A paisagem das marinhas de sal corre o risco de desaparecer pela força das marés, se não for feita uma muralha de protecção, advertiu a vereadora da Cultura da Câmara de Aveiro, Maria da Luz Nolasco.
“O grande problema que se coloca neste momento ao salgado de Aveiro é que as ilhas maiores, que são as centrais, junto ao esteiro de Sama, estão ameaçadas pela força das marés que derrubam os muros de protecção”, disse à agência Lusa Maria da Luz Nolasco.
A vereadora tem estado empenhada na promoção de cursos de salicultura para dar continuidade ao salgado aveirense, que integra a Ecosal Atlantis – uma rede europeia do programa Interreg que une cidades do Atlântico produtoras de sal.
Maria da Luz Nolasco reconhece que, além da valorização que essa rede permite, é necessária uma “intervenção de fundo”.
O caso de Aveiro “é complicado, porque tem um sistema arcaico de amanho que não pode ser muito alterado por causa do desenho das marinhas, mas é possível, na área central de marinhas, garantir a produção de sal em belíssimas condições”, disse.
Para tal, considera necessário proteger as salinas da invasão de água pelas marés, que têm vindo a destruir os frágeis muros que as delimitam, feitos com lamas e outros materiais locais, e propõe a criação de uma cintura que contorne as ilhas centrais, desde a embocadura do rio Novo do Príncipe, sob pena de, se tal não for feito, a paisagem ficar profundamente alterada dentro de pouco tempo.
“É uma ideia que tem sido discutida entre os marnotos (homens que trabalham as salinas) e esse é um projecto que a Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA) poderia abarcar”, defendeu a autarca.
O perímetro é de cerca de 12 quilómetros, segundo a vereadora, sendo necessária a deposição de grande quantidade de areia – eventualmente proveniente de dragagens para a consolidação dos muros existentes – e alguma estrutura de engenharia.
“Esses cálculos foram feitos por técnicos municipais em colaboração com a Universidade de Aveiro, que em tempos apresentou um trabalho em colaboração com a Região Hidrográfica do Centro, o qual foi suspenso e acho que está na altura de ser retomado”, afirmou a vereadora da Cultura na Câmara Municipal de Aveiro.
Maria da Luz Nolasco advogou que uma intervenção dessa envergadura contribuiria para a navegabilidade dos canais, a valorização turística e a preservação do património natural, “que a Rede Natura 2000 tão bem defendeu”.
Deixou, no entanto, uma advertência: “Esta zona está em risco de desaparecer sem uma acção deste nível. Aveiro tem de proteger e trabalhar a sua paisagem, o seu maior património a salvaguardar, e que está a ser descurado”.