Guida Pereira é o rosto da Quinta do Pica-pau, que se encontra localizada junto à EN 334, na Candeeira (Avelãs de Cima). Juntamente com o marido, Simão Pedro, têm vindo a transformar um espaço à beira da estrada numa das maiores quintas da região.
A aventura deste casal, que está também ligado à área de cerâmica, começou em 2015 com a primeira plantação de kiwis (em modo convencional) e, logo no ano seguinte, a aposta alargou-se aos mirtilos (modo biológico) tal como acontece com a lima caviar, citrino que se veio juntar às outras culturas.
Em oito anos, o balanço de um projeto que tem crescido a olhos vistos só podia ser positivo, ainda que a responsável admita não esperar que fosse tão trabalhoso, dispendioso e obrigar a tanta resiliência, mas confessa que “voltaria a fazer tudo novamente”.
Atualmente, a quinta tem já mais de 15 hectares vedados e integra a produção de kiwi, mirtilo e lima caviar.
“A aposta em modo biológico no mirtilo e na lima caviar deve-se ao facto de percebermos, desde cedo, que o futuro passa por aí, pelo biológico que também é mais bem pago”, reconhece, embora a produção/calibre seja sempre menor: “apesar do calibre mais baixo, porque não usamos adubos nem fertilizantes ou inseticidas como se usa nas outras agriculturas convencionais, não atingimos tanto calibre e produção, mas é uma fruta melhor e mais valorizada na hora da venda, o que dá para compensar e fazer o equilíbrio”, explica Guida Pereira.
Ainda assim, frisa que o processo de entrada no biológico nos mirtilos e na lima caviar demorou algum tempo (3 anos), não só por questões burocráticas e legais, mas porque os dois projetos exigiram ser gizados com pés e cabeça.
“O kiwi não passou para modo biológico porque a quebra é muito grande e não compensa”, admite.
O mirtilo estende-se por 2,6 hectares e a lima caviar ocupa 0,9 hectares e ambas as culturas exigem muita atenção.
Para além do cliente final, temos as frutarias, e os grandes clientes estrangeiros, pelo que, por exemplo, cerca de 60% da produção de mirtilo segue para exportação – Holanda, Finlândia, Inglaterra e França. Já a produção de kiwi é encaminhada na totalidade para a Kiwicoop, em Oliveira do Bairro.
“A lima caviar vai ser vendida para o ano, pela primeira vez, já que se trata de um investimento recente e que terá agora colheita que justifica a venda”, avança.
O crescimento sustentado levou ainda o casal a investir numa unidade de embalagem para o mirtilo da quinta, prestando este serviço a outros produtores da região, como forma de rentabilizar o investimento realizado.
Rega com água da chuva
Com uma área tão grande a exigir rega diária, a Quinta do Pica-pau investiu também numa charca, um espaço único que obrigou à compra de uma vasta área de terreno para dar resposta às necessidades de água das culturas aqui produzidas.
A charca, totalmente impermeabilizada, está neste momento a topo, “completamente cheia”, graças à água da chuva: “toda a água que cai nas estufas, do kiwi vermelho e dos mirtilos, é para aqui direcionada. Foram instaladas valas com tubos canalizando a água para a charca que tem capacidade para cerca de 30 mil m3 de água. “Este vai ser o primeiro ano que usufruímos dessa capacidade total”, destaca a empresária.
Trabalham diariamente neste enorme espaço quatro pessoas, mas no tempo da apanha da fruta (mirtilo – de abril a julho) e do kiwi (setembro e novembro), Guida Pereira conta com a preciosa ajuda dos funcionários de uma das suas fábricas que, “nos picos da apanha, vêm dar uma enorme ajuda”, assim como recorre à mão de obra temporária.
Quanto ao futuro, Guida Pereira não esconde a vontade de aumentar o espaço destinado à lima caviar. Temos 100 plantas e agora vamos plantar mais 400. “Esta fruta é uma novidade e só daqui a três ou quatro anos trará rentabilidade”, conta sobre este citrino muito procurado por restaurantes gourmet e que acompanha na perfeição, por exemplo, ostras, saladas, peixe grelhado e gin. “Esta fruta possui pequenas esferas sumarentas no interior que explodem na boca e dão um sabor cítrico ao alimento”.
Por isso, acredita que sendo uma das primeiras produtoras deste citrino, grande parte da produção vai destinar-se também à exportação, confiante de que com o tempo, este fruto se tornará conhecido e igualmente apreciado em Portugal.