1) A regionalização não está a ser tema desta campanha. Mas está na Constituição. Artigo 236, nº 1.
No entanto, já lá vão quase 50 anos e entre tentativas pífias, referendos não vinculativos, esforços envergonhados e bairrismos desavergonhados, nunca aconteceu. A regionalização está entalada entre a ineficácia do Estado central, o receio dos caciques, complicação dos procedimentos administrativos, distribuição demográfica desequilibrada, a influência de corporações, receios de perda de poder, clubes de futebol, rivalidades e falta de vontade.
Por um lado, dividir geograficamente um país tão pequeno, sem clivagens políticas, sociais e culturais de relevo, é não só difícil, como talvez até absurdo. Não é que não haja diferenças entre regiões, claro que há e essa é uma das grandes riquezas do país. Mas não me parece que por si só justifiquem uma divisão geográfica.
Mas por outro lado, é completamente irrazoável manter os centros de decisão política centralizados. Numa linguagem da gestão, num modelo top-down, em que o Estado central decide o que se faz em todo o território, com pouca informação estruturada e consistente das realidades regionais. Veja-se, por exemplo, o que se está a passar com a Linha de Alta Velocidade da ferrovia a atravessar a Bairrada.
Esta tem sido sempre a abordagem. Os decisores do Estado a tentar adivinhar a melhor forma de dividir o país.
Mas… e se fosse ao contrário? Se a sociedade civil, agentes económicos, culturais e políticos (autarcas e não só) de uma região, em vez de esperar pelo Estado central, se juntassem e propusessem a criação da sua região, com uma estratégia de desenvolvimento própria, agilizando processos e burocracias, fortalecendo o tecido social, projectando a economia e consolidando a diversidade cultural? E se essa região fosse a Bairrada – na sua forma actual ou ajustada?
Por que não pensar de forma invertida, permitindo a organização a quem vive e conhece as realidades regionais?
Quem sabe se, em vez de concorrer, talvez fosse possível criar entre vizinhos, sinergias, entendimentos e estratégias comuns concentrando actividades industriais, agrícolas, administrativas, culturais e serviços de forma organizada na região? Imagine-se a gestão do parque industrial da Bairrada, gerido como um todo. A agricultura. Os serviços. Já há associações e comissões que tentam recriar esta realidade. Por que não levar esta perspectiva para o nível seguinte?
Atrevo-me a lançar daqui o desafio a esta reflexão aos outros cronistas do JB. Fará sentido pensar assim? Como mobilizar a sociedade local?
2) Encontrei uma carta do meu pai ao Jornal da Bairrada, datada de 2019 por ocasião dos 70 anos do jornal, mostrando já na altura preocupação com o financiamento da imprensa regional. Nos dias de hoje, o cenário agravou-se. A imprensa é um pilar essencial da democracia. E a imprensa regional tem um papel muito importante. Aproveito e faço um segundo desafio nesta crónica: o compromisso de cada leitor angariar mais 1 assinante para o jornal até final deste mês. São 15 euros por ano, 0,04 euros por dia, na edição online. Não custa nada. Basta pensar num amigo ou familiar que viva fora. Há forma melhor de saber notícias da região? Eu fiz a minha parte e ofereci uma assinatura anual à minha irmã.
3) No próximo dia 10, vote. Não fique em casa. Não vá para fora. Não deixe que outros decidam por si. O seu voto conta e é importante para a democracia. É um terceiro desafio.