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Cultura // Sociedade  

“O Meu Abraço à Vida” é o primeiro livro de Carlos Grangeia

Carlos Grangeia assume o nome de Fernando, fazendo memória de seu irmão que faleceu apenas com 6 anos. Como que procurando dar-lhe vida ou dar à escrita o toque de ficção, que não é.

O autor Carlos Grangeia, que, na mocidade, escrevia e publicava alguma poesia neste jornal (seu pai foi um dos fundadores), não era expectável que, algum dia, viesse a escrever um livro de memórias, embora se saiba que, de certo modo, foi verdadeiro aventureiro por terras de Angola. Nomeadamente, a nível do empresariado, o mais variado (comércio e indústria). Mas o gosto pela leitura que seu pai, professor primário, Joaquim Seabra, lhe havia imprimido, socorrendo-se de livros de aventuras e viagens, serviu de seiva para a viagem no tempo e para a fita da escrita.

Pois é este género de escrita que se nos deixa ler com agrado, como consequência de uma certa leveza e intimismo confessional, mas não deixa de declarar que tudo o que escreve de essencial, tudo é verdade, não vá pensar-se que são enredos de fantasia.

O título do livro é sugestivo, exactamente “O Meu Abraço à Vida”, que logo indicia um cidadão resistente às contrariedades, começando por relevar o isolamento da aldeia onde nasceu, no lugar da Pedreira, freguesia de Oiã, mais exactamente na Quinta da Pedreira, que, então, dispunha de uma azenha e de um moinho de vento. Em casa de seu avô materno, pessoa extremamente bondosa (Alberto Nunes Alferes, irmão de Frei Gil, figura incontornável). Estamos a revelar um suposto segredo que o autor procurou guardar.

Registe-se, entretanto, que, por 1500, nas costas desta mesma quinta, a poente, havia lagoas (que ainda existem, provenientes do arranque de pedra caleira para cozer nos fornos). Documentos da Torre do Tombo, da época, reportam a “pedreira de lagos”, não sendo de pôr de lado a hipótese de por ali ter nascido o lugar, mais próximo das águas que corriam apressadas do porto e lagoa da Sanguinheira, sitos na Feiteira, dividindo Troviscal de Bustos…

Feitos alguns estudos na área da economia, em Coimbra, Carlos Grangeia emigrou para Angola e em Cabinda foi alvo da perseguição da Pide e da polícia local por ter lutado contra os organismos prepotentes do Estado.

Por motivos de saúde, teve de regressar a Portugal, mas como não podia estar parado, colaborou em várias actividades sociais e políticas: organização anual da FIACOBA, fundador da Kiwicoop, ACIB e ACUREP. Era um homem “para a frentex”. A partir de 1996, foi gerente de JB, em parceria com Dr. António Manuel Chambel.

Carlos Grangeia assume o nome de Fernando, fazendo memória de seu irmão que faleceu apenas com 6 anos. Como que procurando dar-lhe vida ou dar à escrita o toque de ficção, que não é.
O autor, que se saúda, deste lado do Atlântico, não deixa de prometer voltar de novo às memórias, “recordando os seus momentos mais particulares, mais sociais e íntimos”.

Neste primeiro volume relata também a vida com os avós paternos (Troviscal), seu serviço na loja Grangeia, vida escolar e trabalho, cidade de Coimbra, vida militar, perseguição pela Pide, a vida em Luanda, a independência de Angola, actividade empresarial, comércio internacional, problemas de saúde. Uma panóplia de textos breves de fácil leitura e compreensão. Aqui e ali, intercala a narrativa memorial com poesia.

A obra, composta por 25 capítulos, é publicada pela editora Chiado Books com delegações em Angola, Cabo Verde e Brasil.

Armor Pires Mota