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Cantanhede // Sociedade  

Dia da Mulher assinalado em Cantanhede com tertúlia sobre “Ciência no Feminino”

Quatro mulheres de sucesso de diversas áreas da Ciência, todas com ligação a Cantanhede, deram testemunho da sua experiência pessoal e profissional.

O Dia Internacional da Mulher foi assinalado esta terça-feira, 8 de março, no Município de Cantanhede, com uma tertúlia sobre “Ciência no Feminino”. Na sessão que decorreu no Salão Nobre dos Paços do Concelho, quatro mulheres de sucesso de diversas áreas da Ciência, todas com ligação a Cantanhede, deram testemunho da sua experiência pessoal e profissional.

A tertúlia foi conduzida pela presidente da Câmara Municipal, Helena Teodósio, que na intervenção inicial lamentou que esta efeméride não seja ainda “um dia em que homenageamos o passado”. A autarca lembrou, a propósito, que “as desigualdades são importantes somente enquanto nos distinguem nos gostos, opiniões e atitudes”, mas aos dias de hoje “ainda temos pela frente mentalidades, leis e atitudes que precisam ser mudadas” quando falamos de igualdade de género.

Joana Branco, administradora e diretora executiva do Biocant, entende que a mudança de mentalidades passa muito pela educação dos jovens, mas também por “dar o exemplo” e lembrar os feitos de muitas mulheres ao longo dos anos. “É quando as atenções não estão centradas em nós que temos de nos levantar e mostrar o nosso valor, aquilo que conseguimos fazer”, destacou.

Com mais de 15 anos de experiência na área da biotecnologia, a responsável do Biocant constata que “ainda há poucas mulheres” em cargos de liderança, daí que a celebração do Dia Internacional da Mulher seja “uma oportunidade para trazer para cima da mesa” as desigualdades que ainda existem.

Ana Rita Barradas, cofundadora e diretora de marketing na Pollux – Tecnologias do Espaço, lembrou o seu percurso académico em Cantanhede e a importância que este teve na sua opção pelas áreas da física e da astronomia, “ainda muito associadas aos homens”.

Licenciada em Física pela Universidade de Coimbra, a jovem natural de Cadima reconhece que “não há muita informação na área das ciências exatas” o que leva à “falta de interesse das mulheres”.

“Hoje ainda falamos de políticas de igualdade de género, o que significa que ainda não chegámos onde queremos. Há um longo caminho a percorrer, sobretudo em termos culturais e sociais”, observou.

Já a primeira mulher a doutorar-se em Geologia na Universidade de Coimbra e professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Maria Helena Marques, lembrou a importância que teve uma “professora geóloga” na escolha da área a seguir.

Dirigindo-se a alunos do 12.º ano da Escola Secundária de Cantanhede que assistiram à tertúlia, a docente sublinhou que “a sede de conhecimento deve permanecer ao longo da vida, pelo que não devem arrepender-se das vossas opções, pois estão sempre a tempo de complementar a vossa formação com outros saberes”.

Sobre o Dia Internacional da Mulher, a diretora do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra disse ser “importante assinalar”.

“A desigualdade de género é uma questão social tão importante como a fome, e não sou eu que o digo, é a agenda 2030 das Nações Unidas”, referiu, destacando a importância de definir “políticas que tendam para a igualdade”.

A terminar, Maria Helena Marques deu como exemplo as revistas científicas de referência na área da geologia, nas quais “as comissões editoriais são compostas por 80% de homens e 20% de mulheres”.

A vice-reitora da Universidade de Coimbra, Cláudia Cavadas, falou da sua experiência enquanto investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular, mas também do desafio que foi assumir a pasta da investigação na equipa reitoral, facto que lhe permitiu ver a igualdade de género sob outra perspetiva.

“Temos mais estudantes mulheres na Universidade de Coimbra, temos mais doutoramentos de mulheres, mas depois olhamos para os 38 centros de investigação e só temos nove mulheres em lugares de coordenação”, revelou, destacando a importância de um projeto em curso na instituição, centrado precisamente nas questões do género nas diversas áreas de estudo.

A abertura e encerramento da tertúlia “Ciência no Feminino” esteve a cargo das FáSentido, Ensemble vocal feminino, que executaram superiormente alguns trechos musicais e deixaram todos os presentes visivelmente agradados pela beleza e qualidade da sua atuação.