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Manuel Armando

Padre

Como dantes, pouco

Ainda pairam no horizonte das gentes mais crescidas determinadas atitudes livres e bem sinceras de outros tempos, não muito atrás, as quais eram sempre símbolos de amizade, respeito e gratidão numa sociedade em que se admirava a valia identificadora peculiar de algumas pessoas. Estas, conscientes das suas responsabilidades, sabiam ser humildes servidoras no trabalho que, eficazmente, orientavam e outros aprendiam a fazer ao fixar e usar no seu dia a dia ensinamentos e normas para uma vida organizada e respeitável em qualquer lugar ocupado na labuta ou no simples lazer diário de cada um.
Cultivar delicadezas e aproximações entre indivíduos surgia como tarefa esmerada e frutuosa porque alicerçada na esperança de felicidades pelo cumprimento respeitoso e eficiente de quanto era razão de instruir em direcção plena e aberta à sanidade dos homens nos centros vitais mais recônditos.
Coisas, pois, que passavam diante dos nossos olhos e tinham um peso moral enorme em nós, de forma a jamais desaparecerem da nossa mente e recordação.
Ora, quem não revê na sua retina, com confiança e saudade, as figuras de simplicidade nobre daqueles e daquelas que, ao longo de anos, estiveram a nosso lado, fornecendo-nos defesas para passarmos, ilesos, à frente de inundações e devastações sociais, morais e espirituais e continuarmos a viver a benignidade de Deus?!
E agora que acontece, como se faz?
Já pouco é como dantes. O tempo passa e as inadvertências voam. Muitos seres humanos, nem todos, claro, viraram autómatos comandados por alguns pequenos instrumentos que vieram substituir as capacidades de discernimento pelo jogo das teclas, tocadas com rapidez e cadência, a adormecerem sensibilidades com várias e diferentes maneiras de proceder.
Então, nestes nossos dias, parece que os valores de quem partilhou a vida com uma juventude, ensinando, caem no olvido total e até os simples cumprimentos de rua parecem ser considerados modos de agir antiquados e desnecessários.
Obliteradas as manifestações de reconhecimento por aquilo que se aprendeu, quando outros ensinaram, arrasta a sociedade para o egoísmo e separação dos mortais que vão construindo um universo de desconhecidos, incapazes de levar a bom termo a felicidade pessoal e a alheia.
Certamente ninguém deseja ser considerado como profeta da desgraça e ruína, mas também todos amaríamos que se continuasse a respeitar e a dialogar, com os olhos postos no exemplo dos que se empenharam e abriram janelas para um mundo verdadeiramente humano.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo
ortográfico, por vontade expressa do autor