A oferta turística do concelho de Anadia é má. Para não dizer péssima. Facto que, num país que aposta quase tudo no sector do turismo, se torna particularmente grave.
Há pouquíssimos hotéis. E sem grande qualidade.
Há muitos restaurantes, mas poucos de nível para turistas. Para jantar restam apenas meia dúzia, normalmente às moscas, coitados, a muito custo. Após as nove da noite, é praticamente impossível encontrar restaurante aberto.
E no entanto, come-se lindamente em Anadia – mas não se explora essa qualidade turisticamente. Talvez começando por deixar o Leitão da Bairrada para os vizinhos da Mealhada, que o têm trabalhado tão bem. Procurar a diferenciação por outro lado. Pela frescura. Pelo ambiente. Há tanto por onde explorar. Pelo vinho da Bairrada, por exemplo. Por que é que o vinho da casa de todos os restaurantes de Anadia não é um certificado Bairrada? Será impossível a restauração e o sector do vinho trabalharem em conjunto em co-promoção turística?
E por falar em vinho… tirando pouquíssimas, mas mesmo muito poucas excepções, não há enoturismo na Bairrada (para não falar em Anadia). Juntar meia dúzia de pessoas, dar uma volta a uma adega preparada apenas para a vinicultura, odorífera e amontoada, juntar uns queijos e enchidos do supermercado e apresentar uma roda de 6 vinhos em copos do Ikea, não é enoturismo. E a culpa não é só dos empresários do sector. É preciso sair, visitar, aprender com os outros, de outros sítios. Era bom haver alguns incentivos nesse sentido. E não é por falta de entidades com esse objectivo: a Comissão Vitivinícola da Bairrada, a Confraria dos Enófilos da Bairrada, etc..
Há muitos e variados eventos ligados ao vinho, que hipoteticamente são destinados aos turistas, mas tenho muitas dúvidas sobre a sua eficiência e não encontrei dados publicados para o confirmar.
Excepção feita aos Baga Friends e ao Dia Mundial da Baga (no primeiro sábado de Maio) que, sendo uma organização totalmente privada – ou talvez por isso –, consegue trazer de facto muita gente de fora do país.
Mas há mais. Turismo desportivo – em Agosto, todos sentimos um enorme orgulho no contributo do Centro de Alto Rendimento de Anadia para as medalhas de ouro olímpicas de Leitão e Oliveira. Mas orgulho não enche a barriga. Em entrevista ao JB, Sérgio Fernandes, director do CAR, revelou que em 2023 passaram pelo Centro, 9525 atletas de 67 nações diferentes. Mais o staff das equipas, familiares, etc.. Quantos desses voltaram em férias? Que incentivo lhes foi dado para voltarem em turismo? Ou para divulgarem Anadia no seu país de origem? Que experiência extra desportiva lhes foi proporcionada? O que vão contar que ajude a promover a região turisticamente? E estou só a olhar para um dos factores da equação do turismo desportivo…
Dinamizar as redes sociais. Tirando a Rota da Bairrada, pouco se vê. E nos dias de hoje, se não se está nas redes sociais, não existe.
Do lado dos serviços, é dramático ver encerrar referências. Empresas que, com muito trabalho e dedicação se modernizaram, inovaram, investiram e reinventaram. Que se conseguiram diferenciar pela qualidade do ambiente, do atendimento, dos produtos. E mesmo assim acabam devoradas pela inércia do concelho.
[Estranhei muito a declaração das 20h de Montenegro. Mas se calhar eu não era o alvo dessa comunicação. Há ali mais do que se está a ver…]