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Manuel Armando

Padre

Da beleza para a desgraça

Ora, digamos que não é triste, mas asseveremos que é medonho.

A tristeza é um sentimento profundo de alma que pode engrandecer a pessoa humana, uma vez que demonstra que ela atende e vive as vicissitudes da existência com olhos de ver, personalidade e consciência. A realidade pode, ou não, coadunar-se com o seu modo de ser e reagir, mas deverá fazê-la alinhar sempre mais adequadamente com a verdade.

Medonho é o estado causado pela mediocridade mais baixa e terrível seja de quem for. Não deve ou não pode considerar-se humano o ser asqueroso que causa perturbações sociais e traz as comunidades em polvorosa e num permanente desassossego, sem coragem para avançar em algo de positivo que ajude a reconstruir um mundo fraterno e melhor.

Perguntamos como é possível dois, três ou meia dúzia de energúmenos destabilizarem uma sociedade inteira, continuando sonegados e impunes, a fazer transparecer que não há preocupações no apuramento de toda a verdade.

Acreditamos que os delitos serão julgados e castigados pelo Supremo Juiz Universal, mas aceitamos ainda a justiça capaz dos homens que criaram normas de conduta as quais, sendo respeitadas, geram segurança, paz, felicidade.

Olhando, pois, à nossa volta e num perímetro apenas atingido pela imaginação, deparamos, nostalgicamente, com um fogo que arde, temeroso, mas não aquece e tudo destrói na vida vegetal, animal ou humana. Um fogo que se acende, mas não ilumina, levando, fatalmente, as sensibilidades para uma escuridão e ruína.

Fogo que alguém ateou porque nunca amou. Chama acesa que, em vez de entusiasmar, exprime cruelmente a dureza, insensibilidade, malvadez e a miséria do coração.

Energia que deveria construir a vida em todos os seus sectores, mas que a aniquila para não mais se levantar nem até poder copiar o passado.

Chamas que avançam, vertiginosamente, para deixarem atrás de si tudo parado, vazio e na incerteza de um futuro que jamais gozará o sumo do suor e sangue derramados durante anos de canseiras, trabalho e cuidados zelosos de tantas e tantas pessoas.

Fumos que se elevam, mas não louvam o nosso Deus e escurecem olhos com lágrimas amargas e desoladoras.

Labaredas que abrasam, mas não acalentam. Lareiras luzidas que não podem reunir na pacatez as famílias. Lume novo que torna, num momento apenas, tudo velho e acabado.

Raios que iluminam, mas nunca alumiam caminhos e nem denunciam os espíritos depravados e as mãos criminosas de quem manda e de quem obedece nestas tragédias, onde também deveriam ser amassados e consumidos no meio de tanta destruição e miséria por eles tão cobardemente espalhadas.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor