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Manuel Armando

Padre

Gigantes de perna curta

Desde miúdo, sempre ouvi dizer que a mentira tem a perna curta. Nunca dei grande apreço a esse aforismo porque nem sequer conhecia o seu significado. Se, por algum acaso, nos viesse à tona sonegar qualquer coisa, importante ou não, menos agradável, logo a situação subia às instâncias devidas, era solucionada e sancionada pela autoridade justiceira do chinelo. Assim, todos aprendíamos no exercício da verdade e respeito por tudo quanto pertencesse aos outros.

A vida, porém, vai-se desenrolando, continuamente, sendo nós enrolados nas teias de procedimentos estranhos que nos levam até a titubear perante o certo e o errado, mas querendo saber se o agir humano vai pautar-se pela verdade ou pela mentira. O anormal acontece tantas e tantas vezes que nos faz quase crer que tudo passou a ser normal. Torna-se, pois, preciso consultar e forçar a nossa mente e consciência para nos conservarmos de cabeça erguida e fresca e capazes de discernir entre o bem e o mal.

Ao crescermos na estatura e idade, apercebemo-nos das incongruências da sociedade perante as mudanças abruptas e rudes num plano de destruição e deslealdade em direcção à descrença social quando tudo deveria rumar ao encontro da segurança e lisura de compromissos, tanto pessoais como de conjunto.

Contudo, que testemunhamos? Uma derrocada dos bons costumes que trará consequências nefastas destruidoras de comunidades, cujos interesses e ideais se irão fazer cópia de procedimentos torpes e mentirosos dos muitos que dizem segurar nas suas mãos a paz, confiança e segurança de um povo que trabalha, buscando, honestamente, o seu pão de cada dia, usando as formas mais sensatas e honestas.

Ainda se vão experimentando alguns esforços em ordem a uma sociedade igualitária, respeitadora e respeitada na qual cada pessoa olhe o que é seu. Todavia, no interior desse trigo cresce um joio pernicioso que amarfanha aqueles valores que ainda não deixaram de o ser e procuram o bem comum na justiça e verdade.

Como é entusiasmante contemplar a simplicidade e abertura sem reservas de todas as crianças que fundamentam as suas traquinices na verdadeira convivência fraterna e sem prejuízo voluntário mentiroso para os outros!
Razão para se procurar entender Jesus Cristo, no seu modo de acolher, quando abraça uma criancinha e admoesta: «Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo nenhum, entrareis no reino dos céus» (Mt.18/3-5).

A vida social e política é pródiga em casos que a complicam e mergulham na desconfiança e revolta, quando alguns gigantes vêm à praça pública apregoar a sua honestidade pessoal, acusando até outros, mas são “descartolados” pelo rabo do diabo que fica de fora, fazendo aflorar a verdade que denuncia os factos e feitos conspurcadores de quem procura escalar degraus íngremes, carregados de opíparos pecúlios, mas omitindo a justiça para com os débeis e precisados. Bem depressa vêm a ser desmascaradas certas mirabolâncias daqueles que não se arrependem nem procuram redimir ou repor.

São esses os gigantes de pernas curtas porque carregados da mentira.
Nesta ambiência, prefiro conviver entre os pigmeus que, por seu turno, se agigantam ao fazerem propagar a verdade.