No âmbito do Especial Vindimas 2024, publicado pelo Jornal da Bairrada, na edição de 5 de setembro, ouvimos o enólogo Francisco Antunes (Aliança-Vinhos de Portugal), um dos enólogos que mais espumantiza na região. Apaixonado pela profissão, revela, na primeira pessoa, o que poderá ser a vindima de 2024 e a crescente procura por espumantes de qualidade, numa região que tem tudo para continuar a produzir os melhores espumantes do país.
Quais as expectativas para a vindima deste ano?
As expectativas são bastante boas, apesar de haver uma certa redução das quantidades. O ano, de alguma maneira, está a ser bem mais equilibrado climatericamente o que nos dá indicação de que vai ser uma vindima um pouco mais tardia mas de boa qualidade porque a maturação vai decorrer normalmente. Face ao míldio tivemos casos muito pontuais, mas fizemos tratamentos quase consecutivos nas vinhas para ultrapassar esse problema que foi, de certa forma, generalizado.
É enólogo numa das empresas que mais espumantiza na região [Aliança – Vinhos de Portugal]. Quando começou a vindima para espumantes e com que castas?
Começámos a vindimar no dia 25 de julho (vinha nova e com pouca produção), Chardonnay e Pinot Noir e, depois de um interregno de uma semana, continuámos a 5 de agosto com mais Chardonnay.
Quando vai terminar e com quais?
Neste momento estamos à espera, no que diz respeito ao espumante, que a Baga atinja o seu ponto ideal de maturação para espumante, o que deve ser daqui a duas semanas e meia. Para vinhos tranquilos, no máximo, dentro de duas semanas estaremos a iniciar a vindima dos brancos.
Há cada vez mais, a expectativa de se começar a vindimar mais cedo, mas estamos em agosto. O que é normal é começar em setembro, pelo que o grosso da vindima será nesse mês. O ano passado tivemos uma antecipação muito significativa, mas este ano estamos a ver as coisas voltarem um bocadinho ao seu normal.
Qual a produção média anual de vinhos base para espumantes?
Para espumantes com denominação de origem, iremos sempre fazer na ordem dos 300 mil litros de vinho base para espumante DOC Bairrada. Para outras marcas de espumante chegamos aos 900 mil litros.
A produção média anual não tem oscilado muito, mas de facto, temos vindo a crescer muito nos espumantes DOC Bairrada. A produção média global de todas as nossas marcas de espumante ronda os 2 milhões de garrafas anuais, a que acresce todos os vinhos tranquilos, pois aqui, em Sangalhos, vinificamos todas as uvas que nos chegam, por exemplo, das Beiras. Só de Figueira de Castelo Rodrigo chegam-nos 1.3 milhões de quilos de uvas.
O espumante está efetivamente na moda?
Claramente que sim. Sentimos a categoria espumante a crescer. Temo-lo sentido mais no projeto Baga Bairrada e Grande Reserva, apesar dos aumentos de preços que se foram verificando por causa dos subsidiários – tudo na produção de espumante aumentou (garrafas, rótulos, rolhas, etc.). Mas o consumo de espumante está efetivamente a crescer.
E a preferência dos consumidores, segue que tendência?
O que sentimos é que o espumante bruto tem um peso de 60% e o meio seco e o doce cerca de 40%, este perfeitamente estabilizado, porque há um mercado para esta gama. Em matéria de espumante bruto, passamos os DOC Bairrada todos para bruto nature, pois sentimos que os consumidores mais conhecedores têm uma atitude mais respeitosa para com este produto com este designativo de qualidade.
A produção de espumante na região tem margem para crescer, ou o que se produz noutras regiões pode ameaçar o domínio da Bairrada no que toca à produção de espumante?
Nós temos a tradição, o know-how e a imagem. Evidentemente, que se os outros estão a fazer é porque o conseguem vender. Mas quando se faz espumante, acho que é muito mais difícil chegar-se a um nível de excelência em regiões que são climatericamente mais difíceis.
A Bairrada tem uma apetência natural para a produção de espumantes de qualidade. Temos características climatéricas que nos dão essa vantagem, nomeadamente amplitudes térmicas significativas; características do solo; um clima muito mais temperado graças à influência atlântica.