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João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

É no Centro que está a virtude

Não estarei longe da verdade se disser que andamos todos mais ou menos atordoados com os extraordinários acontecimentos pré-eleitorais nos Estados Unidos, com debates catastróficos, desconfianças e fidelidades, atentados e milagres, recusas e desistências, nomeações e conjecturas.

Para lá de todas as considerações, parece-me haver uma dolorosa verdade, que se vem repetindo de outros países – o centro do espectro político continua sem saber como lidar com os populismos extremistas radicais. Os Republicanos têm razão quando afirmam que os Democratas já sabiam das debilidades de Joe Biden há muito tempo e só após o trágico debate com Trump é que se lembraram de contestar a sua recandidatura. É difícil acreditar que a enorme entourage que rodeia Biden nunca tenha percebido o seu estado de saúde mental.

Custa a perceber como é que no meio de tanta gente politicamente experimentada no partido Democrata, a elite dos políticos americanos, da Ivy league, ninguém tenha tido a força para, em tempo, preparar um adversário capaz de vencer a ameaça radical e nacionalista de Donald Trump e de um Partido Republicano irreconhecível, que faria corar de vergonha Reagan ou Bush (pai).

O problema, já o vimos noutros países, é quando perante uma ameaça extremista, a discussão ao centro entre um centro-direita e um centro-esquerda, dá lugar a um consenso do centro contra as extremas. Invariavelmente este caminho leva a que um dia só reste a luta entre um centro contra um extremo (o caso Francês), descambando na batalha entre os extremos (o Brasil).

No Brasil, as eleições de 1994 e 1998 foram ganhas à primeira volta – com maioria absoluta – por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um partido que abrangia todo o centro. Do centro-direita ao centro-esquerda. Ora, não havendo discussão política moderada ao centro, a quem não se reconhecia no PSDB, sobrava-lhe os extremos, nomeadamente o PT de Lula. É assim que em 2006 Lula chega confortavelmente ao poder, contra um centro desfeito – e por lá se manteve até que em 2018 aparece um extremista à direita, Bolsonaro. O centro desapareceu todo. Nas eleições de 2022, 91,63% dos brasileiros votou num dos dois candidatos extremistas. 9 em cada 10!!!

Em França vamos pelo mesmo caminho. Depois de elegerem grandes nomes da política universal, os franceses escolheram Sarkozy (corrupto) e Hollande (patético). Cada um à sua maneira, esvaziaram Os Republicanos (centro-direita) e o Partido Socialista. Repetindo-se a história, Macron (que considero um estadista e um político brilhante) agarra todo o centro opondo-se à dinastia Le Pen, mas também a Mélenchon, tão populista, radical e extremista – e perigoso – como o RN à direita. E em 2027, quando Macron não se puder recandidatar, quem vai fazer frente à extrema-direita e à extrema-esquerda? Alguém? Ou teremos a repetição do que aconteceu no Brasil?

Há mais exemplos destes pelo mundo fora.

E por cá, estamos nesse caminho. Se à esquerda os movimentos populistas e radicais já estão “normalizados” e até já fizeram parte de soluções governativas, a direita ainda vai resistindo. Pelo menos na aparência o discurso de Pedro Nuno Santos tem-se vindo a moderar. Não sei se é apenas táctica de curto prazo, se é uma cedência à corrente mais centrista do PS ou se de facto PNS cresceu e esqueceu os devaneios de “jovem turco” que achava que metia as pernas dos alemães a tremer.

O que é importante é que PS e PSD continuem a disputar o centro político moderado, sem ceder às tentações dos extremos. Tal como escrevi na crónica de 31 de Janeiro, “basta” não se esquecerem da sua ideologia.

O risco é um dia termos de escolher entre Mortágua e Ventura.

E com este pensamento aterrador, vou de férias. Voltarei em Setembro.

Boas férias.