Para o ano, aproximadamente por esta altura, estaremos a sair do período das férias directamente para a campanha eleitoral das autárquicas.
Cerca de um terço dos concelhos do país estão obrigados a mudar de presidência por força da limitação de três mandatos consecutivos. A Câmara Municipal de Anadia será um desses concelhos, com o fim do ciclo político de 12 anos da Presidente Teresa Cardoso.
Durante os próximos meses é natural que partidos políticos, movimentos independentes e personalidades anadienses estejam mais focados nas negociações que levarão à escolha de nomes, alianças, coligações e movimentos.
Mas, em algum momento, temos de começar a debater as ideias e um rumo para um novo ciclo que se avizinha.
E é legítimo pensar num novo ciclo de 12 anos, divido três em parcelas de quatro anos.
Uma das vantagens da lei de limitação de mandatos é poder balizar assim a forma como as propostas podem e devem ser apresentadas: num ciclo longo, repartido em três ciclos de médio prazo.
O primeiro passo para preparar o futuro é conhecer o passado e saber onde estamos (a História e a Geografia deviam ter muito mais relevância nas nossas escolas, mas isso é conversa para outra altura).
Atenção: não confundir com “listar o que é que os antecessores fizeram mal e ignorar o que fizeram bem, para uso na batalha política corriqueira”.
Refiro-me a análises comparativas. Económicas, sociais, demográficas, culturais. Com números sempre que possível e em séries longas sempre que disponíveis.
Como se compara Anadia com os concelhos vizinhos? E com concelhos de dimensão semelhante de outras zonas? Para perceber como chegámos ao ponto em que estamos hoje.
E hoje, onde estamos? Quais são as riquezas do concelho? Economicamente, há novos sectores com actividade relevante? Em que estado estão os sectores tradicionais? Como competem com concelhos concorrentes da região e do país?
O que atrai e retém pessoas em Anadia, hoje? O que as afasta?
Adoptando um sistema de análise básico da gestão de empresas, quais os pontos fortes em que Anadia se pode apoiar e apostar? Onde estão as oportunidades para fazer crescer o concelho? Que ameaças, globais e locais existem pela frente? Quais as fraquezas do concelho? Algumas dessas fraquezas podem ser corrigidas. Outras amenizadas. E para outras ainda, apenas temos de aceitá-las e aprender a viver com elas.
Só depois desta análise profunda, fria e racional, sem estados de alma ou desvios partidários, é que se deve começar a montar as ideias para o futuro.
Depois de não sei quantos anos seguidos de PSD e de 12 anos de MIAP (movimento independente), parece-me o momento ideal para fazer esta análise de preparação do futuro.
É verdade que o MIAP pode continuar, com nova liderança. Mas não é um partido político, com as pendências tradicionais, pelo que acredito que há espaço para esta análise, fundamental para aprofundar o debate sobre o caminho para o próximo ciclo.
Economicamente, quais os sectores em que se deve apostar? Todos os sectores tradicionais continuam a valer a pena? Há novos sectores em que vale a pena apostar?
Qual o compromisso ambiental, seja em relação à indústria, seja em relação à agricultura?
Como reter os jovens? Como dar boas perspectivas de vida no concelho aos adolescentes de hoje para daqui a 4, 8, 12 anos? Que empregos existirão para eles nesse prazo? Que oportunidades de criação de riqueza?
Que oferta cultural, para além das festas e feiras, pode o concelho oferecer aos munícipes, mas também às gentes de fora?
São estes e muitos outros temas que esperamos que estejam no debate político durante os próximos 12 meses.
Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor