A Escola de Viticultura e Enologia da Bairrada (EVEB), de Anadia, está a desenvolver um projeto intercultural, nas componentes de dança e teatro, com vista à plena integração dos alunos provenientes dos PALOP na comunidade, mas também tendo em vista a realização, no final do ano letivo, de um espetáculo para apresentar à comunidade.
Património e valorização cultural. Sobre este projeto, Adriano Aires, diretor da Escola, diz que o mesmo se destina a todos os alunos que nele queiram participar. “Houve um grande esforço da Escola em conseguir duas tardes livres (segunda e terça-feira), para dar corpo a este projeto, com formação a cargo da professora Paula Alexandra e que irá envolver mais de meia centena de alunos”, avançou, revelando que o objetivo é fazer sentir aos alunos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe que “eles são portadores de algo que pode ser valorizado, aumentando a sua autoestima, valorizando as suas raízes”.
A intenção da escola é fazer com que nos seus tempos livres “o escape e afirmação dos alunos vá ao encontro de algo positivo e construtivo”, acrescentou.
Embora nunca tenham surgido na escola questões raciais, é um facto que existem três comunidades distintas (portuguesa, cabo verdiana e são tomense), estando a escola empenhada em aproximar os alunos. A grande adesão, que superou as expectativas iniciais, é a prova dessa vontade de união, assim como veio dar alento ao projeto que irá ao longo dos próximos meses construir um espetáculo a apresentar, no final do ano.
Esta vontade de estreitar laços assentes na interculturalidade já vem sendo um hábito na escola: são exemplos disso mesmo o concurso de jogos tradicionais portugueses interturmas, o passeio pedestre que envolveu alunos e professores até à freguesia da Moita, onde decorreu um piquenique e agora, a 17 de fevereiro, um corta-mato interturmas, por entre os vinhedos da Estação Vitivinícola da Bairrada.
Antigas Escolas Primárias ao serviço da EVEB. As antigas escolas primárias, localizadas no centro da cidade, estão já ao serviço da EVEB. Depois da inauguração do Centro Escolar de Anadia, este espaço ficou vago, tendo a autarquia anadiense cedido as instalações à EVEB que na beneficiação de um dos três edifícios, onde já decorrem as aulas dos primeiros anos dos cursos ministrados pela EVEB, foram investidos mais de 20 mil euros. Segue-se, em breve, a recuperação de um segundo bloco de salas de aulas, tendo ainda Adriano Aires um projeto ambicioso para a desativada cantina escolar.
Cozinha-baloratório. O projeto passa por ali colocar em funcionamento uma cozinha/laboratório, por forma a que os alunos dos cursos de restauração e hotelaria possam cozinhar, de uma forma mais individualizada, mas também dar forma a um ambicioso projeto que tem vindo a amadurecer com o tempo – abrir a cozinha à comunidade, ministrando cursos pós-laboral de iniciação à cozinha.
De resto, é esta ligação com a comunidade que Adriano Aires quer aprofundar: “a Escola tem necessidade de se libertar e de se mostrar à comunidade onde está inserida e estas instalações, no centro da cidade, são ótimas para a realização de eventos e será uma mais-valia até para animar o centro da cidade”.
Falta de recursos financeiros. No entanto, o desenvolvimento desta ideia depende da disponibilidade financeira da escola: “esta ideia poderia estar concretizada mas somos credores de uma avultada verba, do ano passado, que seria mais do que suficiente para dar um bom arranque ao projeto”. Adriano Aires refere-se às verbas provenientes do POPH, que estão atrasadas.
Ao JB, aquele responsável sublinha ainda o peso que os cursos de Restaurante/Bar e de Cozinha/Pastelaria têm na Escola: “Têm muita procura porque são cursos em que se exige menor conhecimento científico, dando prevalência à prática. Por outro lado, são cursos com uma empregabilidade mais fácil, assim como possibilitam que os alunos emigrem, por exemplo, sendo portadores de uma carteira profissional que lhes dá mais segurança e vantagem na busca de um emprego”.
Neste sentido, este ano, pela primeira vez, vão ser colocados alunos da escola em formação em contexto de trabalho em vários países europeus e africanos. “Será mais um esforço da escola, mas estamos certos que será muito profícuo”, acrescentou, sublinhando que a Escola, que é frequentada por 212 alunos, gere um orçamento de um milhão e quinhentos mil euros, empregando 40 colaboradores, sendo hoje um estabelecimento de ensino com peso e reconhecido como um agente que promove o desenvolvimento económico do município.
Catarina Cerca
catarina@jb.pt