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João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

Autárquicas vs Presidenciais

Estas costumam ser notas finais, mas pela relevância excepcional, quero realçar já no princípio: a Fundação de Serralves vai receber em depósito, 37 obras de arte da colecção Christian Duerckheim. Esta realização deve-se ao esforço, dedicação e patriotismo do bairradino Nuno Luzio, actualmente a trabalhar no gabinete do director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, em Viena. O Nuno é um português de sucesso no mundo da diplomacia internacional e um orgulhoso bairradino. Obrigado Nuno!

Ao terminar o ano, termino também a série de temas que lancei para a discussão das autárquicas 2025 no concelho de Anadia. Outros haveria, mas quis fugir aos mais tradicionais e comuns, focando-me nos que entendo de efeitos mais longos.

Claro que não é possível fazer tudo, bem feito e ao mesmo tempo. É preciso priorizar e isso são opções políticas legítimas que devem ser apresentadas atempadamente, discutidas e avaliadas pelo eleitorado.

Subjacente ao meu pensamento, houve sempre uma pergunta: o que fazer hoje, para que as crianças anadienses queiram ficar em Anadia daqui a 12 anos quando forem jovens adultos? Por outras palavras, como reter os seus filhos/netos em Anadia quando acabarem a escola?

É uma pergunta – e aqui me afasto do caso particular de Anadia para abrir a questão de uma forma mais geral e transversal ao país – a que os movimentos independentes têm mais dificuldade em responder, do que os partidos políticos.

Os movimentos independentes são tendencialmente mais aptos para responder aos problemas de curto prazo e imediatos. Por não terem uma ideologia associada, que não apenas o exercício do poder autárquico. E pela sua natureza limitada no tempo.

Ao invés, os partidos têm a obrigação de pensar e agir no longo prazo, de acordo com a sua doutrina política.

A possibilidade de movimentos independentes às autárquicas existe desde 2001. Foi também nessa altura que foi legislada a limitação de três mandatos. Mas só em 2013 – curiosamente três legislaturas autárquicas depois – é que se verificou a proliferação destes movimentos por todo o país, quase sempre com o mesmo padrão: uma deserção de elementos do partido que tinha a Câmara; e o presidente em fim de mandato numa posição “secundária” na lista da candidatura independente.

Há por isso que distinguir dois tipos de independentes.

Os que vieram de fora para dentro, pessoas sem filiação partidária mas com interesse pela política e desenvolvimento local, que não encontraram respostas na oferta dos partidos e se mobilizaram para construir uma alternativa. Estes independentes, pela energia, coragem e determinação que empenharam, podem e devem ser olhados pelos partidos políticos para integrar a sua força eleitoral.

E os que foram de dentro para fora, os que abandonaram os seus partidos e ideologia em busca do exercício do poder, apesar de legítimo. Terão, no meu entender, pouco a acrescentar nas visões de longo prazo e desenvolvimento futuro, exactamente pela falta de suporte ideológico. A história mostra-nos que o eleitorado normalmente penaliza esses regressos. É que como se o João Moutinho voltasse ao Sporting depois do Porto – Deus me livre…

Já em artigos anteriores frisei o meu receio da pessoalização da política e daqui dou o salto para as Presidenciais – que são as únicas eleições individuais do nosso sistema. Mas o que se discute, mais do que as valências pessoais dos putativos candidatos, são as posições dos partidos e dos “seus” candidatos. É o mundo ao contrário. O que eu gostava que se discutisse é a falta de candidatos presidenciais com densidade intelectual, espessura democrática e cariz inspirador de entre os nomes até agora avançados.

Bom ano!


Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor