Dança (aulas semanais de dança jazz, ballet e zumba; apresentação de espetáculos de dança); Teatro (apresentação de espectáculos em convívios institucionais) e Futebol (três equipas de futebol de formação, com treinos bissemanais; competições no campeonato distrital de Aveiro).
Novos parceiros. No plenário, que teve lugar no auditório do Museu do Vinho, todos os parceiros presentes foram unanimemente favoráveis à entrada dos dois novos parceiros (Clínica Belorizonte e Junta de Freguesia de Vilarinho do Bairro), ainda que a Clínica Belorizonte (privada) entre para a Rede Social nos mesmos moldes do Hotel Sénior da Curia.
Ações para 2014. Durante este ano, a Rede Social de Anadia irá promover um conjunto de atividades, a vários níveis, ainda que tenha sido frisado que este não é um plano fechado, mas sim um documento aberto a outras ações que sejam pertinentes.
Catarina Cerca
catarina@jb.pt