O que define uma boa escola é o gosto que os alunos têm em lá andar.
As escolas boas para onde alguns alunos fugiram ou querem fugir são aquelas onde os professores, os técnicos, os dirigentes são profissionais diferentes. Tão diferentes como o são os alunos que já lá estão ou os que querem para lá ir.
Bons professores, bons técnicos e bons dirigentes existem em todas as escolas. Mas nas escolas boas, só lá estão alguns bons professores, só alguns bons técnicos, só alguns bons dirigentes.
E como em todas as organizações, só lá deveriam estar quem se sentisse bem. Só lá deveria trabalhar quem se sentisse identificado com o projeto e satisfeito com o retorno material e imaterial que lhe pertencesse efetivamente.
Chegados ao desejo político de uma nova política para a educação, percebendo todos que alguma coisa tem que mudar no modelo de recrutamento e de colocação de professores – quanto mais não seja para evitar esta vergonha nacional de estarmos quase no final do ano letivo e tantos milhares de alunos continuarem sem aulas a algumas disciplinas –, merecerá a pena escrutinar, ainda que ao de leve, alguns dos muitos fatores que deverão ser compreendidos sobre esta classe profissional tão fundamental nas escolas.
Em primeiro lugar, preocupa-me que alguns professores, ditos de carreira, não gostem e não queiram ser professores na escola que temos e no tempo em que vivemos. Se são de carreira, são professores por vocação e, por isso mesmo, devem estar atualizados com as exigências dos tempos atuais, os quais exigem modelos de ensino-aprendizagem em permanente atualização, realizada por formação à medida e por investimento próprio. E deve ser esse tipo de atualização, por mérito, que deve levar à subida na carreira de cada um. Não pode continuar a ser a idade o principal critério para a definição do mérito de cada professor e a sua consequente ascensão em escalões remuneratórios.
Em segundo lugar, está na hora de se pôr mão nas carreiras dos professores-explicadores. É um absurdo continuarmos a ter professores que, em paralelo à sua vida certinha e garantida de professores, desenvolvem atividade de explicadores nas suas casas-marquises – algumas logo à frente ou ao lado da escola –, tantas vezes na clandestinidade, não pagando os impostos devidos. Para além da desonestidade tributária, existe ainda a desonestidade profissional, já que alguns são maus professores em sala de aula e são ótimos mestres nas suas marquises. Estes professores, deveriam fazer opções: ou querem ser bons professores, ou querem ser bons explicadores.
Em terceiro lugar, percebe-se que muitos dos professores que temos não querem trabalhar com os alunos que têm. Porque muitas vezes os alunos são exigentes e desafiam a sua autoridade; porque outras vezes são alunos que precisam doutros estilos de ensinagem. A estes professores, normalmente é-lhes concedida a possibilidade de darem aulas só aos alunos/turmas de quem gostam. Em alternativa, há sempre a possibilidade de mudar de escola e irem para as que apelidam de boas escolas.
Em quarto lugar, muitos professores nunca quiseram ser professores (e temo que isso ainda hoje aconteça). É que muitos deles entraram no ensino superior em últimas opções e com médias negativas. Por exemplo, algumas universidades e escolas politécnicas, escolheram-nos para serem professores do 1.º ciclo (escola primária), onde se ensina a ler, a escrever, a contar, a falar, a teclar – o fundamental de competências escolares para o futuro de cada cidadão.
Há outros fatores e também outros protagonistas que estão a levar ao caos a educação no nosso país e que merecem ser trazidos à reflexão de todos – sobretudo das famílias que confiam à escola o seu bem mais precioso. Em breve voltaremos ao tema da escola boa que todos merecem.