Apregoa-se em todos os tempos e lugares a Verdade, enquanto até alguns indivíduos se arrogam como seus donos, procurando impor ou impingir sobre os outros conceitos, ideias ou modos de decidir e pôr em acção.
Mas, concretamente, que é a Verdade?
Imaginemos o embaraço e a dúvida que, um dia, se apossaram da cabeça de Pilatos quando, nas horas amargas do julgamento de Jesus, ele Lhe perguntou com suposto zelo que não espera o esclarecimento preciso: «Que é a Verdade?» (Jo.18/37-38). Cristo, conhecedor do íntimo de cada um, optou por não dar uma resposta imediata e concisa, pois já o havia dito durante a sua pregação com toda a firmeza: «Eu sou a Verdade» (Jo.14/6).
De certeza que tal afirmação terá causado engulho ou confusão na mente de quantos a ouviram e também daqueles que, nos dias de hoje, não acreditam que a única Verdade absoluta é o Deus Criador e Salvador da Humanidade.
O Homem partilha dessa Verdade, enquanto aceita, com humildade, desempenhar a missão de se fazer encaminhar seguro e ajudar outros a mostrarem na fé a singeleza e autenticidade da existência humana.
A Verdade, neste caso, estará na contemplação esclarecida sem sofismas ou parênteses nem reservas da Natureza e os seus atributos, como ainda, com esforço e convicção, ver no seu semelhante o espelho puro do Criador, perscrutado em qualquer momento pela consciência de chamada à fruição da pureza, simplicidade e cumprimento de qualquer tarefa, realizada em toda a dimensão do Homem que luta pela perfeição.
A Verdade é, portanto, todo o caminho orientado para a plenitude da vida que se manifesta na pureza da pessoa gerada e se identifica, permanentemente, com a vontade de Quem criou.
A Verdade descobri-la-emos na contemplação simples e desprendida de tudo quanto nos rodeia e cresce no silêncio e espontaneidade, sem motivos que causem segundas intenções e longe da vaidade de quantos pretendem tornar-se dominadores.
A Verdade é a descoberta sincera e construtora da paz ou a vontade certa no empenhamento constante e desinteressado para edificar-se, assim, a casa comum, onde a família desfrute a harmonia que deriva de um amor sublimado.
A Verdade, digamo-lo, transparece nas crianças que, nas suas manifestações mais pueris e originais, não usam explicações despropositadas e desnecessárias porque os seus gritos infantis, os seus jogos abertos, as irrequietudes, as atenções permanentes, quase passando desapercebidas diante do mundo que as rodeia, a sua serenidade frente à complexidade e mentira de adultos, os sorrisos ou até os choros passageiros são todas as provas da autenticidade que não foram, por ora, contaminadas, ao contacto com a comunidade adulta que se esforça por marcar, com egoísmo, o âmbito de toda a sua acção. Daí, a admoestação: «Se não vos converterdes e não vos tornardes transparentes como as crianças, jamais entrareis no reino dos Céus» (Mt. 18/3).
Nunca qualquer de nós chegará à plenitude de abertura a tudo e a todos sem as peias da desconfiança, do medo, timidez, da vergonha ou respeitos humanos.
Definir a Verdade parece tarefa impossível, mas muito mais difícil será fomentá-la e vivê-la.
Olhando, todavia, para o Alto e pairando sobre o universo material, desvendaremos, com absoluta certeza, que Deus é a Verdade plena e suprema que o homem deverá esforçar-se por descobrir.
Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor