A Indústria é talvez o sector que precisa de um maior abanão de paradigma, quando pensamos no futuro do concelho de Anadia.
O conceito de uma fábrica malcheirosa, barulhenta, de trabalho repetitivo, origem de doenças profissionais, mal pago e a fazer produtos indiferenciados não se coaduna com o que os pais de hoje pretendem para os seus filhos.
As empresas que investem neste tipo de indústria são empresas do passado e sem futuro.
Ou então de outras geografias, mais a Leste da Europa ou lá longe no Oriente, onde a mão de obra é demasiado barata e as pessoas valem pouco.
Ninguém quer que os seus filhos trabalhem de sol a sol de enxada na mão, a rodar parafusos numa linha de montagem ou a passar códigos de barras durante 10 horas numa caixa de um supermercado.
É extenso o pensamento produzido nos últimos anos sobre a reindustrialização, desde várias autarquias, os governos, a SEDES, a CIP, sindicatos e universidades. Todos vão no sentido da indústria digital, limpa, assente no conhecimento. Ser uma fábrica para o mundo na área dos serviços executados por via digital e um gateway (cabos submarinos, data centers, estações de controlo de satélites) para as infraestruturas digitais.
A AICEP fez notar que Portugal, com 15 cabos submarinos (uns quantos com amarração em Aveiro), é um hub de conectividade global. O Expresso noticiava há umas semanas que, muito devido à ameaça da
China, da Rússia e da possível vitória de Trump, a instalação de novos data centers podem captar mais de 10 mil milhões de euros de investimento na Europa.
A Inteligência Artificial (IA) já cá está. Cada inovação em IA é ultrapassada a um ritmo alucinante. Em conjunto com a robótica e a automação, vai aumentar a produtividade das empresas, tornar as tarefas mais rápidas e simples, as organizações mais eficientes e as pessoas mais felizes.
As necessidades de computação para o desenvolvimento da IA são gigantescas e crescentes e precisam de respostas físicas.
É necessário formar pessoas nas novas tecnologias. Nem todos são experts em tecnologias de informação, mas todos têm de ser capazes de a usar do ponto de vista prático.
Estamos bem a tempo de mudar o tipo de indústria do concelho. Mas é preciso começar a pensar e a agir já.
Não basta criar polos industriais. É preciso pensar para que servem, direccioná-los para as organizações que tragam conhecimento, investimento de longo prazo. Que tipo de empresas atrair, que pessoas virão e que oferta o concelho lhes deve proporcionar.
Portugal tem uma baixíssima capacidade de investimento privado. É essencial saber atrair Investimento Directo Estrangeiro. E depois exportar e internacionalizar serviços.
Não há nenhuma razão concreta para achar que Anadia não pode entrar nesta competição por conhecimento, investimento, indústria digital e pessoas qualificadas.
Provavelmente nenhum concelho do país tem uma tão grande proximidade geográfica com tantas universidades, politécnicos e sistemas de ciência e tecnologia.
Continuar a aposta na indústria pesada, é achar que a mezinha do passado nos vai curar uma gripe. Não vai.
[Triste, a figura do Secretário-Geral da ONU ao não estar presente na Cimeira da Paz na Suíça, marcar presença numa organização repleta de ditadores e autocratas na Rússia e ser barrado à entrada na Ucrânia. Que pena ser português]
[Ao dia a que escrevo – 28 de Outubro – só há dois factos claros sobre os acontecimentos da semana passada em Lisboa: um homem foi morto por um polícia; o miserável aproveitamento político feito pelas extremas]