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João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

Notas soltas

O início do ano tem sido bastante agitado cá no nosso rectângulo, mas começo pelo maior susto, que vem de fora. Os dislates de Trump não me preocupam em demasia. Repetindo o que fez em 2017, é expectável que aumentem em número e insensatez até ao início do mandato. Tirando a questão do canal do Panamá, nada do resto é para levar a sério.

Já as interferências de Elon Musk são inquietantes. A opinião da pessoa é livre. Mas o controlo que um único indivíduo tem sobre um meio de comunicação global, quando decide usá-lo com um propósito político, é inconcebível em democracia. Não me parece descabido a UE vir a tomar medidas de contenção.

Por cá, a grande animação é a Rua do Benformoso. Aquela rua que, em dia de manifestação, se enche de bandeiras coloridas e palavras de ordem. Nos outros dias, há consumo e tráfico de droga, prostituição, violações (plural) à luz do dia e um homicídio à facada. E há também pessoas que lá vivem. Portugueses, cada vez menos e mais velhos. E imigrantes, cada vez mais. São estes portugueses e estes imigrantes, que sofrem com a insegurança da rua. São eles que precisam lá da polícia – é que depois de uma rusga, pelo menos durante uns dias, a insegurança sossega e os moradores têm alguma paz. A diferença daquela rusga a 19 de Dezembro (já passou um mês…) é que houve uma fotografia de telemóvel. E quem aparece na fotografia… é quem passa àquela hora, naquele local. Já me aconteceu. Estava tudo bem, deixaram-me ir. Tal como àquelas 25 pessoas da foto.

Claro que a primeira vez que vi a foto, chocou-me. Depois foi dado o contexto: uma operação policial, com o ministério público, utilizando técnicas de polícia, na sequência de denúncias e suspeitas, como tantas outras feitas ali e noutras partes do país. Com contexto, quem quer, percebe.

O curioso é que a ligação desta acção policial com a imigração foi feita apenas pela esquerda. O Ventura adorou.

A mesma esquerda – quase toda – que perguntou “por que não se fazem rusgas no Restelo?”. Talvez por ali não haver criminalidade de rua…

E a mesma esquerda que, na sofreguidão da baixa política, acusa a polícia de racismo.

E que aqui tenta colar Montenegro (“o governo mais extremista das últimas décadas”), esquecendo que, pela primeira vez em Portugal desde a I República, houve motins de rua em dias consecutivos.

E já que estamos a falar da esquerda… por que não avançou com a proposta de alargamento da IVG quando tinha a maioria parlamentar na Assembleia da República? Não teve tempo, durante 8 anos? Não se lembrou? Ou apenas utilizou agora o tema – e as mulheres – para tentar “entalar” o governo com o Chega?

O governo entala-se sozinho, não precisa de ajuda. A ideia da Secretaria-Geral do Governo é óptima e vem de trás: aumentar a eficiência do Estado. Alguém percebeu como? Não, porque o governo não quis explicar. E porquê? Porque, com medo da berraria do Chega, não teve coragem de assumir que tinha de contratar alguém altamente qualificado para o cargo e pagar-lhe de forma condizente. Se o governo fizesse o trabalho de casa, saberia que os deputados do Chega, em média, duplicaram o seu rendimento, comparando com o que ganhavam antes da política. Mais do que qualquer outro partido. You pay peanuts… you get monkeys.

Para cúmulo, hilariamente, o governo ainda achou que podia pedir ao Centeno para pagar o salário do Rosalino e manter segredo.

E no final, foram buscar um aposentado de setenta anos, para uma reforma de modernização do Estado.