Vivemos, em 2025, tempos assustadores – a palavra que me ocorreu de imediato, contudo, foi “distópicos” – para o que é a ‘condição feminina’ e os desafios que esta mesma condição acarreta.
Discutiu-se, ultimamente, em várias dimensões e esferas, o papel da mulher na sociedade portuguesa, no antes e no pós 25 de Abril. Aliás, discutiu-se precisamente a “Revolução no Feminino” em abril do ano passado – onde também enfatizei, enquanto participante, o caminho que falta percorrer e a falta de garantias –, no âmbito das Comemorações do 25 de Abril, em Oliveira do Bairro, tal como se tem vindo a enfatizar o papel preponderante da mulher na construção da democracia portuguesa, da evolução científica e, ainda, da própria ‘manutenção do lar’. Como sempre na História, este é um caminho inconstante, marcado por vários progressos, alguns retrocessos, mas sempre de ameaças eminentes – claro é o crescimento de discursos políticos e mediáticos que relativizam as violências de género, que se opõem às políticas de igualdade, e defendem uma visão “tradicional” da mulher em contraste com os já conseguidos direitos e liberdades da mulher ser, precisamente, o que pretende ser.
Ao longo dos últimos anos, enquanto estudante de sociologia, mas sobretudo enquanto eleita local, tenho refletido bastante sobre a representação política da mulher e o próprio exercício do poder – sobretudo, de que forma este é exercido. Tenho-me tornado, cada vez mais, curiosa sobre nomes locais como o de Maria Fernanda Matos Fernandes, a única mulher Presidente de Câmara de Oliveira do Bairro (1975-1976), Isaura Liberal, presidente da Junta de Freguesia de Bustos (1979), e Maria Orendina Silva, vereadora eleita nas primeiras eleições autárquicas após a Revolução de Abril; a título pessoal, tenho admirado também Rosalina Filipe, eleita por diversas vezes em diferentes órgãos autárquicos e que sempre foi voz presente da sociedade civil. Por outro lado, fiz o exercício de verificar todos os eleitos em Oliveira do Bairro, e verifiquei que, em vários mandatos, se contavam pelos dedos das mãos os nomes de mulheres eleitas; refleti que se os nomes que referi anteriormente me gritam ‘coragem’ e ‘capacidade’, nem sempre a mulher tem tido uma marca presente. Aliás, ao longo da História, a mulher tem sido, muitas vezes, tornada ausente – mitificada, até – pelos filtros ideológicos, cimentando-se na memória coletiva este silenciamento.
Em fevereiro destaca-se a celebração de diversas datas que nos remetem, inevitavelmente, para o ‘ser’ mulher – o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, e o Dia de São Valentim que serve, para além da celebração do amor, enquanto lembrança das violências e opressões que persistem em afetar em maior número as mulheres.
Neste fevereiro, escolhi relembrar as mulheres que fizeram, também, a democracia no concelho – muitas vezes deixadas nas sombras. Que, um dia, possamos celebrá-las.