O Cineteatro de Anadia foi palco, nos dias 3 e 4 de março, da 1.ª Conferência Internacional sobre Bibliotecas Públicas. Um evento da CIRA (Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro), promovida no âmbito do trabalho que vem sendo desenvolvido pela sua Rede de Bibliotecas Municipais, e que o Município de Anadia acolheu neste ano em que passam três décadas sobre a criação da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas.
Subordinada ao tema [Re]Pensar a Biblioteca Pública, esta conferência trouxe a Anadia participantes de todo o país e do estrangeiro. Uma iniciativa que fez uma reflexão sobre o futuro das bibliotecas públicas e as oportunidades dele decorrentes.
Apostar na regulamentação harmonizada. Na ocasião, Ribau Esteves, presidente da CIRA, defendeu que o crescimento quantitativo e qualitativo nesta área deve ser feito apostando na implementação de regulamentação harmonizada (estar em rede é também facilitar os mecanismos de acesso nos vários municípios); aumentando também o universo de utilizadores e ter uma dimensão comercial da cultura. “Ser comercialmente agressivo e comunicacionalmente atrativo”, explicou, por forma a chegar a um universo de destinatários maior. Ribau Esteves defendeu ainda a promoção de uma utilização integrada na atividade cultural e uma partilha consistente destas frentes de promoção cultural na lógica de as valorizar mutuamente e também por aí conquistar públicos, dando como exemplo o sucesso que foi o projeto da CIRA, no âmbito da programação cultural em rede dos espaços culturais, que possibilitou criar dinâmicas de trabalho em equipa.
Este responsável entende que é necessário agora encontrar mais incentivos no Quadro Comunitário para prosseguir um trabalho intenso com outros municípios do país na área da cultura e das bibliotecas porque “todos têm a aprender uns com os outros” e continuar a ter uma Direção Geral “atenta, ativa e parceira”.
Na ocasião defendeu ainda a ideia de Loja de Cultura e de Comunicação nas bibliotecas, uma ideia a trabalhar e desenvolver: “nós podemos ter nesta tipologia atrativa, autênticas lojas de cultura e comunicação na nossa relação com os nossos concidadãos” e, dirigindo-se ao ministro João Soares, defendeu uma maior descentralização e uma cooperação mais intensa e mais ativa.
“A união torna-nos mais fortes e mais eficientes”. Na sessão de abertura, a edil anadiense, Teresa Cardoso, destacou a importância da implementação do programa desta rede, que “proporcionou o surgimento de tantas bibliotecas”, rede hoje constituída por 213 bibliotecas municipais.
Por isso, sublinhou a necessidade de se continuar a apostar e fortalecer as bibliotecas e as redes.
A autarca de Anadia destacaria ainda o trabalho feito ao nível da atualização e aperfeiçoamento das bibliotecas e dos seus recursos humanos, mas também o trabalho da rede que assenta na premissa de que “a união nos torna mais fortes e mais eficientes”. E é com essa ideia em mente, que se tem vindo a delinear estratégias e a implementar procedimentos que conduzam à melhoria contínua dos serviços que prestam à comunidade.
“O estreitamento de relações entre as Bibliotecas Municipais da nossa região tem possibilitado uma efetiva cooperação intermunicipal, com resultados visíveis na rentabilização de recursos e na realização de projetos”, diria, concluindo que “a trave mestra do trabalho desenvolvido pelas nossas bibliotecas assenta na otimização dos recursos disponíveis, de forma a desenvolver os serviços prestados e a facilitar a todos o acesso aos mesmos.”
Preocupações. O ministro da Cultura, João Soares, que falou da sua ligação pessoal ao universo do livro (profissionalmente é editor, com atividade suspensa desde que começou a exercer responsabilidades públicas), destacou a importância deste evento e da reflexão em torno do futuro das bibliotecas e dos arquivos, recordando um país onde quase não existiam bibliotecas públicas em muitos pontos do país, mas também do trabalho notável feito pela Fundação Calouste Gulbenkian através das carrinhas de bibliotecas itinerantes. Sem qualquer dúvida quanto à evolução que esta área sofreu nas últimas décadas, disse ainda ter um profundo respeito pelos bibliotecários, mostrando-se ainda atento aos desafios face aos livros e ao digital e à morte de muitas livrarias pelo país. Preocupações em relação às quais diz estar atento.
Do programa da conferência fez parte a cerimónia de entrega do “Prémio Boas Práticas em Bibliotecas Públicas” este ano atribuído à Biblioteca Municipal de Valongo com o projeto “Contos Andarilhos”. A Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia arrecadou uma menção honrosa.
Catarina Cerca