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Jorge Castro

Diretor da AEVA

Bastava copiar bem

Para que servem os exames escolares no ensino secundário português? – Sim, sabemos quase todos: servem para ordenar os jovens que querem prosseguir estudos no ensino superior.
Sermos avaliados em conhecimentos significa que alguém, a partir de uma bitola pré-definida, testa as nossas capacidades de reproduzir coisas, de retransmitir conhecimentos. A esse tipo de avaliação – que eu considero básica! –, deveriam juntar-se outros conhecimentos que são importantes ser testados: capacidade para avaliar, para criticar, para transformar, para inovar, para empreender.

A avaliação é muito mais do que avaliar conhecimentos e capacidades. Ela pode e deve servir para compreender as pessoas na sua diversidade e nas muitas competências que a distinguem. E por isso, existe crescentemente, nas diversas comunidades (as comunidades desenvolvidas!), uma preocupação em conhecer e em compreender as habilidades pessoais de cada um; em averiguar o potencial que cada um ainda não conseguiu demonstrar.

E é este tipo de avaliação que é feita na vida real à séria! Porque a vida não é um laboratório!
Ora, a escola é aquele local único onde se julga que se examina por excelência. Um local onde se julgam, de modo artificial e obstinado, conhecimentos e capacidades individuais.

Nalguns lugares escolares, nalgumas turmas-feitas-à-medida, nem se fazem intervalos nem pausas letivas para que os alunos treinem sem cessar a coletânea de exames. Noutros lugares escolares, prolongam-se as horas semanais às disciplinas de matemática e de português, repetindo exercícios e dando “a matéria toda que vai calhar no exame”.

É como a estória daqueles irmãos que faltaram às aulas na véspera do teste para estudar. Ou então como no caso daquela escola que é das primeiras nos rankings: “…deixámos de dar as aulas; de dar a matéria… temos de os preparar para os exames… não podemos baixar no ranking nacional…”.

É isto mesmo, neste tempo dos rankings. Um ranking que seleciona, que separa os bons dos maus, os mais capazes dos menos capazes – como se na sociedade uns fossem mais precisos que outros; como se a vida a sério devesse estar fora da escola.

A escola é muito importante para a vida de cada um. Sabemo-lo. E o que é feito na escola pode e deve ser fundamental para uma certa vida de uma certa comunidade. Deve por isso ser na escola que tudo o que a vida proporciona deve ser experimentado, deve ser avaliado, deve ser testado, deve ser examinado.

Mas a testagem devia ser séria e à séria. Sem exames da treta que só servem para servir um ensino superior bolorento, assente numa régua e esquadro que já não serve para medir e dar soluções à comunidade que, duma maneira ou de outra, o paga principescamente e sem grande escrutínio.

Pois. Devia ser a vida na escola! Para que a escola servisse para a vida! (Como sempre digo: se a escola não serve para a vida de todos, a escola está a mais na vida de todos!)

Eu não só não acredito na utilidade apregoada sobre os exames escolares nacionais (um autêntico mito de há décadas!), como entendo que eles servem de quase nada para o que se pretende da escola nos dias que correm. Melhor: se os exames não existissem, fazia-se melhor a avaliação do que a vida a sério precisa da escola.

Entendo que valem de quase nada os exames que avaliam reproduções. – Para quê os exames que testam a memória?

O que se deve reproduzir de bom não precisa de ser examinado, basta copiar! E copie-se bem o que está bem feito! O que não presta, esqueça-se ou destrua-se! Porque esta parece ser a fórmula do desenvolvimento, do sucesso e do futuro!