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Manuel Armando

Padre

Ai, as nossas distracções!…

Quer queiramos ou não reconhecer, havemos de concordar que vegetam entre nós inúmeros cidadãos vivendo imensas angústias permanentes sem coragem visível para as porem à reflexão participada e uniformizada num grupo onde possa, cada um, ser ajudado a descobrir, uma pontinha que seja, soluções de vida para singrarem. Por essa dificuldade surgem frases ou palavras soltas aí pelos muros, buscando, sonegadamente, respostas de decisão para as ansiedades de tantos que esperam e trabalham por um mundo melhor.

Se não há respostas convenientes para tais inquietações psíquicas e psicológicas, aconselha-se, pelo menos, as consciências bem formadas, a ponderar o sofrimento de muitos como lastimar a indiferença de tantos outros.

É vulgar andarmos pela rua, entrarmos nos becos, olhar montras, contemplar paredes engalanadas, sentarmo-nos num café, esperar o autocarro ou o táxi, aguardar a chegada de um amigo, etc, etc, e, nessa ociosidade, ocuparmos os olhos com o panorama que nos cerca. Desvendamos muitos escritos anónimos, pessoais ou retirados dos livros de autores clássicos pensantes que, tantas vezes, passam desapercebidos. Significa isso que é preciso suster o passo para perscrutar os íntimos das pessoas que não conseguem esconder muito do que levam na alma, sem uma palavra de estímulo e esperança para atenção e descoberta de quanto se perde em cada momento pela ausência de meditação e do sentido da comunidade da qual fazemos parte integrante mais aqueles com quem cruzamos diariamente. Não ajudamos porque passamos à frente por uma ineficácia de consciência mal orientada.

O autor ou os autores daquilo que é transcrito a esmo, por essas paredes além, congeminaram e mediram a vida com os problemas inerentes, descobertos pela paciência e introspecção de bastantes dias, meses, anos e, quantas vezes, ocultados pelo receio e vergonha de um Universo em que a vida e sensibilidades humanas não permitem qualquer momento ou movimento de reconstrução de algo que tornaria os seres humanos mais felizes.

Também devemos acreditar que sempre se ouvirão os gritos dos inquietos os quais nunca conseguirão perceber totalmente o seu papel a desempenhar em ordem a descomplexar as mentes aperradas pela tirania da comunidade que deseja tomar as rédeas da felicidade quando, por direito, deveria ser comum.

Lembro de, há já vários anos, ao ultrapassar o “Muro da Vergonha”, em Berlim, li «aqui termina a liberdade». Volvidos os muitos tempos, pesa-me não agradecer, sempre como devia, a grande prerrogativa de entrar e sair num mundo vivo porque, cada dia, ressuscitado.

Compreendemos, naturalmente, que usufruímos do saber ou reflexão uns dos outros, mas o que lemos reproduzido dos livros, por vezes, nos muros, nas salas de restaurantes e cafés e respectivos quartos de banho, serão verdadeiros gritos de alma que silenciam estados anímicos menos felizes e de revolta ou chamadas de atenção feitas por quem desejaria ver uma sociedade a viver com os seus membros em uníssono, entoando a mesma canção de amor, doação, sacrifício e fraternidade.

A título de exemplo para tudo o que digo, deixo uma frase, exarada na parede de um café. Lê-se assim: «É na inveja dos outros que descobrimos o quanto somos especiais.»
E, depois, mais: «Bem-vindo, sorria. Deixe suas preocupações de lado. Entre e sinta-se em casa.»

Ora, aí estão pontos a ponderar, como sucederá em muitos outros sítios, aos quais, porém, nem sempre prestamos devida consideração.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor