Entrámos em ano de eleições, numa fase da vida nacional marcada por decisões políticas sustentadas apenas por sensações populistas, ao arrepio de qualquer dado estatístico e contrariando fiáveis trabalhos académicos.
No Município de Anadia assiste-se a mais um aparente final de ciclo autárquico, com a atual Presidente impedida de se recandidatar, replicando o que tem vindo a suceder há mais de uma década – uma sucessão dinástica, imperturbada e imperturbável.
É costume dizer que as eleições autárquicas apenas se podem perder, dificilmente sendo ganhas: sustentado em décadas de exercício de poder, absoluto e absolutista, sem necessidade de aprender a governar por e para consensos, o MIAP apenas terá que escolher sua/seu cabeça de lista, sendo altamente provável o desfecho – porque governa formidavelmente, ou porque as (quais?) oposições falharam nas suas missões?
Os dados estatísticos do Município estão à disposição de todos os Anadienses para consulta, sendo altamente questionável se, nesta fase distópica da Humanidade, os (negativos) números condicionarão o sentido do voto, ou se a opacidade do processo de escolha do sucessor do MIAP afastará alguém.
Mas qual a sensação dos Munícipes face ao que PSD e PS, sobretudo, (não) fizeram?
Conhecem as propostas que apresentaram e o impacto que teriam caso fossem aprovadas? Percebem a utilidade democrática dos partidos da oposição – todos eles, mesmo os extremados? Reconhecem-lhes legitimidade? Aprovam a forma como escolhem seus cabeças de lista? Foi-lhes comunicado eficazmente o que fizeram?
Não rejeitando o publicamente conhecido trabalho propositivo dos ainda Vereadores do PSD, a mudança interna no decurso do ciclo autárquico necessariamente conduziu a uma mudança de estilo e orientação, chefiados por um novo líder, com reconhecida experiência de gabinete a nível europeu e, presentemente, sendo o agente político local de maior destaque. Apostarão em tal líder para cabeça de lista à Câmara Municipal, ou arriscam ‘pescar’ em águas mais profundas e experientes, tentando o efeito surpresa com alguém que decidiu apostar num tabu?
O Partido Socialista continuará a sua aposta no obscurantismo dos processos de escolha, sequer sem Plenário de Militantes, ou apostará em Primárias abertas para escolha de cabeças de lista, como proposto por Eduardo Ferro Rodrigues – ex-líder nacional – para as Presidenciais? Manterá a imposição do atual Vereador, já marcado pelo pior resultado socialista nas prévias eleições, ou apostará em alguma terceira escolha?
CDS e Iniciativa Liberal seguirão a imposição/tendência nacional, inseridas numa coligação local com o PSD?
Manterá a CDU a aposta nos cabeças de lista à Câmara e Assembleia Municipal, procurando reforçar uma oposição democrática de esquerda, mais profícua nas propostas (mesmo que fadadas à rejeição, mesmo por aqueles que mais próximos deveriam estar).
Veremos os apaniguados do CHEGA a abandonar a sombra dos seus posicionamentos virtuais, assumindo a via eletiva e sujeitando-se a votos?
Indo ‘a procissão no adro’, é inegável que os partidos da oposição local jamais tiveram uma oportunidade tão (aparentemente) favorável de obter bons resultados, no momento de maior fragilidade do MIAP.
As lideranças locais do PSD e do PS estão numa desafiante empreitada: ou obtêm bons resultados – considerando o que declaram, maioria dos mandatos na Câmara/Assembleia Municipal e/ou Freguesias -, impedindo nova vitória do MIAP ou a sua maioria absoluta, ou ficarão para a História local como os responsáveis pelo inacreditável registo de total ausência de alternância no poder, cumprindo uma assunção total de responsabilidades, públicas e partidárias.
Avizinha-se um interessante ano de 2025.